Pang. Super Pang. Tivesse a série da Capcom cujo título original é Buster Bros. mantido a tradição da companhia e teríamos hoje Ultra Pang, Hiper Pang, Uber Pang e desde as Presidenciais Marcelo Pang. Mas não, a série que tantas moedas de 20$ e 50$ me (nos) comeu no início da década de 1990 ainda teve uns últimos fôlegos que despontaram em 2010 com o último lançamento, PANG: Magical Michael, e depois, como o menos teimoso dos piolhos, desapareceu.
O mundo tem avançado a um ritmo vertiginoso, e o mercado dos videojogos avança com ele, às vezes à frente, às vezes ao lado, e muitas vezes atrás. Só isso justifica a morte anunciada de alguns géneros, o surgimento de outros novos, e o ressurgimento de géneros que pensávamos extintos. Tudo isto de uma forma orgânica, mutável, e que só nos apercebemos a jusante dos acontecimentos.
É curioso vermos que os vertical e horizontal shooters, e os seus filhos, os bullet hell desta vida acabaram por esmorecer com o desaparecimento da mentalidade arcada e o advento do 3D. Só não ficaram esquecidos graças à febre nipónico que decidiu escalar o género a níveis de dificuldade sobre-humanos, e globalmente pelo contributo que muitos e muitos indie developers que assim como nós, também, eles cresceram com muitos destes jogos.
Bug Butcher é uma homenagem indie a Pang e Super Pang, e a um tempo em que balões saltitantes fizeram mais por estimular o desenvolvimento dos nossos reflexos do que dezenas de aulas de Educação Física. Se Pang nos trouxe uns assustadores balões cujas motivações maléficas passavam ou por conquistar o mundo, ou fazer subir as taxas de juro, ou vetar a lei da adopção de crianças por casais homossexuais, Bug Butcher põe-nos no papel de um… bem… o nome é explícito não é? Somos um exterminador, mas não daqueles implacáveis que correm atrás das pessoas completamente nus. Somos um corajoso trabalhador num fato HAZMAT com uma série de pulgas e carraças e outros insectos mutantes alterados por uma central nuclear ou pelos Cursos de Verão da JSD.
À semelhança do clássico Pang, só conseguimos deslocar-nos na horizontal e apontar (e disparar para cima), e, também à semelhança com o velhinho jogo da Capcom temos muitos destes insectos e outros vermes rastejantes subdividirem-se e a multiplicarem-se, como jotinhas em vésperas de entrega das listas partidárias para as Legislativas.
O jogo é completamente arcade no seu feel, e o desafio está lá presente equiparado ao das máquinas de arcadas. À medida que os níveis vão avançando e o número e resistência dos inimigos aumenta, começamos a suar para conseguir sobreviver com os nossos parcos “corações” até ao final do nível. Admito que já andava nos últimos níveis quando percebi que podia fazer upgrade ao personagem, o que inclui melhorar a sua arma-base e a única que teremos sempre disponível durante todo o jogo. Talvez sejam os bons (ou maus) hábitos de outros tempos e outros jogos em que os upgrades eram inexistentes, e apenas a habilidade contava.
Bug Butcher não dispõe de grande diversidade de armas, e quase todas elas são utilizáveis apenas momentaneamente. A diversidade dos inimigos também não é a maior, mas é à medida que os seus padrões de movimento se intensificam que começamos a ver mais vezes a mensagem de final de jogo. Ou quando alguns rastejantes capturam com a probóscide os nossos fiéis NPCs, estrangulando-os até à morte e fazendo-nos perder o jogo. Ou quando o malogrado cronómetro chega a zero sem que tenhamos conseguido exterminar todas as as vagas de bicharada. As formas de perder o jogo são mais do que as condições que nos levam à vitória.
Bug Butcher preenche-nos a memória no espaço ocupado outrora por Pang. Desafiante, simples na sua premissa, bem-executado e com a possibilidade de multijogador local. Podemos pedir mais a um sucessor espiritual de um jogo que nos fez vibrar há mais de 25 anos?
https://www.youtube.com/watch?v=Fz5Oq6577Xc