Não sei.
Não sei por onde começar porque sinto que nem comecei M4 Tank Brigade. Joguei quinze minutos e foi o suficiente para me desmotivar por este que é talvez o Big Rigs dos novos tempos. Por isso, esta antevisão vai ser na verdade também um artigo sobre um jogo de 1992, BZFlag.
BZFlag é um “First Tank Shooter”(*), escrito há 23 anos atrás como uma cópia não assumida do jogo de arcadas Battlezone da Atari. A parte fixe é que com esta primeira frase consegui descrever todo o jogo. Nasceu como um jogo focado no que se tornou um dos seus modos, capture the flag, mas logo se transformou em mais que isso, abrigando modos como por exemplo deathmatch. Os seus gráficos são um misto de assustador e deprimente, algo que hoje seria facilmente etiquetado como cringe. Porém, a quantidade de horas que passei neste jogo com os meus amigos é certamente superior àquilo que se esperaria baseando-me simplesmente nos gráficos do jogo, e apenas foi um número elevado de horas porque era o único jogo multiplayer instalado nos computadores da sala de estudo do meu curso na instituição de ensino que frequento.
Além disto, há que referir que essas horas são também justificadas pelas próprias mecânicas do jogo. É rápido, estratégico e muito divertido. Muitas foram as ragequits (algumas com pessoas a destruir teclados contra os monitores dos computadores, como se tratasse de espancar um caixa de óculos com um taco de basebol), muitos foram os nicknames memoráveis utilizados por todos nós e muitos minutos foram passados a falar sobre o jogo, recordando as batalhas travadas num jogo 3d em que cada um dos seus objectos não tinha mais que 20 polígonos. Tudo isto porque era um jogo realmente divertido e fácil de jogar. E isso, apesar de ser o mínimo exigido, é também o que me faz decidir se quero ou não jogar o jogo.
Uma das actividades pertencentes ao meu passatempo preferido (que é procrastinar) consiste em ver vídeos no Youtube sobre gamedesign e julgo que, se não entendi sozinho, foi lá que percebi a importância e a quantidade de tempo exigida no development a aperfeiçoar as mecânicas base do jogo para que até simplesmente com elas seja divertido de jogar. M4 Tank Brigade não tem nada disso. O jogo foca-se em explorar um conceito pouco explorado nos jogos de tanques, que é controlar um esquadrão de tanques em vez de apenas um, mas talvez esse conceito não tenha sido explorado por outras pessoas exactamente por se ir traduzir num mau jogo.
Aquilo que aconteceu com BZFlag nunca na vida poderá acontecer com M4 Tank Brigade porque não é um jogo divertido de jogar em primeira instância, a juntar à péssima direcção artística. Vozes diferentes a dar voz à mesma personagem (ou então apenas gravadas com equipamento diferente), zero de colisão com tudo o que não seja o solo e nitidamente um conceito que será inevitavelmente traduzido para gameplay demasiado complicado, principalmente para uma equipa que não tem as capacidades técnicas para encarar esse desafio.
É mau, certamente não faz jus às reviews que aparecem no Steam (dadas por pessoas que jogaram nitidamente menos do que o necessário para reconhecer valor no jogo) e não merece o dinheiro de ninguém nem a atenção de ninguém, muito menos a pouca atenção que eu lhe decidi dar neste artigo. Porém, jogá-lo serviu para uma coisa: instalar o BZFlag no meu computador.
(*) – Não tenho a certeza da existência do termo, mas deverá ser suficiente para perceberem o conceito.