Atenção ao consumidor: O texto que se segue não passa de um pseudo-rant extremamente fraquinho em que o seu autor está a ser simplesmente um picuinhas e a “nitpicar” (essa palavra existe?) sobre uma coisa menos boa num jogo excelente. O Divinity: Original Sin Enhanced Edition é o melhor jogo de sempre, à frente do Shenmue, Final Fantasy VII e do Candy Crush. Pode conter vestígios de francês.

Ceci n'est pas un Ratatouille

Ceci n’est pas un Ratatouille

Sou capaz de estar a ficar velho. Quero dizer, isso não é uma possibilidade. É uma certeza inevitável. Estou mesmo a ficar velho. Tenho 32 anos e não vou ter 31 para o ano. Isto pode ou não ser relevante para o meu pensamento abaixo, mas sinto que preciso de dizer isto de forma a tentar justificar ou fundamentar o meu raciocínio.

Ao longo da minha não-tão-longa vida tive a oportunidade de jogar vários RPGs, fossem pen and paper ou videojogo (Western RPGs e JRPGs em igualdade). Para pessoas ainda mais velhas que eu, o pen and paper pode ter sido a primeira coisa em que meteram as mãos, mas para mim foi o inverso. Antes de ter jogado Dungeons & Dragons, Vampire The Masquerade ou Shadowrun numa mesa com dados e folhas de personagem, joguei Fallout e Baldur’s Gate no PC. Foram esses dois jogos os principais impulsionadores do meu gosto pelo roleplaying no geral.

Recentemente tive a oportunidade de jogar Divinity: Original Sin – Enhanced Edition na PS4 – um jogo atual feito à imagem dos RPGs da velha guarda – e devo dizer que foi uma experiência bastante desagradável. Quando o original saiu em 2014, em exclusivo no PC, foi premiado e laureado pela crítica como um dos melhores RPG do ano (a par de Wasteland 2). Perguntam-me vocês: “Como é que possível que a reedição de um jogo que ainda em 2014 foi um dos jogos do ano ter sido desagradável? Ainda agora fui ver ao Metacritic e a Enhanced Edition do jogo está no topo dos jogos de 2015 para a PS4, acima de nomes como o Fallout 4, Bloodborne: The Old Hunters, Destiny: The Taken King e outros demais.”

O problema está com este pequeno ponto abaixo, um dos muitos “enhancements” feitos ao jogo:

Release on the Playstation 4 and Xbox One: Now everybody can enjoy the game!
Controller Support: With the release to consoles, returning PC gamers will be able to use a controller to control everything in game.

O uso de um comando, de um gamepad, de um controller obrigou à Larian Studios a tentar adaptar os menus, o sistema de comandos e o gameplay – inicialmente concebido para ser jogado com um rato e teclado – e o que resultou foi numa mescla de menus nada práticos com demasiadas opções, pelos quais perdemos três vezes mais tempo a navegar do que no jogo original. São necessários vários passos para fazer uma coisa tão simples como interagir com algo no nosso inventário ou separar a party em dois grupos diferentes.

Inspira...

Inspira…

O gameplay sofre de uma ménagerie de problemas, principalmente na exploração. Na versão original para PC, podemos explorar o cenário e interagir com os objectos por ele espalhados passando com o rato por cima deles. Quando não os encontramos, carregamos em Alt e os objectos com que conseguimos interagir ficam iluminados. Simples, certo? Contudo nesta nova edição em que jogamos com o comando a situação tem um volte-face. Para podermos interagir com os objectos no cenário temos de andar até eles, mas prende-se o problema de haver tantos objectos pequenos que são difíceis de encontrar. Para isso os développeurs acharam que era boa ideia implementar uma espécie de “círculo de procura” (não sei como lhe chamar). Um tipo de “cercle de recherche” em que ficamos a pressionar a botão X e surge um círculo à volta do nosso personagem que, depois de largado o botão, nos dá uma lista de objectos com que podemos interagir perto de nós, que por sua vez cada objecto dessa lista tem a sua lista de acções que podemos usar para interagir com ele, acções essas que também podem gerar mais listas e menus. Tão prático como uma máquina de lavar loiça inteligente que só lava um prato de cada vez e te pergunta que detergente queres usar para cada prato e quantos segundos deve exaguar cada um, para logo depois de cada prato estar um brinquinho proceder a atirá-lo contra a parede. Magnifique!

Expira...

Expira…

A crème de la crème e a pièce de résistance ao mesmo tempo residem na execução mecânica desse mesmo “círculo de procura”. Para podermos procurar o chão à nossa volta é preciso parar, pressionar e manter pressionado o botão X, largar o botão X quando o tamanho do círculo chega a 100%, e só depois nos é apresentada a lista de objectos com que podemos interagir num raio de 2 metros à volta do nosso personagem. Não é possível procurarmos o chão aos nossos pés em movimento – é mesmo necessário pararmos e deixar o nosso personagem quieto cada vez que o queremos fazer. A minha primeira dungeon mais parecia um jogo de macaquinho do chinês, em que andava 2 metros; parava; procurava o chão à minha volta; via uma lista ou não de objectos com que podia interagir; e repetia esta acção a cada 4 metros que andava, como se o meu personagem estivesse a empunhar um detector de metais em vez de uma espada. É certo, parte disto prende-se com a minha natureza de looter, min-maxer e munchkin, que entra em casa das pessoas e leva tudo aquilo que não tiver pregado ao chão. Parte disto também deve ser culpa minha, mas cerca de 3 ou 4 horas após de ter começado a jogar já estava a evitar interagir com os objectos e a procurar o que estava à minha volta só para não ter o castigo de ver aqueles menus de novo. Só queria avançar na história e conversar com NPCs, com o ocasional combate – que consegue ser jogável se perdermos algum tempo a preparar as hotkeys que estão alocadas ao Triângulo para aceder a skills, feitiços e poções.

Infelizmente sou forçado por mim mesmo a discordar da crítica fortemente positiva da maioria dos media do meio. A transição de teclado e rato para comando ficou aquém do expectável e tornou este jogo bastante confuso e difícil de jogar – o que é uma pena. Não estou aqui a advogar a conceito idiótico de “PC Master Race”, mas este é um daqueles jogos que provavelmente não devia mesmo ter saído do PC. Ou então estou apenas a ficar velho.

And the aptly named "Sir Not-Appearing-In-This-Film"

And the aptly named “Sir Not-Appearing-In-This-Film”