Ele atravessa os campos desertos em busca dela. A Lua, omnipresente vigia-o a cada passo, a cada pausa, a cada desespero e a cada ânsia. Ele cansa-se das saudades que tem dela, apressa o passo, e começa a correr pelo prado à frente. Ele cruza-se com ela, mas ela ainda não lá estava, e tudo o que restou dela no prado deserto era o fantasma que ele projectou por procurá-la. Continuou sozinho, caminhou para casa, agora que sabia que não a podia ver nem a ia reencontrar desceu para baixo da terra onde a Lua não o via. E na escuridão do isolamento terminou o seu caminho.
Ainda ontem falávamos de indies vindos do Japão ou publicados pela editora AGM Playism, de onde também saiu o estranho Forget me Not, e hoje conseguimos jogar à curtíssima experiência narrativa que é Star Sky – ブルームーン (o amigo Google permitiu-se traduzir e saber que isto quer dizer Blue Moon, o título nipónico do jogo).
Star Sky é um walking simulator sueco em que apenas conseguimos andar ou correr para a direita. Narrativamente, e ainda que de forma muito fugaz, percebemos que o tom de todo o jogo é simples: a percepção da velocidade com que passamos por momentos da nossa vida e como não a desfrutamos como deveríamos.
Star Sky indica-nos muito pouco e apenas nos deixa em aberto a ideia de que às vezes quando passámos à pressa pelos locais perdemos a oportunidade de ver e viver algo único. A integração desta ideia (verdadeira) com as mecânicas de jogo são simples: é-nos impossível voltar para trás e tudo o que controlamos é o ritmo com que andamos para a direita, entre estar parado, andar e correr. Sabia a priori que este era um jogo curto, e quer teria de o terminar diversas vezes para perceber os vários caminhos possíveis dentro deste jogo de alguma forma, linear. Na primeira playthrough decidi correr desde o início ao fim do jogo, e terminei-o sem experienciar nada. Passei por uma mulher, cuja silhueta recortava-se pela iluminação lunar. Passei a correr, e ela ali permaneceu imóvel.
Num segundo playthough decidi parar em alguns pontos na expectativa de que alguns dos dezoito eventos que podem acontecer ao longo do jogo. À medida que algumas dicas sonoras apareciam, parei o personagem, e com isso pude observar alguns eventos. Dos quais o personagem colher uma rosa vermelha, que lhe permitiu aproximar-se da mulher que esperava numa clareira, que o recebeu com alegria.
Star Sky tem diversas micro-histórias a serem contadas na sua abordagem simples. Não tem a melhor das execuções ou durações, e o facto de ser um walking simulator afastará muita gente, ainda que os seus 4€ de custo no Steam (menos de 1€ em promoções) justifique a sua curta longevidade, assim como valida a experiência de uma abordagem conceptual que é uma metáfora eficaz à efemeridade dos momentos e a forma como passamos por tudo em passo de corrida, sem saborear o muito que ocorre ao nosso redor.
Ela seguia-o, de rosa na mão, e marcava o passo alinhada ritmicamente com ele. Ele corria e ela corria com ele, ele parava e ela parava atrás dele, como se as suas duas vidas fossem só uma. Chegaram a uma casa, numa clareira, à noite. Ela entrou, ligou as luzes, fechou a porta. Ele continuou sozinho, o seu caminho, num encontro furtuito que poderá repetir-se no dia seguinte. O amor entre ele e ela poderá despontar, para lá das margens do próprio jogo. Ele soube esperar, soube aproveitar e viver o instante. Ela sentiu-o e viveu o instante com ele. O futuro só ele e ela sabem. Nós nunca o saberemos, mesmos abrademos o passo e que fiquemos eternamente parados à espera do que pode acontecer.