Ejaculação precoce. Reformulemos. Ejaculação digital precoce. Esta doença, infelizmente cada vez mais frequente entre os internautas, manifestou-se em força quando surgiram os primeiros trailers e as imagens da nova guitarra de Guitar Hero Live. A intensidade deste desdém quase tornado ódio foi tal que até eu quase me deixei contagiar.

Se existe algo que aprendi nestes quase quatro anos de Rubber Chicken foi deixar de ter opiniões extremas ou demasiadas expectativas perante um jogo, mesmo que seja uma série que eu adoro. Se estiver aos gritos porque Last Guardian voltou a ser anunciado, mesmo sem certezas que desta vez vá existir; se manifestar vontade de pré-reservar a maior edição de Fallout 4; ou se usar Call of Duty ou FIFA como o boneco de dar porrada favorito, estou a falhar como jornalista. A minha função é analisar friamente os anúncios, ver os trailers com olhos de ver, e jogar os jogos com mentalidade aberta. Só assim poderei ser confiável para com quem me lê.

No entanto, quase me deixava levar com as críticas ao novo Guitar Hero Live. Só três pistas para notas; um controlador que parecia uma versão simplificada do anterior; abandono dos personagens; e uma visão na primeira pessoa. Mas assim que há uns dias coloquei a guitarra ao peito e experimentei a nova edição do jogo no stand da Activision na Gamescom, o meu primeiro pensamento foi: não sabes nada Jon Snow. Ou neste caso, não sabes nada internet.

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Este foi o meu primeiro pensamento, porque o segundo pensamento foi: como é que eu já não sei jogar este jogo? Ao contrário do que a maioria pensou, o novo controlador conduz a uma maior complexidade e não a uma simplificação. A nova guitarra – que tem menos aspecto de plástico do que as anteriores – possui duas filas cada uma com três botões, paralelas uma à outra. Os seis botões não sobressaem da guitarra, mas estão sim embutidos na face do braço e afundam-se no mesmo quando premidos. A diferença entre as duas filas: a fila de cima serve para tocar notas que aparecem viradas para baixo na timeline da música, e a fila de baixo serve para o inverso.

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Só que muitas vezes o jogo vai pedir-nos combinações de ambas ou mesmo travessões que atravessam as duas “notas”. Nos maiores níveis de dificuldade isto significa que muitas vezes estamos a fazer algo similar a acordes reais, com travessão somado a três outros botões diferentes. Em modo normal demorei quatro músicas a apanhar o jeito do novo controlador. Porém, quando consegui, o feedback que a guitarra me provocou ultrapassou qualquer momento que tive com as edições anteriores de Guitar Hero.

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A vista na primeira pessoa para com a banda e o público – algo que quando assisti ao trailer deixou-me muito desconfiado quanto ao resultado final – mostrou-se ser um inteligente modo de nos colocar realmente na acção. A FreeStyleGames inventou uma tecnologia utilizando gruas automatizadas que consegue que a transição entre um público que está ou não a vibrar com a nossa apresentação, e com uma banda que puxa por nós ou se surpreende com a nossa incapacidade para tocar, seja algo que nos coloca muito mais imersos no jogo do que os antigos personagens com que jogávamos. Quando eu estava a falhar notas e o público estava apenas a olhar para mim com o ar mais aborrecido de sempre, o meu sentimento foi de falhanço real.

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O jogo inclui ainda um modo que permite tocar por cima dos videoclips originais das faixas, e que é talvez a parte mais fraca do jogo.

Guitar Hero Live é provavelmente um dos melhores jogos da Gamescom 2015 (para mim é mesmo o melhor jogo da feira) e uma enorme surpresa para quem como eu se estava a deixar levar pela tentação da crítica fácil e desinformada. Mas é muito mais que isto. Guitar Hero Live é o melhor Guitar Hero de sempre e a FreeStyleGames conseguiu algo muito maior do que simplesmente lançar uma nova versão: reinventaram o jogo para melhor.

Em breve iremos também publicar uma entrevista que fizemos à FreeStyleGames sobre as escolhas para este reboot da série e sobre as tecnologias usadas no jogo.