Uma das primeiras conversas que tive com o meu melhor amigo quando o conheci foi, invariavelmente, sobre o jogos. A década de 1990 tinha terminado há pouco tempo, e ainda andávamos todos inebriados pela euforia pós-Y2K, e por termos passado a década inteira a jogar jogos as aventuras gráficas tiveram de tornar-se assunto. Numa dessas primeiras conversas que tivemos um café da Gare do Oriente falámos daquela febre que tinha passado há pouco tempo (à época) que eram os jogos FMV. O terrível X-Files, Frankenstein: Through the Eyes of the Monster (que nem o Tim Curry salvou) e é claro, o Phantasmagoria, que ele tinha (e ainda tem) bem guardado no quarto naquelas caixas vintage de PC CD-Rom que mais relembram a Enciclopédia da História da Humanidade. Compreende-se o furor com o género: a passagem das velhas disquetes para um media com maior capacidade permitiu a que muitos estúdios fizessem uma série de jogos em FMV que nos aborreceram mais do que entretiveram.

Cerca de vinte anos passaram desde essa febre dos filmes-que-pensavam-que-eram-jogos. Mas recentemente recebi para análise o primeiro episódio de um jogo em FMV que foi anteriormente lançado para iOS mas que só agora chegou ao PC. Falo de Missing – an Interactive Thriller do estúdio Zandel Media. Admito que rolei os olhos a pensar “mais jogos em FMV não, por favor”. Mas depois dos curtos quarenta minutos que duram este Missing penso que poderei estar no caminho da redenção com o género.

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Quando começamos o jogo as palavras “Play with Me” escritas na parede colocam logo uns grandes sinais de néon a lembrar-nos que narrativamente este Missing tem muito de Saw, a série de filmes de terror. Também aqui começamos presos num dispositivo bem menos complexo do que aquele que aparece nos filmes, mas são mesmo as palavras “Play with Me” que nos demonstram que estamos num jogo sádico, com pequenas informações sobre a nossa mulher e filhos.

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Missing – an Interactive Thriller, pode tornar-se o meu reencontro com os jogos FMV pela forma descomprometida como está filmado e realizado. Se não fosse um jogo, Missing poderia facilmente ser um thriller indie que poderíamos assistir no MoteLX ou outro festival independente do género. É possível que o facto de que tudo está filmado com pessoas e sem o uso de CGI seja o segredo para a boa integração das interacções com o “filme”. Tudo parece (e é) mais real, melhor integrado, e mais eficaz em contraponto com que os anos 1990 nos trouxeram em termos de jogos FMV.

Fica a ansiedade para conhecer o resto da história, de perceber afinal o que é que se está a passar com o nosso protagonista e o porquê do seu rapto e da sua família. Ainda sem data prevista para a adaptação do resto da história (que já foi publicada na íntegra em mobile), resta-nos a certeza que apesar de estar a ser desenvolvido por um estúdio indie, esta é uma forma de qualidade de fazer jogos em FMV.

E se tiverem dúvidas lembrem-se do Plumbers Don’t Wear Ties.