すべてのパンチ quer dizer “Todos à Porrada” em japonês – Parte 2
No artigo de ontem sobre Saint Seiya: Soldiers’ Soul esqueci-me de explicar o porque desta sequência que tão gentil e impronunciavelmente denominei de すべてのパンチ*. Por já ser trintão tenho uma grande ligação aos 2D fighting games, às sprites animadas dos jogos de arcadas que pareciam, aos meus olhos, tal-e-qual os desenhos animados. E cresci com uma grande ligação aos baluartes do género que teimavam em manter-se fiéis às origens do género, tais como a SNK, a Capcom (até uma certa data) e a Arc System Works.
O mercado dos fighting games teve o seu apogeu na segunda metade da década de 1990, com muitos clones a surgirem semanalmente para as diversas plataformas a tentar emular o sucesso comercial tremendo de Street Fighter e Mortal Kombat. Esta febre manteve-se mais uns anos e acompanhou a evolução da tecnologia, em que novos títulos de luta tridimensionais ganharam também destaque e passaram a ser “a norma”. “A norma” lá está, fora do território japonês. Que lá o bom e velho 2D fighting games com animações em sprite mantém-se até aos dias de hoje. E este ano já falamos pelo menos de 5.
O mercado dos fighting games lá teve o seu declínio e a perda de interesse na comunidade, caindo para o esquecimento no Ocidente até ao regresso em força de Street Fighter IV e Mortal Kombat (o reboot). Mas no Japão esta perda de fulgor nunca se sentiu. E algumas séries 2D clássicas que tiveram o seu início na época áurea do género conseguiram subsistir até hoje. E não há série maior neste sub-nicho do que Guilty Gear.
A jóia da coroa das propriedades da Arc System Works (a par da mais recente BlazBlue) é o jogo de luta cuja concepção proveio da mente (e da mão) do artista Daisuke Ishiwatari, que criou um elenco de personagens memoráveis, todos eles a piscarem o olho a lendas e bandas do rock e do metal. Guilty Gear conseguiu chamar à atenção do mercado num período contra-maré pela sua excelente direcção artística e combate frenético. E foi um dos grandes casos de sucesso de novas séries num período em que todo o mundo andava louco com Tekken e Virtua Fighter.
Guilty Gear Xrd – Sign – o mais recente título da série esteve nomeado nos últimos Game Awards como melhor fighting game, e com toda a justiça. Admito até que entre este Guilty Gear e o vencedor Mortal Kombat X ser-me-ia muito difícil escolher, o que significa que este ano foi um excelente ano para género, com mais do que um jogo a ganharem destaque pela sua tremenda qualidade.
À semelhança do que falei ontem no caso de Saint Seiya, a primeira coisa que sentimos que a evolução tecnológica tem contribuído para o género é no excelente nível visual a que chegámos. Se a arte de Ishiwatari sempre brilhou por entre os demais competidores, a decisão dos developers deste GG Xrd – Sign – em apostarem numa tecnologia de modelação/animação tridimensional com cel-shading colocou o jogo num patamar que nenhum congénere atingiu.
Basta vermos algumas das cutscenes (produzidas com os mesmos modelos de combate) e percebemos a direcção artística do jogo tomou, utilizando a tecnologia como forma de elevar a arte para outro patamar sem sacrificar a identidade da série. E neste sentido vale MUITO a pena assistir à apresentação de Junya Motomura na GDC, e perceber como foi possível “dobrar” a tecnologia para que os modelos tridimensionais fossem utilizados em todo o jogo, ainda que as cutscenes tenham iluminação “manual”.
O combate, esse, continua no mesmo patamar de excelência a que a série nos habituou. Combate intenso, cheio de animações vibrantes que o transformam num dos jogos mais dinâmicos que já joguei, exponenciado por uma barra de tensão, que nos obriga a estar constantemente em acção contra o nosso adversário. E sendo um jogo de luta de “seis botões”, os muitos ataques normais e especiais, para além do regresso dos Roman Cancels (que cancelam a animação de ataque do personagem), os Dust Attacks que projectam o oponente e o novíssimo Blitz Shield que nos relembra o nosso amigo Goku. E as Instant Kills é claro. Mas essas são prata da casa.
Guilty Gear Xrd – Sign – é um dos melhores jogos de luta a surgir no mercado, e visualmente o mais surpreendente. É impossível não ficarmos embasbacados com estes pseudo-sprites de alta resolução que o jogo apresenta, tornando-se o jogo (ilusoriamente) animado bidimensionalmente mais deslumbrante que já vimos, e esperamos que se torne o benchmark para muitas outras excelentes séries que o Japão nos brinda, muitas delas vindo da experiência e da mestria da Arc System Works.
* Obrigado ao Leonel que está a por o seu curso de Japonês em prática e que me ajudou com o título.