Não é novidade e não é por estar a dar mais atenção a estas plataformas de bolso, mão e colo. Já nos me top do ano passado estes jogos marcaram presença, com 80 Days – que com o recente “port” acaba por ser um dos jogos do ano 2015 no PC – e com Monument Valley. A razão é óbvia: com cada vez menos inovação e mais repetição nas consolas, é no mobile e no PC que está a surgir espaço para inovar. O difícil é por vezes encontrar estas agulhas nos palheiros, uma vez que a mesma razão que conduz à possibilidade de inovação (equipas indies que podem publicar nestas plataformas) também conduz à criação de demasiado lixo que teima em estar sempre ao de cima: dos maus clones, ao free-to-play, passando pelo early acess.

Estes três grandes jogos conseguiram porém destacar-se e furar através da multidão. Passamos então a apresentar, por ordem alfabética:

 

AZZL (iOS)

Não sei se AZZL foi pensado de raiz como um jogo para crianças mas o certo é que desperta a juventude em qualquer adulto. O jogo é uma mistura inteligente entre um desenho animado e um jogo de puzzle, que nos surpreende logo no arranque. O objectivo é simples: alinhar as peças no ecrã que, dependendo dos casos, podem ser rodadas, arrastadas, cruzadas, entre outras várias mecânicas para formar uma imagem certa, tal como se estivéssemos perante um puzzle tradicional mas com formatos de peças e formas de encaixar improváveis.

AZZL iPhone iPad

O melhor é que o fundo que estamos a tentar resolver é um vídeo cartoon em loop, cuja dinâmica funciona ao mesmo tempo como pista para a resolução do puzzle mas também como forma de nos confundir. A resolução dos puzzles nunca é difícil, embora alguns nos troquem literalmente as voltas. Já o prazer quando se termina cada um, esse é sempre o mesmo, principalmente porque somos sempre brindados com um twist humorístico ao vídeo que estamos a tentar organizar, naquilo que gosto de chamar o non-sense 101 para crianças e jovens.

AZZL_02

AZZL entra no top do ano pela forma como reinventa o género dos puzzles de peças e por o fazer recheado de um humor inteligente acompanhado de personagens tão divertidas quanto surreais.

 

Progress to 100 (iOS)

O primeiro contacto que tive com Progress to 100 foi numa apresentação no European Innovative Games Showcase, este ano na GDC Europe em Colónia. O EIGS é uma selecção dos melhores e mais inovadores projectos do ano na área dos videojogos e foi o painel mais interessante dos dois dias de conferência, devido ao grau de novidade e genialidade que estes novos criadores trouxeram para os PC’s, consolas, mobile e até plataformas híbridas como Realidade Aumentada e Realidade Virtual.

De todas as apresentações, Progress to 100 foi aquela que mais aplausos provocou. Não só aplausos. Ouviram-se gritos e pessoas levantaram-se. Progress to 100 é o que poderíamos chamar de One Trick Poney mas com uma variação: One Hundred Trick Poney.

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O objectivo do jogo não podia ser mais simples. Fazer o lado esquerdo do ecrã progredir até ao lado direito. No entanto, esta progressão pode ser feita com o toque de um dedo; com o toque de 10 dedos; com o toque de 11 dedos (cabe-vos descobrir como); a falar; a abanar; a fotografar; a estar calado; a olhar para cima; e até a encostar o nariz ao iPhone ou ao iPad. Progress to 100 usa todas as capacidades possível de um device da Apple e transforma-os numa mecânica, incluindo transformar em mecânica a mudança e activação de determinados settings no telefone ou no tablet.

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Progress to 100, mesmo sendo uma experiência curta, entra para o top por usar todas as funcionalidades dos iPhones e iPads e transformá-las em mecânicas de jogo que nos fazem rir a nós ou àqueles que connosco jogam.

 

Prune (Android, iOS, Windows)

Prune é um jogo que está também disponível em PC mas foi nos devices mobile que arrancou e se popularizou e é nos mesmos para os quais parece ter nascido. Arrisco-me a chamar a Prune o Journey dos tablets (embora também funcione nos telefones) porque o sentimento de viagem, de começo e chegada é o mesmo, mas nível após nível, com o mesmo cuidado e beleza tanto na arte como no ambiente sonoro e musical.

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O objectivo em Prune é guiar o crescimento de uma árvore até ao sol. Como acontece connosco, há um limite até onde uma árvore pode crescer, e cabe-nos a nós saber no que cortar e prescindir para alcançar o nosso objectivo. Os ramos da árvore vão crescendo e ramificando-se, e a nossa função é ir cortando bocados de forma a direccionar o crescimento, que poderá ter que procurar o sol à direita ou à esquerda, mais acima ou mais abaixo, contornar obstáculos, ou dividir-se em dois. Quando a árvore encontra o sol, floresce, e partir de um certo número de flores passa para o nível seguinte.

Aquilo que é um momento de relaxamento e paz, esconde por baixo um jogo de estratégia que se vai tornando cada vez mais difícil quanto mais progredimos, mas no qual é impossível perder – conceito esse não aplicável a um jogo destes. Apenas se recomeça com uma nova estratégia e com a aprendizagem dos erros anteriores. Prune é o No Man’s Sky das árvores, um crescimento gerado aleatoriamente que tem várias formas de ser resolvido, nunca iguais. Mas Prune é também muito mais que um jogo de puzzle, e ao longo do mesmo uma narrativa maior e tocante vai sendo revelada. Mas isso fica para vocês descobrirem, uma vez que o Rubber Chicken possui o selo de qualidade Spoiler Free (livre de ailerons).

Prune conquista o top de 2015 por esconder na aparente simplicidade, um jogo de puzzle complexo e com uma mensagem capaz de nos fazer escorrer as lágrimas no rosto.