Este artigo encontra-se dividido em duas partes. Se pretende aceder apenas à análise, por favor dirija-se ao separador correspondente. Para um bom momento de leitura, vá buscar chá e bolachas, sente-se confortavelmente e comece a ler desde o início. Ou então, dadas as circunstâncias, liguem a bola de espelhos giratória, aumentem o volume da música e tentem dançar enquanto lêem.

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INTRODUÇÃO

Contexto pessoal e humilde contexto social e histórico

Estamos em Novembro e raro foi o dia que, em Lisboa, se fez sentir Novembro. Julgo que todos os meses de Novembro digo a mesma coisa: parece que está sempre calor! Mas afinal é este o mês que acolhe o dito Verão de São Martinho. Os dias parecem passar cada vez mais depressa, as coisas demoram mais tempo a fazer e as que ficam para trás acumulam-se numa pilha figurativa a aguardar o dia que irão ser feitas. A vida tem-me corrido bem, obrigado, espero que com vocês também esteja tudo bem.

*silêncio*

*põe as mãos à cabeça e remexe as mãos no cabelo, como se estivesse à procura de alguma coisa*

Sabem que mais? É muito ingrato estar nesta posição. O que dava para não estar deitado na cama a escrever esta análise sobre este jogo. Vou-vos pedir a maior atenção possível e que vejam os vídeos que colocar neste artigo de acordo com as minhas indicações e, apesar de sentir-me na obrigação de explicar que provavelmente SMT: Persona 4 é o meu jogo preferido, faço aqui o voto de que a minha análise vais ser o mais imparcial quanto possível. Esta história começa há muito muito tempo e é aí que vou começar:

Sensivelmente dois anos depois do lançamento das consolas de casa de sétima geração, uma equipa do qual a ATLUS é proprietária lançou, depois de surpreender com o seu antecessor, Shin Megami Tensei: Persona 4 para o mercado japonês na Playstation 2. Pouco importa o que é, para este artigo. Importa as personagens que tem e que são grande parte do motivo que nos fez a todos apaixonar pelo jogo. Naturalmente, e como aconteceu no passado com Persona 3, as pessoas quiseram mais oportunidades para se envolverem com o elenco! Persona 4: Dancing All Night vem obviamente responder a esta demanda, mas com um pequeno twist: Em vez de um JRPG denso e complexo, fizeram-nos um jogo de ritmo. Ah-a!

As empresas nipónicas têm sido extremamente cautelosas em enviar cópias de jogos de ritmo com pintura japonesa (algumas brindadas com faixas encharcadas em voice-coding e vocaloid) para os restantes cantos do mundo. Pouco a pouco o resto do mundo tem-se mostrado receptivo a jogos como os de Hatsune Miku, e Rock Band e Guitar Hero também podem ter tido impacto positivo nesta crescente recepção. No entanto, é inegável que estas são experiências a que os japoneses têm uma relação de longe mais próxima e antiga devido à sua cultura e costumes. O resto do mundo partilhou, durante muito tempo, a perspectiva de Scarlett Johansson no belíssimo filme de Sofia Coppola de 2003, Lost in Translation:

Persona 4: Dancing All Night tem uma vantagem bem superior aos restantes jogos de ritmo: importa as personagens que todos conhecemos e adorámos em Persona 4. Isto faz com que o público alvo deste jogo não seja estritamente o público que devora jogos de ritmo (que no Japão é bem maior) e atraia também a atenção de outras pessoas, da mesma forma que Guitar Hero atraiu jovens aspirantes a músicos, tentando vender algo que de alguma forma está escondido debaixo de um tapete.

A minha relação com jogos de ritmo é bastante humilde. Além de ter jogado muito Guitar Hero sozinho e com os meus amigos (por vezes até com uma banda inteira) e ter instalado Frets On Fire em busca de um catálogo musical mais abrangente, poucos foram os jogos de ritmo que me conseguiram agarrar verdadeiramente (sendo talvez a única excepção à regra o primeiro Elite Beat Agents, de 2006). Sempre valorizei muito divertir-me a jogar ao ritmo de boa música e procurei o ocasional desafio, mas nunca consegui passar da primeira parte do Through the Fire and the Flames em Guitar Hero III – Legends of Rock, por exemplo.

Assim que descarreguei a cópia de P4D para análise, tudo o resto desapareceu da minha consola. Assim que carreguei no ícone do jogo sabia que tinha uma prioridade: encontrar-me com velhos amigos e aproveitar ao máximo tudo aquilo que eles me tinham para oferecer. Assim que a introdução dá início nada mais importa. Apenas importo eu e as pessoas que tristemente abandonei em Julho deste ano, quando concluí SMT: Persona 4 na Playstation 2. Uma corrente de felicidade se alastra pelo meu sistema nervoso central ao som da música e ao ritmo da cor que é disparada pelo ecrã.

2015-11-15-150702O mais importante num jogo de ritmo é manter a personagem imune às tendências da moda.

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ANÁLISE

Persona 4: Dancing All Night

Persona 4: Dancing All Night é um jogo de ritmo lançado na Europa para a PS Vita no passado dia 9 de Novembro deste ano, desenvolvido pela ATLUS. É um spin-off do jogo de 2008 lançado originalmente para a Playstation 2, Shin Megami Tensei: Persona 4, e dá continuidade à história do mesmo.

