A Caçada retoma, depois de 3 meses de interregno, causados pelos eventos que nos roubaram a atenção, a E3 e a Gamescom. Mas regressámos em força, com o faro bem apurado para caças esses jogos que ainda por aí à solta, como animais selvagens desconhecidos e que necessitam de ser identificados. Só é pena que a National Geographic tenha sido comprada pela 21st Century Fox…

E sem mais delongas, esta semana, a do retorno das caçadas indígenas, vamos mergulhar em jogos de gestão. Vamos beijar o defunto logótipo do Banco Espírito Santo, chamar o motorista e viver a vida do meu homónimo Ricardo Salgado por um dia.

Rockfest

Sou um festivaleiro, ainda que não um festivaleiro comum. Após mais de 15 anos de concertos é que fui pela primeira vez a um festival dito generalista, e foi o Alive, este ano. Experiência sociológica interessante, mas quem me tira um bom festival de metal ou gótico tira-me tudo. Mas voltando ao que nos traz aqui hoje, que infelizmente não é cerveja fresca mas é um jogo gratuito para iOS: Rockfest.

Este pequeno e simpático jogo foi-me apresentado pela Headup Games durante a Gamescom e instantaneamente colocou-me as orelhas a postos. É que juntar uma espécie de Tycoon com um festival de música é coisa para agradar o melhor de dois mundos em mim, e só não soltei um gritinho adolescente de entusiasmo porque não queria passar vergonhas.

Immortal_live_@_Hole_in_the_Sky

Das coisas típicas que um jogo do género free-to-play para mobile faz e que me irrita (tais como usar gemas compradas com dinheiro real, ter construções e upgrades que demoram horas, etc. etc.) há um pormenor que o distingue de qualquer outro jogo: uma espécie de bolsa de valores de bandas. O jogo permite o upload de músicas originais de bandas/artistas que queiram contribuir para o catálogo musical de Rockfest. Quanto mais vezes essas bandas/faixas forem usadas nos festivais que cada um de nós cria, mais caros são os honorários da bandas, mas também maior é o retorno do público. E contendo bandas de vários estilos ,cada um poderá estar a trabalhar num festival que lhe seja mais próximo. O meu chama-se Hellfeast, e é um festival de nível treze onde todas as necessidades dos visitantes estão totalmente acauteladas e onde ninguém se queixa de falta de higiene nas retretes nem zaragatas pelo recinto. Metaleiros sim, mas com nível. Tal e qual como na vida real.

Gostava que despissem Rockfest de todos os subterfúgios que detesto do mercado mobile e o transformassem num verdadeiro Tycoon para PC. Sonhos…

 

Industry Giants 2

Lançado originalmente em 2002, Industry Giant 2 foi recentemente relançado para Steam para gáudio dos fãs de gestão. Para quem tem um Ricardo Salgado ou um Oliveira e Costa dentro de sim e quer enriquecer a olhos vistos – pelo menos de forma virtual – este é o jogo perfeito. Um jogo intimamente ligado com decisões económicas, em que temos de demonstrar a nossa superioridade perante os opositores através da gestão meticulosa das nossas linhas de produção e venda. Equilibrar bem a balança entre procura e oferta para maximizar os lucros e criar estratégias de crescimento económico viáveis. Há quem lhe chame “o jogo que a coligação PPD-PSD/CDS-PP deveria ter jogado”. Fui eu. Fui eu quem disse isso.

Os jogos de estratégia económicas são uma espécie em vias de extinção, são o lince ibérico que nos olha do topo de uma montanha, são o banqueiro honesto que não rapina as poupanças dos seus depositários e são o governante inserido na máquina partidária que tem dentro de si uma ética ideológica aprumada. O mercado avançou e com eles estes jogos ligados à gestão não-bélica de uma civilização acabaram para ser chutados para o canto do esquecimento. Ver Industry Giant 2 a chegar ao Steam treze anos após o seu lançamento é um bom sinal: quer dizer que eu e muitos dos jogadores que fizeram do género Tycoon grande um dia ainda têm vontade de jogar bons jogos. Jogos que não são, por exemplo, este:

 

Toylet Tycoon

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Sim, este jogo cheira mal. O BPN cheira pior.

Há dois anos comprei este jogo no Greenman Gaming e decidimos que a partir de agora este seria o jogo de análise/praxe a todos os novos redactores do Rubber. Perdemos a coragem porque não somos assim tão cruéis. E agora que Toylet Tycoon chegou ao Steam, nove anos após o seu glorioso lançamento cheio de fezes (literalmente), acho que seria um bom jogo para entreter os envolvidos nos casos do BES, BPP e BPN na prisão acompanhados de uma palete de sabonetes Feno de Portugal. Riu-me. Isto se algum dia eles fossem julgados. Estamos em Portugal, lembras-te Ricardo?

 

Sundown: Boogie Frights

Mais um jogo gratuito a chegar a iOS e Android , desta vez pelas mãos da Chillingo. A febre de zombiexploitation é tão grande que muitas vezes damos por nós a pensar: mas em que setting é que será que ainda falta colocar mortos-vivos a atacar? Uma reunião de accionistas do Grupo Espírito-Santo? O Comité da Assembleia da República de Acompanhamento do Millenium BCP? Os loucos anos de 1970 com o John Travolta e os Bee Gees a percorrerem as ruas a caçar zombies como Rick Grimes em calças-à-boca-de-sino? Se as vossas respostas foram as duas primeiras, eu compadeço da vossa vontade caros e queridos leitores do meu coração. Se a vossa resposta foi a terceira, os vossos sonhos mais retorcidos e brilhantes foram cumpridos com Sundown: Boogie Frights.

The Bee Gees

Sim, é mais um jogo de gestão tipicamente mobile com aqueles subterfúgios que eu (mais uma vez, e repito) detesto, como construções que demoram horas e bla, bla, bla e que se assemelha a uma skin 1970s do jogo Rebuild 3, do qual falei aqui no ano passado. É divertido, tem humor, e tem algumas soluções criativas para defender a nossa pequena cidade de zombies, tais como pô-los a dançar ao som da discoteca enquanto fazemos cair uma saraivada de balas de canhão em cima. Mais um daqueles jogos de gestão que eu acho que seriam infinitamente melhores se lançados com outro modelo de negócio para PC. Mas isto sou eu que sou saudosista. Especialmente de um tempo em que a corrupção não era tão comum como herpes num bordel.