Depois de termos andado a desbravar o universo multiplataformas de Albion Online, uns dias antes de 2015 encerrar ainda conseguimos fazer a antevisão a dois dos mais promissores MMORPGs do próximo ano: Black Desert Online e Blade & Soul.
Contra as minhas expectativas (e suponho que da grande maioria de pessoas atentas ao mercado dos videojogos), o género globalizado por World of Warcraft (que após tantos anos continua a trazer muito dinheiro aos cofres da Bilzzard) continua “a mexer”. E nem com os MOBAs, que sempre julguei serem os pregos finais no caixão dos MMORPGs o género pareceu desaparecer por completo. Muito pelo contrário. Receber o convite para três eventos Beta de três distintos MMOs no espaço de um mês mostrou acima de tudo que ainda há dinheiro a ganhar para as editoras. Mesmo que os jogos que jogámos sejam free ou buy to play.
Das duas propostas que jogámos, o primeiro mundo em que mergulhámos foi o surpreendente universo de fantasia medieval que existe em Black Desert Online. Produzido pelo estúdio coreano Pearl Abyss, este MMORPG deixou-nos logo conquistados pela aprimorada apresentação visual que demonstrou desde os primeiros teasers. E é ao mergulharmos directamente no jogo que percebemos a raiz do seu esplendor: a iluminação em tempo real que acompanha o ciclo de dia e noite do mundo e o seu sistema climático é perfeitamente cinematográfico.
À semelhança de uma certa tendência do mercado, em muito desbravada por Guild Wars 2 e pelas facilidades e potencialidades de conexão actuais, tanto BDO como B&S apostam numa abordagem mais Action RPG. Blocos, desvios, combinações e a primordial importância do timing são apenas algumas das condicionantes que rodeiam ambos os jogos e que tornam a batalha algo extremamente interessante, mais próximo dos blockbusters de consola do que dos clássicos MMOs, em que bastava um clique para que o personagem se deslocasse até lá.
De tudo o que joguei, parece-me que o ponto mais fraco (e talvez o único) que tenha sentido de Black Desert Online é a sua debilidade ao nível de interface. Se há um género que necessita de uma aprimorada elaboração de GUI são os MMORPGs, e o que existe neste momento em BDO é algo deficitário, fazendo-nos perder no caos e na confusão que preenche o nosso ecrã.
Por ter recebido ambos os jogos ao mesmo tempo decidi que ia dedicar um limitado número de horas a cada um, especialmente porque ao contrário do que eu próprio tinha anunciado no artigo de Final Fantasy XIV, parece-me que o meu adeus aos MMORPGs pode não ter acontecido. É que do que joguei de ambos, parece-me que houve um grande crescimento conceptual e mesmo de modelo de cativação para os seus mundos.
Black Desert Online apresenta-nos um mundo deslumbrante, verosímil, sem fast travel, e onde caminhar entre cidades é uma tarefa que tem sido percorrida a pé ou a cavalo. Neste sentido os automatismos ajudam imenso, já que é possível definir trajectórias para os cavalos trilharem, e durante o qual podemos simplesmente o maravilhoso trabalho que o estúdio Pearl Abyss teve em todo o jogo. BDO apresenta o visual que esperaríamos de um AAA single player, mas não é. E parece-me que a decisão de apostarem num modelo buy-to-play (semelhante ao que o GW tinha) poderá ser uma resposta para manter uma comunidade mais adulta e mais livre de trolls. O que ajudará imenso à seriedade e maturidade que este jogo com imensa violência gráfica, sangue e desmembramentos possui.
Blade & Soul tem mantido quase todo o Ocidente com os olhos postos, desde o seu lançamento na Coreia em 2013. Criado pelos mais do que experientes e veteranos da NCSoft, B&S tem conquistado toda a gente por trazer algo que não sendo inovador, está perfeitamente bem-conseguido: um setting totalmente oriental.
Ainda que ambos os jogos de que estamos a falar tenham alguns toques orientais na sua linguagem (e foram ambos desenvolvidos por estúdios coreanos), BDO tende a levar o seu ambiente para a fantasia medieval com laivos orientais, enquanto Blade & Soul é totalmente um mundo de artes marciais, senhores feudais e mitologia oriental.
À semelhança de BDO, o combate também é action-based, em que as combinações de golpes tem igual espectacularidade, relembrando o que de melhor tem saído em action RPGs single player. Blade & Soul tem um mundo menos realista do que BDO (se é que fantasia medieval pode algum dia ser apelidada de realista) mas é esse aspecto de tom artístico asiático contemporâneo que lhe dá todo o sabor.
Parece-me que ambos os jogos são um passo à frente no género, e cada um à sua maneira contribuirá (acredito) para uma revitalização dos MMORPGs no Ocidente. Mas como é expectável, os MMOs são jogos de entrega singular, e dificilmente conseguimos dedicar-nos a mais do que um em simultâneo. E ainda que tenha adorado Black Desert Online e tudo o que de exímio que irá certamente alcançar, há algo na forma como a NCSoft consegue manter um gancho aos seus jogadores. Comparando os prólogos de ambos os jogos, é mais do que óbvio que a veterania da NCSoft na concepção de Blade & Soul salta à vista, agarrando-nos desde o início da narrativa, aproveitando todos esses pequenos momentos para nos fazer um tutorial dissimulado, ao mesmo tempo que nos mergulha na perfeição neste mundo tão belo.
Black Desert Online tem essa falha, e percebemos que a imersão no jogo chega apenas algumas horas depois do seu início, quando já domesticámos toda a confusão que por ali ocorre. É claro que o enredo algo esquecível pouco ajuda a manter-nos conectados, mas quando o fazemos…percebemos o genial MMO que aí vem.
Este ano de 2016 será um excelente ano para os MMORPGs com dois exemplos de jogos soberbos que serão lançados e que trarão um novo fôlego ao género. Da minha parte, parece-me que já fiz a minha escolha. Ainda que BDO pareça tecnicamente mais surpreendente, o setting, a execução e o gancho constante que Blade & Soul me trouxe nas mais de dez horas em que lá “vivi” demonstraram que o meu regresso ao género está para breve. Dia 19 de Janeiro para ser mais específico.
Nota: um agradecimento e um abraço ao grande Rui Parreira da Bgamer que não só nos relembrou da beta de Blade & Soul como nos enviou códigos para a experimentarmos.