AVISO: A LEITURA DESTE ARTIGO PODE CONDUZIR A COMPORTAMENTOS CONSIDERADOS “PANISGAS” E SOLTAR UM LÁGRIMA DE SENSIBILIDADE

Quem prosseguir…considere-se avisado.

Para todas as pessoas que costumam ler o que escrevo, mesmo os artigos que são muito longos, aqueles em que não digo nada de jeito, aqueles em que exponho a minha alma (esses, infelizmente ou felizmente…. são todos), foram habituados a uma Alexa que adora jogos de Terror e é absolutamente viciada nas Emoções humanas (raios parta a psicologia). Uma Alexa que usa os videojogos como veículo principal da sua própria terapia, onde combate os seus demónios e canaliza a sua violência num lugar onde ninguém se magoa.

Mas todo o guerreiro precisa do seu lugar de abrigo, onde despeja o seu coração. E a guerreira Alexa….não é excepção.

Tearaway Unfolded é simplesmente Lindo! Eu sei…que coisa tão simplista de se dizer. Mas é isto – simplesmente Lindo! Não é um jogo – é uma experiência onde recortamos o nosso mundo e o moldamos com a nossa imaginação.

Estou a começar pelo fim…

Vamos ao início.

Da equipa Rubber Chicken, eu seria provavelmente a escolha menos óbvia para jogar um jogo como Tearaway. Não é o meu género de jogos. Nunca gostei muito de plataformas, na escola odiava desenhar e as coisas demasiado infantis afastam-me por completo. Mas quando o Miguel me perguntou se eu queria analisar Tearaway, eu, que nunca tinha experimentado o anterior título para a PS Vita, fui ver o trailer para saber do que se tratava. Não gosto de fazer análises a jogos que não tenham a ver comigo, porque pura e simplesmente posso ser injusta para o jogo e não o analisar pelo que é – sendo levada pela minha má experiência ao jogá-lo. Com esse receio, fui à procura do trailer. E depois de o ver, a minha resposta ao Miguel foi: “Quero, Quero, Quero, Quero, Quero!” Sim, eu disse “Quero” estas vezes todas porque tive medo que ele entretanto mudasse de ideias e entregasse o jogo a outra pessoa.

A história é muito simples. Um Mundo de Papel, onde tudo é concebido com as cores e as formas do nosso imaginário infantil, tem um buraco no céu. Um buraco que ameaça acabar com aquele mundo mágico. Cabe à personagem principal (como sou Mulher – escolhi Atoi – a “menina” do jogo) e a You – Nós, o jogador, remendar este buraco e salvar o mundo.

Atoi 2

Simples não é sinónimo de básico e este jogo nada tem de simplista ou pouco complexo. A premissa, embora seja a mais simples de todas, guarda significados cheios de simbolismo que dão ao jogador a experiência de remendar o seu próprio mundo. De cenário para cenário, o nosso mensageiro, que para mim foi Atoi, une-se a You para devolver cor a um mundo, afastar os corvos de outros, salvar as colheitas, desenhar flores num lugar onde elas não existem, e pouco a pouco, ir remendando aquilo que outros destroem.

A interacção entre mim, a jogadora You, e a minha “Atoi” é mágica e enternecedora. Ao carregar no botão R2 da minha consola, acendo a luz que ilumina o caminho de Atoi e quando ela para, olha para a câmara, para a sua You, e acena, ri-se, salta e vive comigo a aventura que as duas desenhamos e rasgamos em Tearaway.

Aqui – tudo é interactivo. Podemos desenhar as nossas borboletas, gravar a nossa voz para que seja a voz de uma personagem, fotografar e colorir o mundo como nós queremos. Se queremos reconstruir o buraco do nosso céu, teremos que primeiro descobrir como construir toda a realidade que nos rodeia. Criamos vento no Pad da nossa consola, Atoi pode atirar objectos para o “lado de cá” para que a You os devolva com mais força, resolvendo puzzles. Juntas até conseguimos voar. You defende Atoi de inimigos criando vento, atirando objectos e aprendendo novos movimentos com a nossa mensageira que lhe permitem ser mais autónoma e menos vulnerável.

Num mundo em que o papel se desdobra em milhões de formas e cor que se transformam em vida, os inimigos são feitos do papel que não interessa. Sim – os nossos inimigos são feitos de papel de jornal. O cinzento que retrata as desgraças do mundo, os Media que nos teimam em assustar e manter reféns do nosso medo, esses jornais que não se interessam em relatar histórias de Heróis da vida real ou de esperança, dão forma aos seres que procuram destruir o que ainda é belo e puro. Onde estão estes inimigos, tudo se cobre de pedaços desfeitos de jornal e a cor desaparece. Cabe a cada um de nós, ou de vós, ou de You com o seu mensageiro, acender a luz com o seu Pad e queimar este lado negro do mundo, devolvendo a cor de onde ela nunca deveria ter saído.

Atoi and Friends

Este é um dos milhentos detalhes de mensagem subliminar e de constante beleza que Tearaway nos oferece. Um jogo feito para ser partilhado. Um jogo que devolve ao jogador a ânsia de querer partilhar serões com os seus amigos e com a sua família à volta de uma consola, onde todos desenham, todos partilham, todos criam e o que é menos importante é quem segura o comando, porque o nosso mensageiro está irremediavelmente ligado a cada um dos seus You. Tearaway não é feito para que o jogador queira vencer os seus medos, ou viver a adrenalina de combater aquele “Boss” que tanto custa, ou ir competir com alguém online para sentir que se é o melhor. Não é um jogo para gritar, ou irritar, ou competir. É um jogo para….jogar. Pelo puro e simples prazer de se disfrutar de um pouco de arte cujos detalhes e mensagens são tão subliminares e ao mesmo tempo tão evidentes que sentimos que nos desenhamos tanto enquanto jogadores, como desenhamos o mundo de Atoi.

Positivo: Tudo – um jogo que devolve ao jogador a sensação de simplesmente se divertir a jogar

Negativo: …desculpem…não consigo pôr defeitos à minha Atoi que partilhei convosco nestas fotos.

A beleza está nos detalhes. Os detalhes verdadeiramente importantes na nossa vida são extraordinariamente simples. E Tearaway Unfolded é isso mesmo – um jogo de Detalhes absolutamente delicioso de se jogar e partilhar. Simples. Criativo. Estonteante. Lindo! Como a Vida que desenhamos a cada dia deveria ser…

 

Tearaway Unfolded é um exclusivo PS4.