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Já disse no artigo do PES e do FIFA que este ano os jogos de futebol são todos da minha responsabilidade. O terceiro, e último jogo relacionado com o desporto-rei é o Football Manager 2016, a famosa série da Sports Interactive que conta com legiões de fãs, que aguardam ansiosamente cada novo lançamento. Eu nunca fiz parte dessa legião e para ser honesto é a primeira vez que jogo FM. E nunca joguei CM antes também. E em jeito de spoiler do que se vai passar nos próximos parágrafos posso adiantar:

AFINAL NÃO PERCEBO ASSIM TANTO DE FUTEBOL

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Para enquadrar o passado, há-que esclarecer que cresci com alguns amigos que hoje rondam as quatro décadas de idade e que passavam largas semanas desaparecidos na década de 1990 quando mais uma iteração do CM saía. Via-os a jogar o jogo, e ficava totalmente abismado com o que se estava a passar diante dos meus olhos. Para ser honesto, apenas em 1999, com a magistral obra dos irmãos (agora irmão e irmã) Wachowski é que compreendi o que se passava com os meus amigos à época. Eu não conseguia perceber o que se passava nos ecrãs de CM porque eu não era um dos Escolhidos. E enquanto eu apenas lia nomes, dígitos e demais caracteres pelo ecrã, eles conseguiam ver todo um desporto a desenrolar-se, um mundo mágico e inalcançável para mim que o máximo de ligação que tinha ao futebol era ver semanalmente os jogos do meu Sporting no velhinho Estádio de Alvalade ou na RTP.

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CM e FM visto por Ricardo Correia, circe de 2007

Os anos passaram, o meu contacto com o futebol manteve-se igual ao que era mas alguns dos meus amigos, não sei motivados pelo CM acabaram por, paralelamente às suas carreiras, prosseguir os estudos de treinadores de futebol. A força do CM foi regredindo, e estes meus amigos, já a treinar equipas de iniciados ou sénior de ligas amadoras lá progrediram para o FM.

A expressão típica de “treinador de bancada” não se aplica muito a mim, exceptuando quando qualquer treinador do Sporting decidem colocar o André Martins em campo. Aí eu sinto-me conhecedor o suficiente para refutar a decisão e lançar uma ou duas sugestões que me dão uma ilusão muito superficial de perceber sequer do que estou a falar. Porque, apesar de ver (e ter visto) muitos jogos de futebol, e de ter umas frágeis ideias de que a equipa X está a movimentar-se muito por este ou aquele lado ou qual a posição táctica que o adversário deveria assumir, depois de algumas horas no FM 2016 o que percebi foi que

AFINAL NÃO PERCEBO ASSIM TANTO DE FUTEBOL

Foi ao ter o primeiro impacto com FM 2016 que percebi o porquê de haver um nicho (um grande nicho) de pessoas que tanto gostam da série e que a seguem de ano para ano. Uma série que vive imune ao hype, na protecção clara dos jogadores que a compram sem pestanejar, que lhe reconhecem a complexidade e o vêem como a resposta certa à melhor oferta do mercado de jogos de gestão de futebol. Por não ter o mesmo nível de conhecimento nem expertise de futebol que muitos dos jogadores de FM, decidi colocar o jogo num modo que permite a que o Staff da equipa que eu giro tome as rédeas de algumas das decisões, deixando-me o ónus das decisões principais.

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A base de dados do jogo é verdadeiramente impressionante, e fez-me perceber as funções quase oraculares de alguns dos meus amigos de longa data que pareciam antever uma ou outra subida às equipas principais de jovens das camadas de formação de alguns clubes. É que habituavam-se a conhecê-los do FM, de conhecer-lhes as características e estatísticas, e apostavam neles dentro das decisões que tomavam para a estratégia das suas equipas. Meses depois, no mundo real, via esse ou esses jogadores a ascenderem aos escalões principais do Sporting, Benfica e Porto. Os meus amigos sorriam: eles já os conheciam e utilizavam no FM.

Dentro do meu desconhecimento profundo de futebol (que não tinha ideia ser tão profundo até começar a levar valentes “tareias” com o Sporting de equipas inferiores no FM 2016) houve uma faceta que, pelo que li, está mais aprofundada nesta edição da série: a gestão social/relacional com os jogadores. Os mindgames como dissemos na análise do ano passado. Agradou-me grandemente essa componente quasi-RPG (ênfase total no quasi) em que a postura que decidi ter, de ser um treinador de “secretária” permitia-me ter uma postura mais assertiva com os jogadores, mas com um outcome negativo: uma pior ligação entre mim e alguns jogadores que se sentiam motivados por treinadores de “terreno”.

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Falando no André Martins e tornando público um momento que partilhei via share screen em tempo real com a restante equipa do Rubber. A uma dada altura do jogo é-me dada a oportunidade de vendê-lo para o FCP. Eu mostrei interesse na venda e o jogador ficou “em baixo” e questionou a minha decisão. De entre as muitas possibilidades de resposta escolhi a que me pareceu mais honesta com o que acho do jogador na vida real:

“Vamos vender-te enquanto alguém ainda dá dinheiro por ti”. Se isto não demonstra a salutar complexidade de FM 2016, então não sei o que demonstrará.

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Admito que passo mais tempo a tentar gerir a moral e o ânimo dos jogadores através da complexa árvore de possibilidades de diálogo que o FM 2016 traz do que a gerir posicionamentos ou estratégias e tácticas, porque, e não sei se já o referi

AFINAL NÃO PERCEBO ASSIM TANTO DE FUTEBOL

Ao contrário das primeiras vezes que vi jogos do género a rodar, em que os jogos eram simulados com umas circunferências coloridas que elevavam o realismo visual para o patamar do Subbuteo, agora temos as jogadas a decorrerem em tempo real através de animações 3D. O que pode ser um ligeiro auxílio a jogadores como eu, que não têm a profundidade técnica de futebol que permita entrar assim tão facilmente no jogo.

Para ser honesto, e é verdade que os jogos de estratégia e de gestão são jogos de nicho, mas FM 2016 é um jogo só apropriado para os verdadeiros conhecedores e amantes do desporto. As explicações do jogo são eficazes para ensinar o interface mas a jogabilidade e a compreensão profunda de tudo o que podemos fazer em FM 2016, que é na prática, tudo – gerir as equipas, comprar/vender/trocar jogadores, apostar em jogadores de formação, captar jovens promessas, gerir individualmente a relação com cada jogador, contratar olheiros, gerir a nossa relação com o clube/adeptos/imprensa, entre muitos outros factores futebolísticos, transformam-no na derradeira experiência de gestão de futebol. Mas, como indiquei, acessível apenas a quem compreenda o que se está a passar no jogo.

FM 2016 é um excelente jogo mas para um grupo específico de jogadores que consegue mover-se na perfeição em toda a intrincada rede de possibilidades que traz. Para os restantes é um valente wake up call, de nos fazer perceber que afinal não percebemos assim tanto de futebol. E no meu caso, que sou adepto do Sporting, que devo deixar o mister Jorge Jesus fazer o que ele sabe bem melhor do que eu. Afinal eu tentei fazer o seu trabalho virtualmente e falhei redondamente. Pensava que isto eram “piners” e afinal…não é.