Fomos todos contagiados pelo entusiasmo da Alexa em torno do Until Dawn. Ela, que é de longe a nossa especialista em matérias de horror colocou-nos a todos este repto:

Qual o momento que nos fez soltar uma pinga de medo num videojogo?

Bernardo Lopo

Uma ligeira modificação à pergunta da semana e a minha resposta seria, sem pestanejar, todos os momentos que vou a casa de amigos meus e me apercebo da forma como esses amigos cuidam dos seus jogos. Um grande arrepio se alastra sobre mim quando vejo discos em cima de móveis a coleccionar pó e a porem-se a jeito para riscos.

Fora tudo isto, o momento que mais medo me proporcionou é na realidade um jogo inteiro que é Oddworld’s Abe’s Odysee. O meu aspecto petiz caracterizado pelos meus poucos anos de vida justificava o meu horror por tudo, pelas personagens, pelo ambiente, efeitos sonoros, tudo. E partilho também que Mortal Kombat me fez sempre imenso nojo.

 

Maria João Marques

Bernardo, era por causa do Goro, não era?

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Eu sou maricas (nos dois significados da palavra ahahahah). Por isso mesmo não costumo jogar o horror genre, mas gosto muito de ver o meu irmão a jogar esses títulos… para mim funciona como se estivesse a ver um filme de terror, basicamente. Posto isto, lembro-me do primeiro susto que apanhei, com um videojogo, como se fosse ontem: devia ter aí uns 12 anos e andava divertidíssima a jogar o Resident Evil 3 na minha Dreamcast (sim, uma Dreamcast. #oldschoolshit) quando, out of nowhere, aparece pela primeira vez o Nemesis! Lembram-se dessa cena? Estamos à porta da Polícia e o gajo aparece caído do céu (qual Lúcifer disfarçado) e mata o Brad, soltando o seu típico “STARS” a seguir. Creepy! fora todas as outras vezes em que ele aparece, e adivinhem? Fugi sempre.#chicken

Também me recordo vagamente de ficar com um eerie feeling cada vez que aparecia a Catwoman no Batman Returns. Uma criança a jogar na sua Master System e de repente ouvias o som de um chicote! tsc tsc… até saltava.

 

João Machado

A questão aqui é que tipo de medo? Sustos ou medo a sério? O chamado jump scare ou aquela sensação constante de incómodo?

Jump scares já tive vários. Dos mais memoráveis foi no Resident Evil na Sega Saturn quando entra um cão pela janela. Hoje em dia
já estamos preparados e não havia problema. Naquela altura nem por isso.


Uma situação para o medo constante é no Resident Evil 4. O início do jogo está brilhante, quando nos deixam na estrada e começamos a andar. É um bosque, aberto mas onde tudo desde a paisagem aos sons é claustrofóbico. E quando somos atacados por pessoas, não zombies ou monstros mas pessoas adiciona ao medo.

Por último, era 1998, Abril, chovia e estava escuro… Jogava Resident às 3h da manhã, não se ouvia nada a não ser os poucos sons do jogo.

Uma porta abre de repente:

“Não devias estar a dormir? Amanhã tens aulas!”

Era a minha mãe… Pregou-me um susto que quase tive um ataque cardíaco.

 

Maria João Marques: Resident Evil, a assustar miúdos e graúdos desde 1996.

João Machado: Para mim só o original e o 4. E o remake do original na GameCube. Os outros, mesmo o Code Veronica na Dreamcast são… Meh… Em factor medo.

 

Alexa Ramires

Maria Joãonot me : ) Resident is for wussies. Just try Fatal Frame, Forbidden Siren or Silent Hill 2…… now THAT is scary.

