No Natal de 1993 consegui comprar um cartucho baratinho para a minha Family Game, um dos mas baratos que estavam disponíveis na loja, e que tinha apenas uma ilustração do Mickey Mouse como capa. O jogo em si era simples, ainda que totalmente em japonês, um platformer com um twist: o Mickey utilizava balões para atacar os seus inimigos, e para fazer alguns saltos mais difíceis. Tinha algumas sequências numa espécie de Third Person ao bom estilo do jogo de NES do Punisher. Rejoguei-o há pouco tempo e sinto que passou com distinção o teste do tempo. Mickey Mouse Subtítulo com Caracteres em Japonês (o nome era indecifrável por mim) é um platformer muito sólido, com boas mecânicas relacionadas com balões e um excelente level design que anda em torno de uma espiral de pesadelos onde a Minnie está presa.

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Avancemos catorze anos. Por razões que apenas ao acaso podem ser justificados, cruzei-me com um cartucho em segunda mão de um jogo chamado Kid Klown in Night Mayor World. E que, assim que começamos a jogar percebo: “Mas isto é o raio daquele jogo do Mickey Mouse que eu tanto joguei!”. E agora? O Mickey era uma skin do jogo na tentativa dos hackers de venderem um cartucho mais apetecível com uma das personagens mais reconhecíveis da cultura pop? Seria o Kid Klown um hack do jogo do Mickey, por alguma razão estranha, em que substituímos um personagem que toda a gente conhece por um notoriamente desconhecido? Uma tentativa de substituir o simpático Mickey por um palhaço que, dentro da temática dos pesadelos, apelasse a coulrofobia latente dos jogadores?

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Todas estas perguntas estão erradas, mas simultaneamente certas.

O jogo do Mickey é o original lançado no Japão, sob o nome Mickey Mouse III: Yume Fuusen, e produzido pela Kemco. À época o licenciamento dos videojogos da Disney nos EUA pertencia à Capcom, o que obrigou a Kemco a fazer um reskin interno ao jogo, criando o personagem Kid Klown como substituto das sprites do Mickey Mouse, e tornando-o a quarta iteração da série Crazy Castles da Kemco.

Kid Klown in Night Mayor World/ Mickey Mouse III: Yume Fuusen é o primeiro caso que aqui trazemos de clones reais/oficiais de cartuchos, mas cuja explicação relacionada com direitos e propriedades intelectuais são perfeitamente plausíveis. E joguem-no. É um enorme platformer pouco conhecido da era dos 8 bits.