A HORA DO MEH #3
Nota do Autor: A Hora do Meh foi uma rubrica iniciada pelo Isaque há uns dias aqui no Rubber Chicken. Gostámos todos tanto da ideia aqui no Rubber que o Ricardo já escreveu também um artigo para ela e agora é a minha vez. Porquê? Porque tudo isto é meh. Porque o que é meh é de todos. Comecemos, então.
Olá, meus amigos. Como estão todos? Bem, obrigado. Apanharam-me aqui a polir a minha katana.
Chamei-vos aqui para falar de um caso que é peculiar. Caso em questão: Onechanbara Z2: Chaos para a PS4. Um jogo onde vampiras de bikini e chapéu de cowboy destroem hordas de zombies e outros monstros sobrenaturais empunhando vários tipos de espadas e outras armas. Imaginem que God of War e George Romero encontram-se e têm um filho no Japão (conto que tenham uma imaginação amplamente fértil). Quem já viu filmes de exploitation, particularmente os subgéneros splatter e sexploitation movies, vais conseguir facilmente identificar o núcleo em que se insere a série Onechanbara. Um excelente exemplo do género é o filme “Big Tits Zombie” de Takao Nakano (aconselho, é uma boa sátira do género).

Traduzindo os algoritmos nipónicos e adaptando-os ao sistema métrico europeu, a equipa científica do Rubber Chicken conseguiu determinar com exactidão que um tamanho DD no Japão é um C assim daqueles maiorzitos na Europa.
Joguei o primeiro Onechanbara (que por alguma razão decidiram chamar de Zombie Zone na Europa) para a a PS2 por volta de 2005 e não gostei. Era aborrecido, button-mashy e a história não tinha nexo. Tinha aquele hack-and-slash repetitivo que 30 minutos depois de estarmos a jogar damos por nós a olhar para os cantos da televisão, depois para os cantos das paredes, e depois perdemos os sentidos. Não era terrível. Era só meh. E como já havia sido determinado anteriormente nos artigos prévios, o pior tipo de jogo não é um jogo bom ou um jogo mau (que nos faz sentir algum tipo de emoção como alegria ou raiva), mas sim um jogo meh (que não nos faz sentir nada, só indiferença ou sentimentos mistos).

Isto é a capa traseira do primeiro Zombie Zone que saiu na Europa. Estudando-a conseguimos determinar que a maioria dos problemas que despoletam o genocídio em massa e o apocalipse começam no seio do lar. Dêem-se bem com a vossa família, crianças!
Nunca mais havia pegado num jogo desta mesma série até agora, 10 anos depois. Ainda não o tinha colocado na minha PS4 e já me encontrava predisposto a julgá-lo “mehgativamente”. Estava preparado preconceituosamente para o incluir na rubrica d’A Hora do Meh ainda antes de o jogar, mas agora acho que ele não é digno de tal honra. Porquê? Porque o combate melhorou, e bastante. Já não é aquele combate repetitivo e enfadonho, em que nos podemos levantar e ir à cozinha fazer um café de comando na mão enquanto continuamos a pressionar continuamente no quadrado. Agora o combate é até bastante divertido e em partes até difícil. Encontrar o timing para conseguir deflectir um ataque e contra-atacar não é fácil. O jogo agora desafia e dá um sentimento de satisfação depois sair vitorioso de combates mais suados.
A história, de facto tenho de concordar, continua a fazer o sentido que já não fazia. Neste jogo as irmãs Kagura e Saaya (vampiras de sangue amaldiçoado), e as outras irmãs Aya e Saki (estas não são vampiras, mas também têm a mesma maldição no sangue das vampiras), habitualmente inimigas, juntam-se relutantemente para combater a mãe vampira das duas primeiras, que engendrou um plano maléfico para conquistar o mundo erguendo hordas de mortos-vivos à escala global. Para a derrotar, as quatro irmãs vão viajar por todo o mundo para derrotar os líderes da ameaça zombie até chegar ao confronto final com a sua mãe, que está longe de ser uma florzinha de estufa. É simples. Oco. Mas simples. E dá-nos uma boa razão para viajar pelo mundo inteiro e matar zombies às paletes.
O combate. O combate é o melhor elemento do jogo. O combate são dezenas de corpos decepados e litros de sangue jorrados por segundo. Um banho de sangue e um festim gore. As armas vão ficando ensanguentadas e têm de ver o sangue que as conspurca sacudido delas, porque quanto mais ensanguentadas tiverem menos afiadas estão, dando consideravelmente menos dano. Igualmente, quando as personagens são banhadas em sangue suficiente entram num estado de êxtase, tornando-se mais rápidas e mais fortes – quase imparáveis (existem monstros que só conseguem ser mortos por uma personagem neste estado). O jogo funciona à base de um tag team que vamos querer usar ao máximo para trocar de personagem a meio do combate (a que está de fora regenera parte da vida) ou em casos de necessidade extrema podemos chamar as quatro personagens para combater todas ao mesmo tempo (as outras três são semi-controladas por nós, atacando ao os alvos que estão na área nossa volta ao mesmo ritmo dos nossos ataques). Eventualmente as personagens acedem a um poder ainda maior, tão forte que lhe drena a vida enquanto ela estiver transformada.
Devido a estar tão absorto no combate encontrei-me na situação caricata de me esquecer de usar as orbes de sangue que apanhamos para subir o nível às armas. Fiz metade da história no single-player, que estava a ficar progressivamente mais difícil, com as personagens efectivamente a nível 1. “Epa, este jogo está mesmo desafiante!” pensava eu, quando era eu quem o estava a tornar difícil. Depois de me ter apercebido disso, excusado será dizer que o jogo se tornou mais acessível.
Mesmo assim, o nível das nossas armas não é tudo. Há inimigos que só morrem com condições específicas e é preciso abordar outros com alguma estratégia e não só com força bruta – por exemplo, a meio do jogo vamos enfrentar uma espécie de harpias que saltam e tentam aterrar em cima de nós, para nos espezinhar. Se uma delas o conseguir fazer e houver um grupo grande delas à nossa volta, elas não nos vão deixar levantar e vão-nos pisar repetidamente até à morte (é que nem nos conseguimos levantar). Para prevenir isso temos de estar sempre em movimento e conseguir usar o facto de sabermos onde elas vão aterrar para as atacar.
“Espera” interrompem-me vocês. “Pelo que tens estado a dizer até agora este jogo não é meh.”
Têm razão. Isto é uma armadilha. Um anti-meh. Foram enganados. O meh era apenas o isco para atrair todos aqueles que, como eu, acharam logo à partida que este jogo ia ser meh e só vinham aqui procurar validação para esse facto. Pois lamento. O jogo foi, para mim, bastante divertido. Mesmo depois de terminar o single-player relativamente curto ainda voltei a jogar, sedento de mais acção – e desta vez com personagens customizadas.
Erguendo a katana, agora polida, ele fecha os olhos e traça o movimento da lâmina no seu subconsciente. Um movimento rápido e diagonal. De cima para baixo. Da direita para esquerda. Um relâmpago. Ele abre os olhos. O preconceito jaz no chão.
Com um movimento instantâneo do seu pulso, ele limpa a lâmina. Precisa de estar afiada para o próximo corte.
Onechanbara Z2: Chaos está disponível em exclusivo para a PS4 e é distribuido pela Nippon Ichi Software of America (NISA).