Os cerca 2 leitores que acompanham a Caçada Semanal, a rubrica que deveria ser [semanal] mas que sai mais ou menos quando o vento bate, sabem que usualmente tento criar uma temática comum que una os diversos indies dos quais falo em cada artigo do género. Esta semana trago dois indies completamente distintos um do outro, mas que têm algo a comum: dois jogos que à sua maneira têm algo de pedagógico a passar aos seus jogadores.
O padeiro de Aljubarrota
Ou o Agricultor de Frisia se preferirem. No primeiro Foi Bom, Não Foi? falei de Cross of the Dutchman, um jogo indie baseado na história de um herói holandês que lutou bravamente contra as invasões saxónicas. A história de Pier Doria é muito semelhante à da nossa Brites de Almeida, ainda que algumas lendas lhe atribuam características sobre-humanas, o que não é mais que o romanceamento histórico em torno de um corpulento agricultor que se insurgiu contra os invasores da sua terra.
Quando falei sobre Cross of the Dutchman no programa questionava o facto de eu me limitar a esmurrar pessoas, e de não possuir uma espada. A realidade é que depois de termos filmado o episódio percebi que um pouco mais à frente no enredo acabaríamos por estar munidos de uma espada, o que se coaduna com todas as imagens promocionais do jogo. É verdade que aqui temos um brawler isométrico, mas já estranhava o facto de estarmos a lutar contra batalhões de saxões ao murro. Corpulência sim, mas veracidade histórica são agradecidos. E até a D. Brites lutou (dizem) empunhado uma pá de padeiro. Há aqui uma forma ficcional de contar uma história, e de forma ligeira contar a História das invasões saxónicas ao território holandês que acabou por motivar-me a ler mais sobre o assunto. Um jogo de (essencialmente) combate que incite, de uma certa forma, à pedagogia? Parece-me que é um dos casos.
O combate acaba por ser relativamente frustrante e as secções furtivas que o estúdio Triangle Studio criou nos momentos em que Pier se esgueirava por entre os campos de soldados saxões são um pouco frustrantes para o ritmo do jogo. A duração, essa, é excessivamente curta na minha opinião. Valha-nos uma das melhores ofertas que este Cross of the Dutchman possui: a sua excelente direcção artística que logo de início arrebatou a minha atenção. Todas as cutscenes e avatares (durante o diálogo) desenhados à mão num estilo muito próximo de alguma banda-desenhada contemporânea, acabam por ser um dos ex libris de um jogo que passaria completamente despercebido. E injustamente.
Resta-nos uma dúvida: perante as lendas da dimensão colossal de Pier Doria, urge saber quem venceria num combate a três desarmado: esta figura histórica, Gregor Clegane ou o Bud Spencer?
Matemática Aplicada a salvar o mundo
Os anos 1990 estavam tão pejados de jogos educacionais que eu acredito que eles tenham sido duplamente úteis a muitos dos miúdos e adolescentes que (como eu) viveram esse período. Para além de alguns contribuírem pedagogicamente para os seus jogadores, também serviram como desculpa e justificação para alguns pais mais cépticos dos videojogos de como era possível aliar diversão e aprendizagem. Logical Journey of the Zoombinis era um desses jogos.
Apesar de aquando do seu lançamento, 1996, não o ter jogado, aproveitei agora o seu remake (Zoombinis) para Steam (e mobile) para perceber o apelo do jogo. É claro que aquilo que me opõe ao eu de há vinte anos, é que hoje eu estou no papel de pai e não no de adolescente, e portanto tenho algum interesse em perceber o apelo/eficácia do jogo do ponto de vista de edutainment.
Comparando com a versão original, percebemos que quase todos os cenários foram refeitos, redesenhados e repentados, e que têm um visual contemporâneo sobre a essência 90s. Aliás, Zoombinis (o remake actual) ainda exala tanto a década em que foi lançado originalmente em toda a construção do jogo, desde a sonoplastia, à grande diferenciação entre fundo e personagens e às próprias mecânicas. Este jogo só seria mais 90s se nos pedisse para trocar de disquete entre capítulos. Coisa que não faz, obviamente.
Zoombinis conta a história de uma raça escravizada que quer libertar-se do jugo dos seus invasores (parece que afinal a temática comum deste artigo são mesmo as lutas pela liberdade). Para isso, e num tom e ambiente perfeitamente infantis, temos uma série de puzzles de lógica matemática para auxiliar os Zoombinis a progredirem no mapa, criando uma forma mascaradamente pedagógica de colocar as crianças a verem a Matemática sob outro prisma.
Como é hábito a versão mobile custa metade da versão de PC. É um jogo curto, com poucos puzzles, mas parece-me uma óptima aposta pedagógica e divertido para se jogar com os filhos.
Comments (1)
Nenhum dos 3. Ganharia Brites de Almeida, com a sua mão com 6 dedos.