Análise a Aviary Attorney
Não são de borracha mas são galináceos. Mas também há psitacídeos, felinos, canídeos, entre uma mão-cheia zoológica que constitui o elenco do novo Phoenix Wright. Perdoem-me, Aviary Attorney. Não é Ace mas é muito parecido. E isto vindo de um seguidor e aficionado quase doentio da série da Capcom é dizer muito. Muito mesmo.
Originário de uma campanha muito bem sucedida de Kickstarter da parte do estúdio britânico Sketchy Logic, que se propôs a fazer um Ace Attorney de forma muito especial: misturar todo o conceito por trás da famosa série de visual novels legais da Capcom, mas utilizar um elenco unicamente constituído por animais antropomórficos. Eu sei que à primeira vista toda a gente está a pensar que Aviary Attorney é o filho que o tresloucado Phoenix Wright teve com algum personagem de Hatoful Boyfriend, mas eu vou mais longe. É que a memória de histórias legais relacionadas com aves já tem um exemplo, na genial série de animação da Adult Swim que utiliza animações clássicas da Hanna Barbera. Falo, é claro, de Harvey Birdman, a série de humor. É que aqui no jogo da Sketchy Logic também há muito humor, muitos trocadilhos aviados e muitas bocas aviárias.
Aviary Attorney decorre em Paris de meados do Século XIX, com os turbilhões políticos que se sentem na cidade, entre monárquicos, republicanos e até uma espécie de rebeldes anárquicos que por lá pastam. Corrijo, andam. Todas as mecânicas são decalcadas de Phoenix Wright, assim como todos os planos, transições, lógicas de diálogo, interrogação, investigação, e até o interface seria o mesmo se não tivesse uma estética tão forte. Mas em AA (leia-se Aviary e não Ace) há uma tremenda diferença que me agradou em relação ao material original que condignamente homenageiam: o jogo tem dias contados, ou aliás, a passagem do tempo é pré-definida. Antes da investigação sabemos que temos x dias até ao julgamento, o que, para quem está habituado a PW é perfeitamente normal. O grande twist é que as deslocações no mapa para investigação (ao estilo PW) têm usualmente o símbolo de um relógio o que significa que essa deslocação fará avançar o jogo um dia. E passados os x dias até ao julgamento, teremos de o fazer com ou sem a preparação/investigação que queríamos. O que não só dá um brilhante volte-face ao jogo, como nos coloca em situações estranhas de não termos como refutar as afirmações de algumas testemunhas, porque, por culpa nossa ou azar das escolha que fizemos para investigação, não tivemos tempo para conseguir encontrar a prova que melhor defende o nosso cliente.
O outro gancho que o jogo tem é a decisão estética de recriar o ambiente do Séc. XIX com a sua música e o seu visual. A quase totalidade do jogo é constituída por digitalizações de imagens de um dos históricos precursores da ilustração como a conhecemos hoje, Jean Grandville, cujos avassaladores cartoons políticos do início do Séc. XIX são a origem do elenco perfeitamente genial que constitui este Aviary Attorney. A música é constituída por orquestrações do compositor Romântico Camille Saint-Saëns, cujas composições permitem alicerçar ainda mais todo o ambiente que antecedeu a revolução da Segunda República.
Para minha surpresa (e de todos os que o compraram) percebi que o jogo não está completo, e um dos caminhos narrativos que me aconteceram por não conseguir provar a inocência do meu “cliente” levou-me até a um ecrã que avisava que daqui a uns dias o jogo já seria updated com esse ramo. O que me deixou a pensar: não é para situações destas que foi criado o Early Access?
O melhor: o visual e a música, o argumento, a inspiração em Phoenix Wright.
O pior: Ainda não está terminado, e foi lançado como tal.
Aviary Attorney é obrigatório para todos os fãs da afamada série da Capcom. Inspira-se nela, respeita-a, e cria uma excelente metáfora para toda a turbulência que Paris viveu em 1848. Temas sérios, com personagens exagerados e divertidos, diálogos tresloucados, pomposos e cheios de humor, fazem de AA uma das maiores surpresas do cair do pano de 2015.
Aviary Attorney é um exclusivo PC.