PARTE I
A subida
Que horas são? Odeio domingos. Levo uma mão à cara e esfrego os olhos.
Facebook. Scroll. Scroll. “In This Murder Mystery Video Game, Every Character Is Jimi Hendrix”.
What? Click. Click. Download. Enter.
Pixel art. “The Jimi Hendrix Case”. “What kind of sick, twisted freak would do this?”.
Um cadáver. “So, who’s our Jimi Hendrix?”, pergunta um Jimi Hendrix ao outro. Isto é muito bom. “Any leads to his identity?”. Isto é muito, muito bom.
Um point & click. Falo com um Jimi Hendrix mulher. Ela não quer falar.
Um puzzle. Sigo um rasto de sangue. Ela já quer falar. Estou a ganhar pontos; não sei porquê; os puzzles não são lineares?
O menu ocupa quase metade do ecrã, por motivo nenhum; é quase impossível explorar o cenário com o rato. Experimento as teclas WASD. Bug. Deixo as teclas WASD em paz.
“Let’s review this case, what was the victim’s name?”.
Ok, vamos entrar na morgue. Hum. Não dá. Tenho que falar com alguém primeiro.
Ok, vamos entrar na morgue. Hum. Não dá. É preciso um código.
Ok, vamos fechar o jogo. Alt+F4.
Odeio domingos.
PARTE II
A descida
“I’m not a therapist, but I hope to provide you with a little reflection and perspective“.
Outro jogo; daqueles feitos em Twine. Ecrã de fundo azul. Só texto.
“Usually adult males who are unable to make emotional connections with the women they choose to be intimate with are frozen in time, unable to allow themselves to love for fear that the loved one will abandon them…
Espera aí. O que é isto?
“Do you consider yourself a good person, Isaque?”
“You are Isaque. You don’t consider yourself a good person, and you feel that you have had some advantages in life, and that people sometimes care about your emotions“.
“You are Isaque. You are a good person whose opinions are important and deserve to be acknowledged“.
Tenho tanta pena de quem fez isto.
É preciso estar-se muito mal para se sentir a necessidade de criar um jogo como este. Chegar-se mesmo ao fundo.
“How are you feeling right now, about this conversation we’re having?”
As minhas opções são: “Good”, “Okay”, “Uncomfortable”, “Down”, “Angry or Annoyed”, “Bored”.
A noção aqui de espectro emotivo não é muito completa. Ou equilibrada.
“I have this one friend who’s a journalist. She’s a woman who’s conventionally attractive, a feminist, active on social media. People she doesn’t know often want to talk to her. Some of them are nice about it! Others are not.“
Pois.
Eu já estava a ver que ia ser algo deste género.
“There is something about having emotion stirred in you by a stranger that elicits interesting behavior in people. Regardless of what that emotion was, it feels unpleasant to be just a stranger to a person who made you feel a strong thing“.
O século vinte e um e a era digital não é fácil para ninguém, mas deve ser um habitat especialmente horrível para certos tipos de personalidade.
Lidar-se com o facto que a maioria de sete mil milhões de seres humanos não nos acha especial, que não quer saber de nós, nem nos dá valor. Que somos só mais uma pessoa.
“So you reach out and you send them something, and you try to become Someone to them. Sometimes that effort is just telling them how you felt, but sometimes it’s trying to make them into a friend, sometimes it’s trying to scare them or get a rise out of them, or to get them to love you“.
Que horas são? Facebook. Scroll. Scroll.
PARTE III
Voltar ao trabalho
Scroll.
“$100 Street Fighter Collector’s Edition Bonus Costumes Revealed“.
Scroll.
“Konami Workers Gave Up Vacation Time to Ship MGS5 Early“.
Scroll.
“Minecraft Creator Notch Says His Billions Have Made Him Miserable“.
Click.
“Hanging out in ibiza with a bunch of friends and partying with famous people, and I’ve never felt more isolated“.
Odeio domingos.
Voltar ao trabalho. Antes disso, tive uma ideia para um artigo.
