Dia normal na minha vida. Acordo às três da tarde depois de uma noitada a jogar o que me dá gozo para jogar o que sou obrigado. É o que dá ser explorado. Bem, noutra altura tal acontecia <senhor editor: por favor, verifique se é propício revelar esta verdade>, hoje, website que tem dinheiro para pagar viagem, estadia e alimentação a oito galinhas de PVC, tem também dinheiro para me pagar uma boa quantia ao artigo e ainda pagar-me umas férias no meu festival de verão mediante a condição de escrever um artigo no recinto, de costas para o palco.

<Nota do editor: as frases proferidas anteriormente são quase todas mentira. O Rubber Chicken continua a não ter fonte de lucro e cada pessoa que vai a cada evento (seja E3, Gamescom, Tokyo Game Show) vai pelos seus próprios meios, que é como quem diz, paga do seu próprio bolso. Tudo o que a administração do Rubber Chicken providencia são jogos para análise e milho. Mais milho que jogos para ser sincero.>

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Toda esta “pausa” (ou “paleta” se assim desejarem) não se iguala ao status que Courier of the Crypts ganhou por ter um filtro para aracnofóbicos. Quando activado, os aracnídeos presentes durante a história são substituídos por besouros. Dei com ele assim que iniciei o jogo e executei o primeiro ponto do meu procedimento de análise de jogos, abrir as opções. Sinto que poderia escrever um artigo apenas só sobre este pequeno detalhe, que não é mais que o reflexo da indústria dos videojogos desde o primeiro dia: Corresponder às expectativas tentando lidar com problemas graves e complicações da nossa actualidade. Qualquer ser não demente percebe facilmente que algo de muito estranho se tem de passar para a existência de tal insecto com oito patas, peludo e com muitos olhos. Bicho do demónio digo eu, enquanto o terror induzido no meu cérebro se faz esmagar pela ideia de não ter lidar com insectos deste calibre em Courier of the Crypts. Não é que seja preocupante, estamos a falar de bichos cujo sprite não ocupa mais que (aproximadamente) quatro por seis pixels (portanto, vinte e quatro), parecendo bem mais inofensivos. Mas a opção é fixe.

Arachno

A arte deste jogo é definitivamente charmosa e competentemente elaborada. No entanto, não são óbvias as formas dos objectos devido a alguma falta de profundidade e mais que uma vez não sabia por onde ir pois esse caminho parecia uma parede. Tudo isto não são erros graves (porque também estão subjacentes à sensibilidade e percepção de cada um, até do ecrã em que nos encontramos a jogar) mas certamente irritantes. Porém, não são frequentes. A música e efeitos sonoros estão extremamente bem construídos e é certamente um ponto fulcral para a construção do ambiente e reafirmação do setting.

O jogo consiste num encadeamento linear (de um para um, sem bifurcações) de níveis, onde o objectivo de cada nível é chegar de ponto A a ponto B, tendo para isso de resolver toda a espécie de puzzles e encontrar chaves. Apenas dispomos de uma tocha para ver e, mais importante que isso, nos mantermos vivos pois assim que a tocha se apaga, somos devorados por fantasmas. Não é péssimo, podiam ser aranhas.

Courier Of the Crypts2

Até aqui tudo parece divertido (e é), no entanto, o jogo não conta com qualquer tipo de progressão. A personagem é a mesma, os items são os mesmos e os stats sempre iguais, o que faz com que o jogo se torne repetitivo com muita, muita facilidade.

A história também não é propriamente incrível, apresenta-se simples e a eterna quest para arranjar a lâmpada da cozinha em Malcolm in the Middle, algo que encontramos nos jogos de vídeo desde o início dos tempos. Não é mau, não é bom, para mim é apenas um passo em frente para a banalização de um jogo.

Todas as quests em todos os jogos Zelda.

Diverti-me imenso com Courier of the Crypts, mas depois de o largar pela primeira vez (onde a primeira vez foram duas horas de jogo sem pausas antes do almoço) poucos motivos me fizeram querer voltar a pegar-lhe. O jogo, apesar de disponível para qualquer pessoa comprar e começar a jogar hoje, está em early access e o único developer do jogo está a fazê-lo em part-time, contando com a nossa ajuda para submeter sugestões e apontar bugs. Como nota final, acho Courier of the Crypts um jogo interessante e com potencial e talvez por isso ainda precise de mais uns tempos a amadurecer. Mas promete imenso!