A apresentação deste jogo é aquilo que este de pouco faz bem. Os modelos 3D estão, dentro do que vi, do melhor renderizando na Playstation Vita. Todos os cenários, personagens e animações estão desenhados com destreza e integrados no jogo de forma plenamente homogénea. Certamente não é surpreendente para quem está habituado aos jogos da série, mas nunca um jogo com este aspecto foi tão bem vindo a uma consola que muitos dizem que o catálogo é insuficiente.

P4D Story

As animações presentes na história são de exímia qualidade, fazendo-nos encarar Dancing All Night com a mesma seriedade que encaramos o original.

Mas é na história que as intenções se tornam claras e as coisas começam a descambar. Esta, apesar de ser possível acompanhar por pessoas que não jogaram o jogo original, está certamente feita para os fãs da série, apresentando-se na primeira metade com uma fórmula de evolução de narrativa directamente exportada do original mas com um elevado nível de compressão, deixando-a quase sem sentido e certamente pouco apelativa. A segunda metade revela que a ATLUS não esqueceu os padrões de qualidade a que nos tem vindo a habituar com toda a série. Obviamente que não esperávamos algo surpreendente da narrativa de um spin-off, mas, sendo bonzinho, o melhor que posso dizer à cerca da história é que a plot twist é boa apesar de previsível para os jogadores mais atentos. A história é maioritariamente desinteressante e é contada como todos os outros jogos japoneses com narrativas alongadas e custos de produção mais baixos, nos últimos tempos.

P4D Story Telling

Quanto a conteúdo, Persona 4: Dancing All Night não é o jogo de ritmo mais recheado. Com vinte sete faixas musicais e onze personagens jogáveis (que não têm o menor impacto no gameplay, apenas contam para o swag que aparece no ecrã) distribuídas de forma exclusiva pelas pelas faixas (isto é: a personagem com quem “jogam” depende da faixa que escolhem e não da vossa vontade), ocupa o resto com vácuo. Todo o espaço que a série poderia ter inovado no género, nem que fosse pela sua narrativa, foi completamente desaproveitado. Por exemplo, os personas não têm impacto rigorosamente nenhum nem na história nem no gameplay. Os únicos sítios onde estes aparecem é num outro que toca sempre que ganhamos uma música.

P4D Persona

PERSONAAAAA!!!! É uma excelente forma de chamar um músico convidado ao palco. Nada mais que isso.

Ainda relativamente ao jogo de ritmo que é, é idêntico a Guitar Hero. As notas surgem do centro e direccionam-se aos seis alvos do ecrã onde cada alvo está respectivamente mapeado para cada um dos seis botões mais distantes do centro da consola (baixo, esquerda e cima no d-pad, X, O e Triângulo). É mais fácil que o típico jogo de ritmo japonês, mas possivelmente mais complicado que Guitar Hero, pois goza de um ecrã menor e faixas consequentemente mais curtas e menos legíveis.

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Swag e Dubstep. *drop teh bass*

A banda sonora sempre foi um ponto forte dos jogos da ATLUS (referi o mesmo na minha análise a SMT: Devil Survivor 2 Record Breaker, na semana passada). A banda sonora deste jogo itera sobre a banda sonora do original e dos seus spin-offs, oferecendo novas abordagens a faixas antigas dentro diversos géneros diferentes. A parte surpreendente é que algumas das remisturas aqui oferecidas passam em qualidade os seus originais, conseguindo pôr qualquer português a bater o pé com o mesmo entusiasmo que o senhor do seguinte vídeo a jogar Taiko No Tatsujin:

Além do Story Mode e do Free Dance (que tem quatro níveis de dificuldade disponíveis e desbloqueia as músicas à medida que obtemos pontuação satisfatória) temos também uma loja onde podemos adquirir itens que contribuem para o nosso desempenho e remuneração na pista de dança e vestimentas e acessórios para corresponder às nossas necessidades de swag. Enquanto a grande maioria das vestimentas são únicas para cada personagem, todos os acessórios são os mesmos e têm de ser individualmente adquiridos para cada uma delas. Triste.

P4D Menu

O menu e tudo o que este jogo tem para oferecer. Ah, e um feito meu no canto superior direito, executado em vinte e sete horas de jogo. Isso deve ser uma boa referência para a sua longevidade.

Em Collection podemos admirar toda uma panóplia de conteúdo irrelevante, tal como rever todas as performances que foram galardoadas com a pontuação mais alta. Lá também têm uma colecção de medalhas para completar a troco de algumas tarefas para os fortes de espírito, extendendo assim um pouco mais a curta longevidade do jogo.

Como comentário final, Persona 4: Dancing All Night não traz rigorosamente nada de novo à série ou ao género, é simplesmente o que eu costumo chamar SHAMELESS MILKING a uma série que já conta com mais jogos do que há filmes do Crepúsculo. A suportar este argumento temos actualmente cerca de trinta e oito euros em DLC disponíveis neste momento na Playstation Network para download, com três ou quatro faixas extra e muitos fatos e acessórios para colocar nas nossas personagens preferidas.

Gostei imenso de Persona 4: Dancing All Night. Porém, essa apreciação está muito além da qualidade do jogo (que é muito, muito questionável). Infelizmente o que suporta este meu gosto é o amor que eu, tal como muitos vocês, construíram pelas personagens. Mas nada é importante que informar-vos do que irão ou não comprar.

YOU’VE BEEN WARNED!