Ultimamente a minha vida de jogador transitou quase a meio termo para as plataformas móveis iOS. Gerir a vida de profissional, marido, pai e dono de cão, dificulta muitas vezes o tempo para jogar no PC ou nas consolas que precisam de mim em espaços partilhados pela família. A solução que encontrei foi dividir o meu tempo de jogo em dois: metade nas plataformas tradicionais e outra metade no iPhone e no iPad que pode muitas vezes ser jogado em momentos alternativos – na cama antes de dormir, numa fila para algo, à espera à porta da Zara e, sim, confesso, nas peças produzidas pela Porcelanosa, Roca, Sanibanho, Cipriano & Antunes, entre outros monstros da cerâmica.

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Entre as várias pérolas que o iOS esconde – como são os casos de Alto’s Adventure, Framed, Hitman Go, Cavernaut ou Super Sharp, entre muitos outros que me habituarei a escrever aqui sobre eles – existe muito jogo com compras integradas que entre outros ganchos comerciais usa trailers de vários jogos como moeda de troca. E é aqui que surge a surpresa: na maior parte das vezes a qualidade do trailer supera largamente a qualidade do jogo.

Curiosamente, no caso de alguns jogos com muitos milhões de downloads, a publicidade parece até ultrapassar o orçamento que custou desenvolver o próprio jogo. É por isso que ando fascinado com as várias publicidades ao jogo free to play Mobile Strike da Epic War. O jogo está entre o mau e o mediano, uma mistura confusa de jogo de estratégia com MMO, com um interface terrível de utilizar e com um Call to Action ou neste caso Chamada para Comprar, constante e intrusivo. Até aqui nada de novo num jogo fortemente baseado no conceito de compras integradas. O curioso é que isto deve estar a resultar, tal a dimensão do investimento publicitário.

Antes de voltarmos a Mobile Strike, quero lembrar algo que para mim foi uma enorme surpresa e fez-me conhecer uma realidade que desconhecia – parecida com o espanto quando percebi já muito tarde que gajos a gritar conteúdo vazio para uma câmara tinham milhões de visualizações. Este ano, durante o intervalo do Super Bowl – o espaço comercial mais caro por segundo do mundo – passaram três anúncios a jogos mobile. No lugar que antes estava reservado para marcas muito conhecidas de bebidas, carros ou outros produtos de massa, estavam agora jogos free to play, o que indicou que estes jogos geram milhões em lucros, muitos mais dos que já imaginávamos, mesmo sendo muito maus e constantemente intrusivos a pedirem-nos para comprar algo: Este, este, e ainda este:

Voltando a Mobile Strike, temos Arnold Schwarzenegger por todo o lado. Não só dentro do jogo mas também em vários spots diferentes. Isto mostra que o investimento neste género de jogos é gigantesco, mesmo que a aposta na qualidade dos mesmos não seja. Resta-nos esperar que no futuro estes jogos não afundem por completo as boas ideias, e as experiências que usam este meio para novas formas de jogabilidade inovadoras: Prune, The Room, ou Monument Valley. Os jogos com mais investimento publicitário já são aqueles que aparecem no top 25 das lojas e abaixo disso os jogos normalmente passam despercebidos.

O futuro nos dirá se as plataformas móveis vão continuar a ser um local onde aparecem surpresas e novas formas de jogar, ou se com o tempo a falta de qualidade vai exterminar de forma implacável os que tentam ir mais além. Se isto acontecer, então os nossos devices vão ter jogos tão manhosos como a piada que acabei de tentar fazer na frase anterior.