Há jogos que procuram revolucionar e ser os melhores em tudo. Quando procuram com muita força normalmente os resultados são satisfatórios, mas em pouco conseguem surpreender e são rapidamente esquecidos. Blackhole tenta ser tudo ao mesmo tempo, fazendo que no final aparente ser uma compilação de conquistas pessoais de indivíduos distintos, uma caderneta de cromos que conta uma história sofisticada.
Blackhole conta com uma introdução demasiado comprida para se passar num só sítio. Já vi teatros com mais mudanças de acto em menos tempo. Além disto, várias vão ser as vezes em que vão varrer todo o ecrã à procura de quem está a falar naquele momento pois a única coisa que torna isso claro é a boca das personagens a mexer, personagens que têm o tamanho de um polegar quando visto num ecrã de dezassete polegadas. Tudo se faz sentir desadequado. São más decisões de gamedesign a partir do momento em que se carrega New Game por não haver um consenso sobre o que é que Blackhole está a tentar ser.
Para reforçar a falta de autenticidade que referi temos GLaDOS, perdão, Auriel. O humor desta personagem que se apresenta como uma assistente programada informaticamente é o mesmo que o presente no amado jogo dos portais, ao nível de determinadas piadas usadas em Blackhole poderem estar em Portal e vice-versa. Fez foi conhecido por brincar com noções de perspectiva para resolver puzzles e da mesma forma este 2D-Platformer se faz sentir sempre que mudamos a direcção e sentido da gravidade, acompanhada pela respectiva rotação do ecrã. Os controlos são precisos, mas as manobras necessárias são muitas vezes deixadas à responsabilidade da sorte e saltos de fé, tornando bastante complicada a tarefa de coleccionar um número finito (desde duas, quatro e às vezes mais) de esferas de selfburns (combustível para a nave que queremos reparar… cliché) em vários níveis pequenos, encadeados sequencialmente por um overworld bastante belo.
Tal como o overworld, todo o aspecto do jogo é bastante belo e conta com uma direcção artística muito de meu agrado. Os cenários são detalhados e bem conseguidos e o mesmo se pode dizer da banda sonora. No entanto, ambos bastante distantes de serem únicos.
A plot do jogo é simples: Numa missão para fechar o décimo sexto buraco negro, a nave e respectiva tripulação acabam por ser sugados pelo mesmo, despenhando-se a nave e desaparecendo a tripulação. Resta ao jogador, o rapaz que tira cafés, encontrar as peças necessárias para reparar a nave, encontrar os restantes camaradas e perceber o que aconteceu entre o instante em que a nave perdeu o controlo e se despenhou, pois nem tu nem GLaDOS têm ideia. !. Auriel!
Aquilo que senti do que joguei de Blackhole é exactamente o mesmo que sinto por diversos jogos hoje em dia. Motivados por marcos na história dos videojogos e com a ambição de entregar o melhor em todas as frentes, acabam por não se tornar uma obra coerente ou homogénea. Pode ser um bom jogo. Pode estar bem feito e pode até ser divertido. Mas garanto que para o ano, ninguém se lembra dele. E a ideia de que há tantos outros jogos incríveis para jogar fez-me pousar este e todos os outros jogos com esta peculiaridade. Desculpem.