Pois é, cá estou em mais um dos meus desabafos escritos, e vou focar-me em algo que talvez os mais puritanos achem um sacrilégio, que é jogos de smartphone, um em específico, mas pode aplicar-se a milhares deles, ou mais. Vou falar do flagelo que é Transformers Battle Tactics. Ou melhor, o flagelo em si é dos jogos mobile, dos sistemas free-to-play, e deles serem o que eu me vejo obrigado a chamar não-jogos. Porque é que isto existe? Porque têm tanto sucesso? Porque estou a escrever isto depois de fazer umas rondas no TBT se eu não considero aquilo um jogo, mas vou lá várias vezes por dia?

TBT 1

Mas… mas… mas… tem TRANSFORMERS!

 

Bom, vamos por partes que é mais fácil… Eu não tenho jogos no telefone sem ser esse, e mesmo esse só há cerca de uma semana, e só porque tem Transformers, se não tivesse nem lhe tocava. E foi assim como todos os poucos jogos mobile que tive, estavam relacionados com algo que sou fã, Doctor Who por exemplo, numa coisa com bolas e criaturas e uma espécie de história para não parecer parvo demais. Eu insultar algo ligado ao Doctor é quase blasfémia para mim, portanto podem ver a gravidade da situação. Ou o Injustice numa espécie de jogo de luta em que não se luta mesmo.

O que é Transformers Battle Tactics? É o “excitante jogo estratégia por turnos onde os jogadores coleccionam e criam equipas de icónicos personagens Transformers e lutam em experiências de combate estratégico com outros fãs em tempo real”, esta é a descrição do jogo no site da DeNA, e lendo isso até parece ser um jogo porreiro, mas não é. Porque não é um jogo, não tem combate estratégico sem ser: o que tem valores maiores nos personagens ganha o jogo, às vezes. Passo a explicar da maneira mais simples possível. Em TBT nós controlamos uma equipa de 4 Transformers, e somos lançados em combates contra jogadores ou contra o sistema do jogo. E apesar de dizerem que é um jogo de estratégia não é. Nós não podemos escolher ataques, eles são sorteados num rolar de dados virtual, nós não podemos escolher o adversário a atacar, porque isso é aleatório também, a não ser que usemos uma habilidade (podemos usar 3 de 4 por ronda) para focar todos os ataques num só adversário, mas isso pode ser contrariado com outra habilidade. Igualmente, se o Transformer for derrotado antes do último ataque, os outros serão aleatórios.

Ou seja, este “jogo” no fundo tem tanta estratégia como uma slot machine num casino, e nesse perspectiva sim, é um jogo. Um jogo de azar.

TBT 2

Mas… mas… mas… Eles são Chibis!

 

Há uns tempos eu escrevi aqui um texto acerca de DLC’s e outras porcarias que me irritam, e hoje estou a focar noutro cancro da indústria. O Pay-to-Win!

A indústria mudou, não há nada a fazer, é como tudo na vida, que muda, às vezes para melhor outras para pior. Um dos meus primeiros carros, a minha Renault 4L, feito nos anos 80 era um autêntico tanque de guerra. Aquilo aguentava tudo, e uma avaria no meio da estrada dava para corrigir com duas cordas, uma beringela e cuspo, até chegar à oficina ao pé de casa. Hoje em dia se um gajo espirra no carro ele pára e só anda depois de ser ligado a 32 máquinas e computadores diferentes. Nos anos 80 e início até meados dos 90, voar não só era um luxo como era confortável, hoje em dia, às vezes tenho mais espaço nos autocarros em pé que num avião. Tudo muda, e sempre pela mesma razão, o lucro. E assim como os DLC’s e outras coisas que já mencionei, os jogos grátis, têm muito pouco de jogo no geral, e ainda menos de grátis porque tudo tem um preço, nem que seja o tempo que se perde neles até desistir. Jogos como League of Legends, Worlds of Warcraft, e outros podem ser considerados excepções, não na totalidade, mas são excepções à mesma porque têm uma componente de jogo propriamente dita, apesar de terem o factor de quem quiser pagar para ser melhor o poder fazer. Eu não gosto disso, sou do tempo em que jogos ‘um contra um’ (não havia muito mais que isso, às vezes dois contra dois) requeriam mestria para derrotar o adversário. Em que para ganhar algo, tínhamos que lutar por isso, chegar ao fim e receber a recompensa, não era só pagar para ser melhor.

TBT 3

Ajoelhem-se perante o grande PAY-TO-WIN-A-TRON!

 

Mas não acaba por ser isso que é o mundo hoje em dia? Onde o dinheiro é rei e as oportunidades não são iguais para quem não tem tanto disponível ou não tem de maneira nenhuma? Será que os jogos se aproximaram assim tanto da realidade que até nisso a copiam?

Obviamente os jogos grátis nunca podem ser grátis, ninguém trabalha de graça portanto eu também não espero que os estúdios lancem os jogos sem pagar a quem trabalhou neles, mas há tantas outras maneiras de os fazer render. Eu prefiro pagar por um jogo que possa aproveitar como deve ser, em pé de igualdade com os meus adversários e literalmente podemos dizer “que ganhe o melhor” do que como acontece às vezes em TBT que assim que vejo o nível de energia e os próprios Transformers do meu adversário sei que ele ou ela gastaram umas largas dezenas de euros ou dólares ou qualquer coisa ali. Não é possível fazer jogos grátis com outras fontes de rendimento e quem quiser pagar para expandir o jogo, paga? Não é para ser melhor, mas ter mais jogo para jogar.

Não sei, sei que gosto de Transformers, e possivelmente vou jogar a isto mais uns dias, e depois… depois vou tirar do meu telefone e voltar a jogar algo a sério numa consola ou no PC.

Quem me faz acreditar num futuro melhor é a minha Nintendo, e em tantos jogos que eles trabalham bem o DLC e mesmo o free-to-play que podem salvar isto tudo, ou pelo menos fazer algo bom.

Agora vou procurar um Soundwave G1 que quero comprar desde miúdo!