Toda a gente que já parou para pensar um bocado já se apercebeu que eventualmente tudo o que nós fazemos vai acabar por não ser recordado por ninguém e como tal é um esforço para nada.

Como o infame escritor de um artigo para o site Polygon “nós só carregamos em botões”* e isso nunca foi tão claro como com Fate Tectonics.

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É isto o que fazemos por cá todos os dias

Este é um jogo simples em conceito. Vocês estão a tentar construir um mundo juntamente com um panteão de deuses – que são um tanto ou quanto bitchy – e dependendo do modo de jogo que escolherem ou são obrigados a destruir o mundo de x em x tempo, para depois dos deuses estarem calmos poderem reconstruir a vossa civilização dos restos que ficaram por destruir, ou então simplesmente jogam e jogam e quando se fartarem podem activar o modo de destruição do mundo.

Isto não é nada especialmente novo, mas sem dúvida que é interessante, principalmente a gestão dos nossos deuses. É verdade que não conseguimos escolher o nosso panteão para adaptar o nosso mundo aos deuses, mas o que é interessante é o facto dos deuses ao bom estilo grego terem ego.

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Tudo começa com um pequeno mundo com três deusas

Estes deuses têm inveja uns dos outros, por isso imaginemos que eu quero fazer um mar gigantesco para mais tarde criar um segundo continente, o deus dos mares e da água ficará contente com toda a terra que lhe dei para ele controlar, porque isto mostra como ele é apreciado e isso faz dele um deus contente. Agora os outros dois, a deusa da civilização e o deus das florestas, esses vão-me ficar com medo que eu não goste deles. E já Yoda dizia “Fear leads to anger. Anger leads to hate. Hate leads to suffering” e toda a gentes sabe onde é que isso vai parar.

Vai parar num mundo destuído por deuses e mais meia hora só para voltarmos ao ponto onde estavamos anteriormente, e se estiverem a jogar com o countdown para a destruição do mundo, aí é que estão tramados e vão ter de começar do zero.

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Eu não sei quem é que se lembrou deste deus para o jogo, mas eu gosto dessa pessoa

Mas o nosso panteão não tem apenas três deuses, tem seis. Temos então a deusa da civilização, que nos dá a possibilidade de criar terra, vida humana e embarcações; o peixe-deus do mar – que evidentemente tem barba, ou o equivalente para um peixe – que nos dá água, a possibilidade de transformar outros quadrados em água e podermos criar montanhas; o alce/hipopótamo com chifres. que é o deus da floresta e dá-nos o poder de fazer grandes florestas, transformar estas florestas em florestas encantadas ou transformar terra normal em florestas; o gato-deus protector do mundo – não estou a gozar, esse é o nome dele – que nos dá as ferramentas para mantermos um mundo gigantesco unido, sem se desmanchar ao mais pequeno terramoto.

E a partir daqui temos deuses que não fazem nada activamente, mas sim de forma passiva. O deus mosca da destruição não gosta nada quando nós fazemos algo de produtivo, por isso quando eu uso um dos poderes que já descrevi este deus fica um pouco chateado, até que fica muito muito chateado e traz fome e seca a parte da nossa terra. A deusa urso polar – cujo nome é Aurora – não faz nada para além de trazer frio à sua volta, congelando água, florestas e vilas pelo caminho mas com o frio trás também aurora boreais para o lado oposto do nosso mundo. Por fim temos o deus que é mais provável destruir o vosso mundo, o deus dinossauro da magia, que entra no vosso mundo com uma chuva de meteoros! O que é que ele faz? Óptima pergunta, eu só notei uma diferença nas horas de joguei com ele, e foi o facto de algumas das montanhas se tornarem em vulcões, vulcões bons que não fazem muitos problemas porque não destroem nada, só mudam as montanhas para florestas.

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Ice Age 529 – O regresso dos deuses antigos

Para além disso há só mais três deuses, deuses que fazem algo que eu já descrevi, mas que é importante falar sobre eles porque têm mecânicas interessantes. Começemos pelo mais chato, o deus da serenidade, o deus que vocês escolhem quando querem um jogo só para construir, este deus inicia o modo de jogo em que não há countdowwn nenhum para destruição.

Mas por outro lado, se escolherem o outro modo vocês desbloqueiam duas deusas, duas irmãs, e uma do julgamento e outra dos factos. E estas deusas têm a dinâmica mais interessante deste jogo, porque enquanto o countdown está a correr a deusa do julgamento está a dormir, acordando quando o contador chega ao zero. A irmã dá-lhe os factos do que aconteceu e ou a destruição começa ou ela volta a dormir. Que factos é que elas partilham? Bem se nós, o jogador, estamos a fazer um trabalho bom o suficiente ou não. Se construirmos um bom mundo e mantivermos os deuses contentes não há destruição para já, aliás, perante esta mecânica é possível nunca haver destruição.

E Fate Tectonics é isso, o jogo é tão simples como criar um mundo e manter os deuses calmos para não destruírem aquilo que vocês criaram. Simples e eficaz.

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Outro problema que tive, mas esta imagem é de outro utilizador na Steam

Até o jogo ‘crashar’. e voltar a ‘crashar’, vezes e vezes sem conta. Até que tive de desinstalar e apagar o save-file para conseguir voltar a jogar. Mas acho que isto mostra algo importante no mythos do jogo.

Mostra que de facto não interessa aquilo que nós fazemos. Bem que podemos tentar manter os deuses felizes e o nosso mundo estável, mas nem os deuses interessam. Tudo vai acabar. Seja com um crash do jogo ou numa das outras maneiras que ameaçam o fim do nosso Universo. Por isso aproveitem enquanto cá estão para jogar.

O bom: Bom estilo visual; Gameplay sólido; Leque de deuses originais e interessantes; Não é cansativo nem repetitivo.

O mau: Pode levar a crises existenciais.

Em suma, Fate Tectonics é um jogo muito bom, que nos apresenta um panteão de deuses originais e que conseguem ser interessantes à mesma. Não precisa de meter uma mitologia já estabelecida para manter o jogador investido e só isso é uma vitória, mas ainda mete um bom estilo visual a boas mecânicas de jogo, o que é que se pode pedir mais? Não nos fazer pensar no final inevitável do Universo era bom, mas não se pode ter tudo não é verdade?

Fate Tectonics está disponível para PC.

*C. Colin in “Rock Band 4 is doing a lot of the fun things you want it to do”, http://www.polygon.com/2015/6/1/8687867/rock-band-4-preview