Agora que estamos todos no mesmo pé e devemos ter a mesma earworm a consumir-nos a mente com este clássico das Spice Girls a martelar-nos a cabeça incessantemente, vamos seguir caminho, pé-ante-pé, num dos melhores RPGs do ano, e que passou completamente sob a sombra de grandes títulos AAA que encheram o mercado. Falamos de Etrian Odyssey: Mystery Dungeon.

O último jogo que joguei que tivesse a fórmula de Mystery Dungeon em si foi o Pokémon: MD Gates to Infinity, que provou que o sucesso de uma franquia não é uma razão automática para que este género de crossover funcione. A Pokémon Company em união com a Spike Chunsoft não conseguiram ir além da extrema monotonia e do aborrecimento exasperante com o seu Gates to Infinity. Vamos dar uma uma última oportunidade com o próximo jogo de Pokémon e Mystery Dungeon a ser lançado em Fevereiro próximo.

Mas voltemos a Etrian Odyssey.

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Se alguns dos crossovers de Mystery Dungeon com outras franquias tem sido uma espécie de hit-or-miss, o casamento com Etrian Odyssey pareceu-nos mais-do-que-perfeito. O facto de estar a traltear a música das Spice Girls é bem sinal disto: quando dois jogos se tornam um, isso significa que os limites de ambos tornam-se as fronteiras do todo. E que essa fusão resulta em algo sem-falhas, sem arestas, em que os diversos elementos se conjugam na perfeição sem levantar objecções. EO:MD é o cruzamento de duas das séries mais hardcore de RPGs (ou JRPGs se preferirmos), e esse é um dos factores que anuncia logo um casamento bem-sucedido. Talvez ajude o facto de que na prática, ambas as séries são, na sua essência, formas diferentes de abordar os dungeon-crawlers. O jogo funde na perfeição elementos de ambas as séries: por um lado o roguelike clássico de Mystery Dungeon, uma das séries que melhor bebe do pai do género, o jogo Rogue, e por outro o lore e a estética de Etrian Odyssey.

EO:MD não é um jogo para todos, e é um objecto que facilmente levará ao desespero muitos dos seus jogadores. O seu nível de desafio é tão elevado que me vi várias vezes a ter um Total Party Kill nas primeiras dungeons. E ao contrário de outros jogos contemporâneos, este é totalmente impiedoso: cada vez que um party member morre para uma criatura, essa mesma criatura faz level up, tornando-se brutalmente mais forte. A cautela tem de ser extrema, porque até o mais simples dos monstros pode causar a destruição de todos os nossos personagens se conseguir derrubar um que seja. E ter um TPK significa também que perdemos todos os itens e dinheiro que possuíamos e que vamos ter de organizar uma equipa de salvamento para recolher o que perdemos. Parece difícil? E é. Felizmente que ao contrário de outros Mystery Dungeon os personagens mortos não perdem XP e regressam ao primeiro nível, senão aí teríamos casos de arrancar os cabelos.

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À semelhança de outros dungeon crawlers, a narrativa existe apenas como ponto de união e justificação para a exploração de dungeons, com todo o ambiente retirado, como é óbvio, da série Etrian. De onde aliás, são retirados também a progressão de níveis dos personagens, o sistema de classes, profissões e habilidades, o que permite aos jogadores habitués da franquia da Atlus a sentirem-se perfeitamente em casa.

Como disse, este jogo vive de dungeon-crawling puro e duro com os turnos dissimulados pela própria jogabilidade. Os monstros movem-se apenas quando caminhamos, o que significa que se largarmos a nossa 3DS isso é o equivalente a termos o turno parado. E o foco geral do jogo é explorar os diversos pisos sucessivos de labirintos processualmente gerados, e usualmente cada missão termina quando chegamos ao patamar mais profundo da dungeon.

A party é constituída por 4 personagens, em que uma delas é a líder e a quem as restantes 3 seguem em fila pelas dungeons. O sucesso de cada exploração depende, e muito, do posicionamento relativo da nossa party. Como RPG táctico é importante gerirmos a nossa equipa da forma mais eficaz possível, sob pena de perdermos algum elemento. O que resulta naquilo que já sabemos…

O grind é necessário, seja para os nossos personagens principais, seja para os reserva, e cedo percebemos que nos convém mantermos quase todos nivelados, não só para que possam servir de equipa de salvamento caso tenhamos um TPK, como para defender os fortes, que são “locais” de defesa avançada contra os monstros que estão a atacar a nossa vila (Ah! não falámos dessa parte do enredo? Não perderam muito, e em apenas algumas palavras perceberam o fundamento do jogo). Construir um forte dentro das dungeons e colocar membros reserva a defendê-lo é a única forma de “congelar” o layout das dungeons, que como referi, são processualmente geradas.

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Etrian Odyssey: Mystery Dungeon é um dos jogos mais desafiantes que joguei este ano. Mas não é difícil apenas pelo sadismo de o ser, mas sim pelo prazer do desafio que nos impõe. Um brilhante cruzamento entre duas séries que extraordinariamente se mesclaram na perfeição, e que deixará feliz até o mais ferrenho seguidor da exploração na primeira pessoa de Etrian Odyssey. Com largas dezenas de horas de jogo, EO: MD vai directo ao assunto, garantido que a nossa concentração nunca é desviada por enredos martelados. Viemos aqui para explorar dungeons, matar monstros, recolher loot e ouvir Spice Girls. E já as ouvimos em demasia por hoje.