Não é segredo que somos snobs, e que gostamos mais de nós do que devíamos. No outro dia, alguém na nossa equipa lembrou-se fazer uma experiência que se veio a tornar numa rubrica chamada Tudo ao Molho, nada de original no panorama internacional dos media de jogos, mas algo de ousado (experimental) quando relativizado ao país de Camões. Há uma pergunta que serve de fio condutor, e a redação responde, um a um – “qual é a vossa banda sonora favorita?”, “com que personagem de um videojogo casavam?”, “qual é o pior boss que já enfrentaram?”. Na Enhanced Edition não há pergunta, não há afirmação: só há uma palavra; e a palavra desta edição é:

RACISMO

Uns dias depois de publicarmos o primeiro Tudo Ao Molho, começaram a sugir clones da rubrica. Criámos mais uma moda.
Por um lado, isso deixa-nos felizes, só alimenta mais o nosso complexo de Passos Coelho; por outro, queremos que tentem copiar-nos e que não consigam. A solução: criar uma rubrica decalcável mas impossível de replicar.

Juntámo-nos para falar da Gamescom, fiz esse pitch à equipa, gostámos, trouxemos bebida para a mesa, fui buscar uns copos e disse:

RACISMO

O Enhanced Edition só funciona ao vivo. O Enhanced Edition só funciona com álcool.
Todos os meses, juntamo-nos e fazemos um brainstorm curto. Falamos primeiro, escrevemos depois.
Simples. Curto. Puro. Bruto. Só participa quem aparecer.

11791704_1039705569382291_759060649_n

RACISMO

João Machado:

[Assim à pressão, do que me consigo lembrar, penso que] o jogo mais racista que joguei na minha vida foi Double Dragon 2. Billy Lee e Jimmy Lee. Mestres de artes marciais, gémeos, nome oriental, e são os dois caucasianos e um é loiro.

doubledragon-gal-gameduos

Ricardo Correia:

[Assim à pressão diria que] o jogo mais racista de todos os tempos é mesmo o pai-de-todos os jogos, o Xadrez. São sempre as peças brancas a começar. Relembra-me o Apartheid.

Alexa Ramires:

[jogos racistas…pergunta interessante…. e muito na moda….a verdade é que:]

Não Faço a mais pequena ideia!!!! Até porque, quando jogo algo, não me interessa se é racista, violento, contra mulheres, homens, etc etc etc. Interessa-me a história e a experiência que me vai dar. Afinal – é so um jogo!!!

Miguel Nogueira:

Racismo a sério, com todas as letras – e do qual ninguém fala – é a saga de jogos Wolfenstein.

Miguel Nogueira [pega no lápis e entra em modo Super Saiyan]:

Já perdi a conta ao número de títulos em que passamos o jogo todo a matar Alemães. Após uma grande ajuda em dar-nos dinheiro durante duas décadas para construirmos auto-estradas e a levarem-nos, para nos pouparem do trabalho árduo, a agricultura, as pescas e as indústrias; depois de nos emprestarem gentilmente dinheiro porque nós já não o tínhamos (já que não temos produção própria e temos que comprar fora a eles) a taxas tão baixas como 3% e apenas dando em troca o empobrecimento da população nos próximos 20 anos; depois de terem parado de correr a partir dos 4-0 no Mundial; depois de tudo isto é esta a forma como os tratamos? A matar representantes deste digno e cumpridor de dívidas? Mais do que Racismo: Indecência!
Roberto Gil [sem pressão]:

A tecnologia de reconhecimento facial do NBA 2K15.

Isaque Sanches:

O Kinect só funciona com pessoas brancas.

Leonel Ferreira:

[Nem preciso de pensar duas vezes] – Resident Evil 4.

Bernardo Lopo:

Epá, não faço a menor ideia.

Ricardo Correia:

[O que é que faltaria para o Xadrez ser] mais racista? As peças pretas terem de se deitar para o chão para as brancas passarem por cima. Ou ao invés de serem “comidas” no tabuleiro levavam chibatadas agarradas ao poste.

Leonel Ferreira [pensa duas vezes, risca “Resident Evil 4”]:

Resident Evil 5.

E assim termina o Tudo ao Molho: Enhanced Edition deste mês. O que é que acharam? Concordam? Discordam? Não interessa. Sugiram-nos palavras para Agosto. O leitor que nos enviar a palavra mais interessante será mencionado no artigo.