Confesso que escrevi um primeiro artigo sobre o tema que falo hoje, e que, depois de falar com um grande amigo que me trouxe o bom senso e a serenidade que os amigos verdadeiros trazem, resolvi reescrevê-lo. O meu artigo estava movido pela revolta. As minhas palavras tinham ataque e, embora sinta tudo o que disse no primeiro rascunho, não o estava a dizer de forma positiva ou construtiva. Tinha em mim uma necessidade imensa de lavar a vergonha e embaraço que senti em nome de todas as Mulheres (não raparigas) que amam verdadeiramente esta maravilhosa forma de arte que são os videojogos.
Depois de posta a raiva cá para fora no primeiro rascunho deste artigo, uma espécie de Purga do que é negativo (que também é preciso), vamos lá a falar seriamente deste tema que tanta tinta e comentários já fez correr nos últimos dias: o feminismo nos videojogos.
Convém definir do que estamos a falar. Não existe Feminismo nos videojogos. Calma – deixem-me explicar. Feminismo: (de acordo com o dicionário de língua portuguesa):
“Movimento ideológico que preconiza a ampliação legal dos direitos civis
e políticos da mulher ou a igualdade dos direitos dela aos do homem.”
Não existe este movimento nos videojogos. Se existem jogos que sexualizam em demasia a imagem da mulher, ou assumem uma clara objectificação do papel feminino em determinado contexto, isso não é feminismo. É exactamente o Oposto disso. Quando muito, poderemos chamar de machismo. Sim, existem jogos que sexualizam em demasia o corpo da mulher. Sim, também existem jogos que objectificam o papel das mulheres em vários contextos. Sim, é muito triste ir a uma E3 ou uma Gamescom e ver as babes com generosos atributos junto dos expositores para chamarem a atenção dos jogadores que por lá passam. Eu considero triste, porque não gosto de ver mulheres nessa posição e porque, sobretudo, gosto de pensar que os homens são mais inteligentes que isto – estão acima de meros seres que reagem unica e exclusivamente a estímulos visuais. Dou mais crédito a homens e a mulheres.
Sim, as mulheres são muito sexualizadas em videojogos, tal como o são em Tudo! Porquê? Porque o sexo vende. Qualquer indústria de entretenimento quer negócio com lucro, e o sexo ajuda a que isso aconteça. A mulher, desde o mito de Eva, é a simbolização desse sexo que vende. Dessa tentação que está à beira dos olhos de cada um. Será isso mau? Como tudo, depende de como é utilizado. Uma mulher sensual é uma mulher objectificada? Não! NUNCA. Uma mulher sensual, que sabe usar a sua feminilidade com inteligência, é uma Mulher a sério. Uma mulher que não diminui o seu intelecto em prol dos seus atributo físicos, mas ainda assim não esquece que os tem, é uma Mulher a sério. Para eu ser levada a sério como psicóloga, como mulher independente, como mulher inteligente, como Gamer, tenho que esquecer que tenho um corpo feminino? Tenho que fingir que não sou um ser sexual? Não! Redondamente Não. Mas tudo tem o seu lugar, e há uma gigantesca diferença em soltarmos a mulher sexual que há em cada uma de nós no “quarto” e no trabalho (para dar um exemplo).
Acho que não preciso explicar mais, pois não?
Passemos isto para os videojogos. Choca-me que a Lara Croft tenha roupa justa onde mostra o seu maravilhoso corpo? Claro que não! Em momento algum a Lara utiliza a sua sexualidade para obter seja o que for. Utiliza a mestria, o seu intelecto e a sua coragem. Tudo isto num corpo de fazer inveja (pelo menos a mim). Bom para ela!
Outros jogos existem, que não valem a pena mencionar, em que as mulheres servem apenas para satisfação sexual. Incomodam-me? Sim. E quanto a isso o que eu faço? Simplesmente – não os jogo! Tal como com algum tipo de pornografia, em que a cena acaba com o clímax masculino na cara da mulher (orgasmo feminino – nem vê-lo), eu simplesmente não vejo. Há mercado para tudo. Para todos os gostos. É essa a beleza da diversidade. Este tipo de produto não é feito a pensar em mim enquanto consumidora, por isso simplesmente não jogo nem vejo. É fácil. Para quê inventar debates sobre isto quando, no mesmo debate, se dá razão a todos os que procuram tirar credibilidade às mulheres enquanto jogadoras? Sim – ao fazer-se afirmações insípidas e vazias de intelecto, a credibilidade de toda uma indústria, de uma comunidade de jogadoras, vai por água abaixo.
Nunca vi os homens a queixarem-se de serem objectificados sexualmente porque o Kratos anda semi nu em 6 jogos da série God of War. Nunca vi nenhum jogador sentir-se ofendido porque existe um jogo que representa os homens como brutos. Enquanto jogadora, agradeço a indumentária do Kratos. Um Extraordinário jogo (a minha saga favorita de sempre) com um personagem Fantástico de se olhar. Estarei eu a objectificar os homens porque gosto de apreciar o corpo do Kratos enquanto jogo? Onde chegámos enquanto sociedade que não conseguimos assumir a nossa sexualidade com inteligência? Deixa-me triste ver que, os anos andam, e nada evolui… mais triste ainda fico por ver pessoas que obtêm visibilidade num canal de Youtube a darem razão, com a sua ignorância, a tudo o que se diz sobre as mulheres jogadoras nos videojogos.
Existe muito sexismo em tudo o que nos rodeia e, mulheres, descansem… os videojogos são o menor dos nossos problemas e batalhas neste tema.
Procurem as vossas batalhas no que realmente importa. Querem alguns exemplos? Que tal o facto de todas as revistas supostamente femininas estarem inundadas de como as mulheres devem agradar, seduzir, um homem, como se a nossa vida se definisse por isso? Ou aquelas páginas infinitas de dietas inovadoras que nos vão fazer emagrecer? Ou a forma como as próprias mulheres nos olham quando dizemos que não queremos filhos nem casar? Ou então o facto das mulheres acima dos 70kg praticamente não encontrarem roupa nas famosas lojas de Zara, Mango, Bershka, porque é suposto o feminino pesar no máximo 65 kg? E que tal preocuparem-se com as mulheres que, a quererem ser emancipadas, adoptam os comportamentos errantes associados ao masculino, tornando-se, precisamente, em tudo o que criticavam nos homens (infiéis, sábios na manipulação, promiscuidade etc). Que tal começarmos a batalhar nas guerras que realmente importam para o feminismo?
Não – feminismo nos videojogos não é um problema. O problema verdadeiro está nas raparigas que não sabem ser Mulheres.
Comments (5)
tl;dr
Aconselhamos então a seguinte bibliografia para acompanhar:
http://www.amazon.co.uk/Teaching-Kids-Read-Dummies-Tracey/dp/0764540432/ref=sr_1_1?ie=UTF8&qid=1443206363&sr=8-1&keywords=teaching+reading+for+dummies
Isso não será complexo demais? 388 páginas é dose!
Ofereço esta alternativa: http://www.fnac.pt/O-Alfabeto-dos-Bichos-Jose-Jorge-Letria/a124228
Sem dúvida que é demais, se o artigo deve ter à volta de 1000 palavras é longo demais…
Se fosse em video já era mais fácil.
Ilustrado pelo grande André Letria. Obrigado pela sugestão!