“O Governo caiu, viva o Governo!” poderia ser um graffiti numa das muitas paredes da Baixa lisboeta, mas não é. Acho. A crise política já passou, Pedro Passos Coelho já não é o menino triste e até já ri em estilo bullying no hemiciclo dos meninos que agora governam Portugal. Mas infelizmente, e apesar do Rubber Chicken ter-se oferecido para uma coligação, nós não somos parte do Governo.

Ainda assim, e pelo tom dos jogos que escolhemos esta semana como três indies de destaque, há algo que salta logo à vista: jogar qualquer um deles deixava-nos mais do que aptos para assumir qualquer pasta do Executivo de António Costa.

 

Ministério dos Transportes

Numa semana em que é anunciada mais uma Greve do Metropolitano de Lisboa, decidimos jogar a versão “modernizada” do clássico Transport Giant, que está agora disponível no Steam. O clássico da extinta JoWood de 2004 está de regresso em todo o seu esplendor, e onde algumas más línguas dizem que o ex-Ministro Mário Lino estudou todo o processo do Aeroporto da Ota há uma década.

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Transport Giant é um jogo de gestão, um tycoon, onde o nosso objectivo é atravessarmos as diversas décadas entre 1850 e o futuro, a desenvolver redes de transportes eficazes e lucrativas. Mais ou menos o que o Major Valentim Loureiro fez no Metro do Porto mas sem criar um buraco orçamental do tamanho do Grand Canyon.

Para os fãs do género começa a haver um interesse das muitas editoras de muitos dos jogos que encheram as prateleiras dos retalhistas nas décadas de 1990 e primeira metade da década de 2000, quando os tycoons moviam gente e eram partilhados entre os muitos PC Gamers, que experimentavam simuladores de gestão de coisas tão díspares como escolas e serviços de saneamento públicos. Transport Giant é mais um desses casos que foram trazidos desse período a funcionar nos computadores actuais. Um jogo de apresentação simples mas com uma grande complexidade na gestão e no equilíbrio da diversidade de transportes que temos à nossa disposição. Não é o melhor dos tycoons, mas é sem dúvida um grande ponto de nostalgia do género.

 

Ministério da Administração Interna

Na situação actual é sem dúvida um Ministério mais do que apetecível. Não esquecer que o último cargo ministerial do actual Primeiro-Ministro foi justamente a Administração Interna. Não, não estamos a falar de Passos Coelho que esteve até aos 42 anos como estudante universitário. Falamos do PM desta semana, António Costa.

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Quando assisti ao lançamento de Rescue 2: Everyday Heroes no Steam (que parece ter passado sob o radar, ou aliás, da sirene, de toda a gente) quis perceber a eficácia e a imersão de um gestor de serviços de emergência. Pensei à primeira vista que sendo um jogo de estratégia point-and-click que o jogo poderia tornar-se repetitivo após algum tempo, mas fiquei surpreendido com a constante complexificação dos nossos objectivos e dos nossos serviços.

A constante monitorização que temos de fazer da nossa cidade e dos recursos que temos disponíveis são um dos grandes desafios. É claro que dentro da tentativa de aproximação ao realismo de todos os passos que temos de cumprir para providenciar socorro em situações de urgência, acabamos sempre por sorrir um pouco com o tremendo azar que se abate sobre esta pobre cidade. São tantas as situações simultâneas em pontos distintos da cidade, que vão desde incêndios a vítimas inanimadas por electrocussão, que somos obrigados a um tremendo multitasking.

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Em qualquer das acções há uma grande atenção ao detalhe que me surpreendeu e agradou. Apagar o fogo não é uma tarefa simples de pegar num bombeiro, sair do camião e usar a mangueira para extinguir o fogo. Temos de conectar primeiro a mangueira a uma Boca de Incêndio, avaliar o tipo de fogo que existe, se é eléctrico ou químico, e percorrer uma série de patamares até podermos executar o combate ao fogo com segurança. O mesmo se aplica a transportar vítimas urgentes na ambulância. Não é de todo uma situação de 2 cliques e já está. Mas temos de precaver a segurança e os cuidados mínimos às vítimas antes de as carregarmos nas macas.

Rescue 2: Everyday Heroes não é um jogo relaxante e não mudará a vida de ninguém que o jogue. Mas dentro do género dos simuladores/gestores, conseguiu trazer uma visão diferente sobre algo aparentemente tão mundano quanto os serviços de emergência que nos rodeiam nas nossas cidades e pelos quais, felizmente, mal damos conta. E infelizmente, como um todo, raramente valorizamos.

 

Ministério da Energia

Vamos imaginar que Portugal é uma espécie de Arábia Saudita e que debaixo da planície alentejana existem grandes reservas de petróleo. Vamos imaginar também que à semelhança do Brasil, que não utilizaríamos esse riquíssimo recurso natural para desenvolver o País mas sim para enriquecer um grupo selecto de personalidades num sistema visível de corrupção. E seria nessa situação que um Ministro da Energia seria necessário: para permitir um desenvolvimento nacional com a exploração petrolífera ou para servir de banca do Monopólio e decidir quem teria as suas mãos untadas de dinheiro e ouro negro.

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Em Turmoil, o brilhante jogo da Gamious lançado no Steam em Early Access temos um simulador petrolífero em pleno século XIX nos EUA, o que equivale mais ou menos a Portugal de 1960 mas sem petróleo. Aqui vemos o crescimento da nossa cidade à medida que estudamos uma série de estruturas que nos permitam ter o maior lucro possível com o petróleo, rentabilizando a sua extracção e venda.

O excelente visual e o já bastante afinado ponto mecânico e estratégico em que o jogo se encontra demonstra-nos que apesar de ainda se encontrar em Early Access, que Turmoil será sem dúvida um dos grandes lançamentos indies dos próximos tempos, com uma excelente, contemporânea e apelativa abordagem ao género dos tycoon.

 

Ministério da Economia e da Defesa

Cenário hipotético: Portugal colapsa. Ao contrário do que eu dizia no primeiro FBNF? a derrota de Pedro Passos Coelho não regrediu o País à era medieval, e afinal os seus defensores e arautos tinham razão: PPC era uma espécie de D. Sebastião contemporâneo mas que nunca trabalhou na vida, e só nele residiria o sucesso de Portugal.

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Regrediríamos à era medieval e não apenas em Julho em Óbidos, e a economia e a guerra voltavam a ser abertamente uma e uma única coisa apenas. Como em Grand Ages: Mediveal, um jogo de estratégia eminentemente económico de domínio territorial que tivemos a oportunidade de jogar na Gamescom e que foi finalmente lançado.

Aparentemente estava escrita num livro sagrado qualquer que se o PS e o PCP chegassem algum dia a acordo que isso seria o Sinal dos Tempos, em que Jesus (o outro que não é o Jorge) chegaria dos Céus enraivecido pelo crescente Comunismo/Socialismo português e ia rever em baixa o investimento internacional em Portugal.