Medo é provavelmente a emoção que mais me fascina. Adoro sentir medo em filmes, livros e videojogos. Adoro a sensação de lutar contra o que me assusta. Sou viciada na sensação de vencer o “Demónio”. Mas um momento na minha odisseia de videojogos fez-me pensar: Fuck this shit – HELL NO!!! Project Zero (ou Fatal Frame) 1 – a protagonista dobra uma esquina, a câmara treme e um fantasma em forma de mulher…cega….com os olhos que escorrem sangue….tenta agarrar-me, num misto de pedido de ajuda, ódio e desespero, e grita: My Eyes…i cant see. Nesse momento, a Alexa, destemida mulher que sempre conheci, pousou o comando da sua consola, desligou a TV e disse: Eu jogo isto amanhã, quando o Sol, trazendo o conforto da luz, raiar no Horizonte, Por hoje, estou “cansada”.

 

Miguel Tomar Nogueira

Influenciado pelo discorrer poético do Machado no AC:

Juro, prometo, asseguro, certifico: eu não desejo mal a crianças. Adoro as crianças, o seu riso, a sua espontaneidade, a forma como descobrem o mundo. Não desejo mal às crianças. Garanto, atesto, testifico e confirmo. Excepto àquela grandessíssima p***! Àquela vaca que não merece amor! Badalhoca!
Eu não quero saber que a rapariga foi presa, induzida em coma e transformada em rato de laboratório. Não deixa de ser uma safardana, uma peida-gadoxa e um caga-tacos que não merece o meu sobressalto.
Está um gajo descontraído a jogar, ainda por cima um shooter com uma das melhores inteligências artificiais de sempre e lá aparece a besta quadrada no corredor com o vestido de hospital e o cabelo na cara, e eu lá me chego para trás e grito: P*** que pariu a miúda, c******, f***-se, enquanto se me arrepia a espinha toda. Pernas de alicate da m****!

 

Isaque Sanches

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Fora de brincadeiras, o melhor jogo de terror que conheço e, não por coincidência, o jogo que me assustou melhor e mais eficientemente até hoje, saiu há pouco tempo, e chama-se Outlast. Um psicopata corta-me os dedos da mão; estive e continuarei a estar o jogo todo a ver essa mão, seja a abrir portas, seja a tocar paredes, seja a segurar na camera de filmar (que tem nightvision) – depois soltam-me esse maluco num labirinto de salas cheias de camas, que anda atrás de mim e segura uma tesoura gigante; a mesma que usou para me cortar os dedos.
Dizer “melhor” e “mais eficientemente” não significa, no entanto, que Outlast seja o jogo de terror que me tenha marcado mais na vida. Eu, num verão de estudante qualquer, decidi que ia passar a Doom 3 sozinho, às escuras, todas as noites às tantas da manhã, vários dias seguidos, do início ao fim, demorasse o que demorasse, custasse o que custasse. Lembro-me perfeitamente que no mês seguinte, bastava que caísse uma colher ao chão, ou que uma porta fechasse com corrente de ar, para eu dar um berro e talvez encolher-me. O dito cujo pior momento, para mim, de Doom 3, do qual ainda me lembro vividamente, foi uma sala bem iluminada que se encheu de inimigos, que de repente ficou sem luz nenhuma, e que continuou a encher-se de inimigos, na qual só conseguia ver vultos com os flashes dos meus disparos, que me rodeavam 360º e estavam a pouco mais de um passo de mim. Uma multidão pronta para me matar, a matar-me, um ecrã preto, splashes de vermelho no ecrã, o meu coração nas mãos; eu sozinho, às escuras, aos berros, às 4h da manhã.
Um momento que ainda hoje me acompanha em memória e que resolve aparecer em certos pesadelos.

 

Roberto Gil

Nunca joguei muito horror ou terror, um dos poucos títulos que me lembro é a saga Dead Space, que me divertiu, mas não assustou assim tanto. O primeiro legítimo salto que dei, por causa de um jogo, foi, creio, no inócuo Tomb Raider 1 para a Sega Saturn, que um amigo me emprestou para as férias. Primeiro o ambiente: eu jogava, no meu quarto, no sótão, normalmente, pela noite dentro, completamente às escuras, acompanhado por Manowar e Iron Maiden, as bandas de eleição na altura. Se a memória não me falha, foi na primeira vez em que um dos dinossauros aparece do nada e dá a correr atrás de nós. Eu, simplesmente, não estava preparado para aquilo.

