すべてのパンチ quer dizer “Todos à Porrada” em japonês – Parte 1

Lembro-me do que estava a fazer quando vi pela primeira vez o genérico d’Os Cavaleiros do Zodíaco no Canal 1. Estávamos em 1992, e apesar de ser um ávido consumidor de desenhos-animados e de ter devorado quase todas as séries, em especial as de acção, algo aconteceu quando esta música me despertou a atenção para a TV.

Ok, eu sei que o genérico é uma treta em português, mas não podemos esquecer que tudo ou quase tudo o que recebíamos de anime vinha da França, que foi sem dúvida a maior porta de entrada da animação japonesa na Europa (a par da Itália). E como tal o genérico é baseado na versão francesa e não no espectacular hard rock da versão nipónica. (…suspiro)

Os fãs da série tinham na década de 1990 a mesma esperança que os fãs de Dragonball Z: o de esperar ansiosamente um bom videojogo da série. DBZ teve essa promessa rapidamente cumprida, enquanto que Saint Seiya teve de esperar muitos anos. Com o lançamento de de Saint Seiya: Brave Soldiers em 2013 essa espera cumpriu-se, mas não de forma total. Para isso tivemos de esperar a versão updated desse jogo, lançado no final de Setembro deste ano. E a resposta para todas as ânsias dos fãs de Saint Seiya tem finalmente um nome:

Saint Seiya: Soliders’ Soul

Saint_Seiya_Soldiers_Soul

O facto desta ser a minha série favorita de anime* de sempre colocou um gigantesco peso na recepção deste jogo. Não tinha experimentado Brave Soldiers, mas por outro lado acho que a Bandai Namco tem feito um óptimo trabalho com as adaptações das diversas franquias que representa da Weekly Shonen Jump. E sejamos sinceros: depois dos muitos jogos de qualidade de DBZ, dos excelentes fighting games de Naruto e da excelente captação do ambiente de One Piece a videojogo, já era tempo de Saint Seiya ser “bem-tratado” neste meio artístico.

O primeiro impacto com este SS:SS demonstra logo alguma estranheza para quem não estiver habituado a fighting games da Bandai. O combate decorrer numa arena 3D mas com a câmara posicionada sob o ombro do nosso personagem, criando a necessidade de habituação para quem apenas contactou com 3D fighting games em que os adversários estão sempre perfilados e a encararem-se de frente.

Ao contrário de outros brawlers que necessitam de constantes investidas contra o adversário, em Soldiers’ Soul cada ronda decorre com uma grande dose de estratégia, paciência e timing. A AI facilmente pune-nos por não bloquearmos ou desviarmos os seus ataques, fazendo-nos perder grandes “nacos” de barra de vida com cada combinação. SS:SS é um jogo nada amigo de button-mashers, que rapidamente encontrarão a derrota com esse tipo de abordagem, e não poderia estar mais afastado de um feel arcade. Conhecermos os ataques normais, especiais e contra-ataques dos personagens (o nosso e o adversário) é meio caminho para sabermos para onde nos deveremos desviar, ou qual o seu comportamento.

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Mas conhecer a fundo todos os personagens é uma tarefa algo difícil: é que Soldiers’ Souls é o sonho de qualquer fã de Saint Seiya, tendo mais de setenta (sim leram bem, setenta!) personagens disponíveis, com armaduras secundárias e ataques especiais desbloqueáveis, apresentando um dos jogos com maior elenco jogável que já vi. Cobrindo os arcos narrativos principais da série, conseguimos aqui encontrar quase todos os Cavaleiros alguma vez criados para o anime, o que é surpreendente. E nós que nos queixámos do reduzido elenco disponível no último DBZ para 3DS

Algo também estranho para um fã de brawlers é a diferença notória de poder entre personagens. Temos de dar algum mérito aos developers por serem fiéis à história criada por Masami Kurumada e na óbvia e típica escalada de poder sucessiva que os diversos inimigos vão tendo. Não fosse Saint Seiya uma série shonen…Quando falamos da diferença de poder, referimos o ligeiro desnível que existe por exemplo entre Cavaleiros de Bronze (que não os protagonistas) e os Espectros de Hades. Derrotá-los não é tarefa fácil, mas é um óptimo desafio, que não se compara, por exemplo, a defrontar os Deuses de final de arco histórico. Isso é coisa para derramar aquela gota de suor na testa típica dos anime.

Saint Seiya: Soldiers’ Soul tem dezenas de horas de conteúdo. Seja entre o modo de história longuíssimo que nos vai fazer percorrer todas as batalhas dos diversos arcos da série, seja pelos objectivos que nos coloca em cada ronda e que nos permite desbloquear personagens, armaduras, entre muito outro conteúdo adicional.

Este brawler da Bandai é um bom jogo do género, mas parece-me que o combate em si poderá ser muito pouco apelativo para o fã generalista de fighting games. O combate é dinâmico dentro de uma estrutura interna muito própria, e é possivelmente um dos jogos de combate mais cautelosos e tácticos que já joguei, mas tem um ritmo mais compassado que afastará muita gente. Defender, desviar, bloquear, e contra-atacar sempre que possível, tentando aproveitar as fraquezas e aberturas dos adversários para conseguir desgastar a sua barra de vida. Isto sempre com um tremendo cuidado para não sermos atingidos, numa dança estranha que torna cada combate um tremendo desafio estratégico.

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Mas acima de tudo Soldiers’ Soul é um jogo obrigatório para os fãs de Saint Seiya. As potencialidades gráficas da geração actual permitiu uma exímia utilização da técnica de cel-shading, tornando os combates fluídos e criando-nos a ilusão de estarmos a ver uma série animada de forma tradicional. Com mais de setenta personagens disponíveis, com as vozes originais do animação, e todos os golpes e movimentos históricos da série, a mais perfeita simulação entre combate e anime traz-nos a derradeira experiência de Saint Saiya. A criança que há em mim regozija-se por finalmente ter encontrado o jogo baseado na série que lhe preenche as medidas. E o adulto que agora sou percebe que a espera compensou. Totalmente.

* alerto o facto de que a série de manga favorita é One Piece. Mas não sei se por nostalgia ou inovação, Saint Seiya sempre foi a minha série de anime favorita. E permanece até aos dias de hoje.