Round 2

Escrevi este texto, não este, mas sobre a mesma coisa, só que foi num dia que eu estava tipo Bú a soltar alguma exaltação e quando fui reler não gostei dele. Achei-o uma merda, e decidi rescrever o texto, transpor as minhas ideias como deve ser. Será que vai ser um texto melhor? Não, possivelmente vai ser uma merda também, mas uma merda diferente.

Há várias coisas nesta indústria que me chateiam, várias mesmo. Mas há uma que me faz confusão, porque eu não consigo entender. Por defeito profissional tenho tendência a olhar para tudo de um ponto de vista de negócios. Passo horas a mais a calcular o que custa isto, o que rende aquilo, e acabo por olhar para a maior parte das coisas assim. E por isso é que eu não entendo os exclusivos. Tanto os exclusivos a sério, como os exclusivos temporários. Não há lógica para hoje em dia haver isso, salvo raras excepções.

Primeiro vamos fazer uma separação que depois vamos ignorar. O que são exclusivos e o que são exclusivos temporários?

Exclusivos são aqueles jogos feitos internamente pela própria marca. Por exemplo Super Mario e Legend of Zelda são exclusivos da Nintendo, Sonic era um exclusivo da SEGA para as suas próprias consolas. Exclusivos temporários são jogos feitos e distribuídos por empresas que não fabricam plataformas, mas cedem durante um período de tempo a exclusividade do seu jogo a uma marca.

No_More_Heroes

Agora que já explicamos isto, vamos explicar porque vou ignorar a separação dos dois tipos de exclusivos. Hoje em dia, depois da SEGA ter fechado a sua divisão de consolas, Sonic pode ser encontrado noutras plataformas, até jogos como No More Heroes que foi feito em exclusivo para a Wii foi lançado uns anos depois na PlayStation porque podia aproveitar o lançamento do Move. Portanto nem com a desculpa de ser para um periférico específico pode ser usado como desculpa. Se dá para adaptar de rato e teclado do PC para um controlador “standard”, quão difícil é fazer o mesmo para outros?

Não sei, não sou programador, não faço ideia, mas não deve ser muito diferente. Vamos ver o exemplo de ZombiU, saiu em exclusivo para a WiiU quando a consola foi lançada, já foi lançado em outras plataformas no ano passado incluindo PC. E agora podia estar aqui a discutir a diferença de um port para PC e um jogo deixar de ser um exclusivo, eu vou a considerar PC uma plataforma independente e por isso quando digo PC é o mesmo que dizer Xbox ou PlayStation ou Nintendo.

O jogo tirava todas as particularidades do comando da WiiU, e foi facilmente adaptado (suponho). Portanto porque raio há exclusivos?

zombiu

Vou fazer um exercício matemático. Os números são totalmente hipotéticos e simplificados, sem base nenhuma real.

Digamos que eu tenho um jogo que vou vender e no mundo há 100 plataformas apenas, 25 são Playstation, 25 são Xbox, 40 são PC e 10 são Nintendo. Eu faço um contracto exclusivo com a PlayStation que me paga €1000 para poderem vender o meu jogo em exclusivo durante 24 meses que vai ser posto à venda por €80 a unidade e eu recebo um royalty de €5 por venda, oposto aos habituais €10. Aceito. Vamos fazer contas?

25 x 80 = 2000

25 x 5 = 125

1000 + 125 = 1125

2000 – 1125 = 875

Aqui, estou a assumir que toda a gente que tem uma PlayStation vai comprar o meu jogo durante os 24 meses. Isso nunca iria acontecer, na melhor das hipóteses 40%, ou seja 10 unidades. Portanto:

10 x 80 = 800

10 x 5 = 50

1000 + 50 =1050

800 – 1050 = -250

Portanto, quanto é que eles ganharam? NADA! Perderam dinheiro! Mesmo que o meu jogo fosse criar algumas vendas de consolas, seriam assim tantas para compensar o exclusivo?

E se eu vender em todas as plataformas e receber uma royalty de €10 não fico a ganhar? Mesmo que o jogo fosse vendido a €50 por não ser exclusivo e eu venda às 40% na mesma?

PlayStation:

10 x 50 = 500

10 x 10 = 100

500 – 100 = 400

Xbox:

10 x 50 = 500

10 x 10 = 100

500 – 100 = 400

Nintendo:

4 x 50 = 200

4 x 10 = 40

200 – 40 = 160

PC:

16 x 50 = 800

16 x 10 = 160

800 – 160 =640

Machado Games: 100 + 100 + 40 + 640 = 880

Não ganharia tanto como se vendesse 100% numa marca, ou mesmo 40% a um preço abusivo por exclusividade, mas a probabilidade de vender a 40% de um universo é muito optimista, portanto para quê limitar esse universo?

 

TR

Não consigo perceber o lado da marca, e não consigo perceber o lado do estúdio. E se querem que seja um exclusivo, porquê temporário? Olhemos para Rise of the Tomb Raider exclusivo Xbox One durante 3-15 dias, e já se pode comprar em PC, ou pelo menos encomendar. E antes do final de 2016 podemos ter em PS4. Para quê o exclusivo? Acham mesmo que o jogo X vai criar mais vendas se for vendido apenas para uma consola durante um ano? Acham que se eu tenho uma PS4, e sou um fã incondicional de Tomb Raider, vou comprar uma Xbox em vez de esperar um ano para que seja lançado na minha (durante o qual bugs e falhas vão ser corrigidas)?

O pior de todos, foi quando vi que DC Universe Online está agora disponível para Xbox One para celebrar o seu quinto aniversário?!??!?!

Um jogo que começou pago, depois passou para free to play, e pay-to-advance ou pay-to-win, e não estava espalhado pelo máximo de plataformas possíveis?

Mas esta gente não pensa numa perspectiva económica, ou então tem uma perspectiva económica que eu não entendo?

dcuo

E quem fala nestes, pode mencionar tantos outros assim como os DLC exclusivos….

Vou ficar por aqui, o que eu queria era lançar um tema de discussão. Além de espalhar charme e classe no mundo eu tenho uma missão que é a de espalhar caos e confusão, portanto aqui vai a pergunta:

Exclusivos: Fazem sentido ou são um problema da indústria?

(aceitam-se variáveis do tema para debate)