Contudo, e isto vai soar estranho, mas a personagem mais assustadora dos videojogos é o Blitzcrank, sobretudo, quando no inícios do LoL era o único personagem com um displacement tão forte. A pita do F.E.A.R. conseguia ser bastante hardcore também, aí concordo com o Miguel, mas bastava a presença de um Blitz para se jogar in fear. Ser, inadvertidamente, puxado para dentro de um arbusto onde estão cinco inimigos à espera para nos fazer coisas más é só um bónus.

 

Ricardo Santos

O jogo que mais me assustou foi sem dúvida nenhuma Alan Wake. Porquê? Bem eu sou um “cagufas” no que toca a jogos. Gosto de filmes de terror, alguns dos meus filmes favoritos são de terror, mas só porque tenho o distanciamento necessário para o apreciar. Agora Alan Wake foi o primeiro jogo que joguei no meu computador, sem ninguém ao meu lado – até então tinha jogado mais jogos de consolas com amigos ou com a minha irmã – e ainda por cima com headphones. Acho que aguentei 3 horas no total. Não foi uma boa experiência de todo. E se eu visse aquilo que joguei em formato de filme não consideraria um filme de terror, mas a partir disto nunca mais peguei num jogo que fosse de tons demasiados escuros.

 

Frederico Lira

Eu não tenho medo de baratas, e quando vejo uma, prefiro atirá-la para o quintal ou para a estrada ao contrário de matá-la. Podem achar que são nojentas, também acho, mas são seres como todos os outros e merecem viver como todos os outros. O mesmo diria para Donald Trump, Kim Jong-Un ou Paulo Portas, se não fossem aqueles cortes de cabelo. Mas quando vejo uma barata mutante em Fallout 3, sempre que possível, passo 20 metros ao lado. Essas são a coisa mais asquerosa que existe no mundo dos videojogos. Podem pensar “olha este mariquinhas”, mas explico: quando exploro os escombros dos interiores das casas ou fábricas, em ambientes sinistros, o estado de alerta é constante, e o medo é uma sensação que proporciona esse estado de alerta. Quando essas P**** aparecem do nada e atiram-se às pernas, com aquele som esguichado, fazem-me saltar da cadeira ou a desatar aos tiros pelo ar como numa sessão multiplayer de Call of Duty. E isto:

 

Ricardo Correia

Já aqui várias galinhas falaram do Resident Evil 1, e eu vou ter de o repetir. Eu também sempre fui (e sou) um “cagufas”. Adoro filmes de terror mas tenho dificuldades em vê-los sozinhos. Quando vi o Ju-On 1 e 2 (a versão original e infinitamente melhor que a adaptação fast food americana em The Grudge) tive de pedir à minha mulher para irmos ver Morangos com Açúcar a seguir para ver se ficava menos impressionado. Adoro filmes de terror mas detesto ser assustado e ter medo. Sou um tipo difícil, não sei como consigo coexistir comigo mesmo.

Mas bem, voltando a RE1, que foi sem dúvida um marco para o género e o primeiro jogo de “terror” a sério que joguei. Para além do raio dos cães que sempre que partiam janelas me davam uns valentes jump scares, o momento mais assustador e aquele que guardarei para sempre na memória é a primeira vez que vemos a FMV com um zombie. Ainda a adaptar-nos a todo o ambiente da mansão, subimos as escadas e vamos por um corredor mal-iluminado. Percorremo-lo e chegamos a um pequeno escritório onde alguém está debruçado sobre um cadáver. E aí, já todos sabemos o que acontece: entra um FMV com uma figura que está de costas para nós, e que ao virar-se nos olha sobre o ombro e vemos pela primeira vez um zombie. À época considerei que a coisa era de um realismo impressionante, assustador, aterrador, tanto ou mais que essa imagem ficou para sempre impressa na minha mente. Ora relembrem: