The ABC Murders, um dos casos mais interessantes criados por Agatha Christie foi transposto para PC pela Microids e Artefacts Studio e como sou um fã de policiais, tanto em livro como filme, e já li todos os Sherlock Holmes, Poirot, Miss Marple e afins porque há algo na mente criminosa que em fascina, que me atrai, este point and click está a navegar nas minhas águas.

Point and Click e mistérios de Agatha Christie são óptimos elementos para criar jogos, gostava de ver um sobre o meu favorito Murder in the Orient Express.

A sinopse do livro é simples, e resume igualmente o jogo:

“Um assassino em série anda à solta e está decidido a matar de acordo com as letras do alfabeto. Em jeito de assinatura, ele deixa junto ao corpo de cada vítima um exemplar do ABC, um guia dos caminhos-de-ferro, aberto no nome da cidade em que o crime foi cometido. Tendo começado em Andover para facilmente se deslocar para Bexhill e depois Churston, tudo indica que o assassino vai conseguir chegar ao fim do alfabeto. Mas a vaidade leva-o a desafiar Hercule Poirot, e esse é um erro pelo qual vai pagar muito caro…”

E basicamente é isto, teremos que investigar os crimes, e descobrir que é o misterioso ABC, possivelmente uma das melhores criações da autora britânica.

O problema, meus caros, é que este jogo tinha tudo para ser genial, não fosse uma falha crucial. Pensando bem, é tal e qual o mítico crime perfeito, não existe, porque tem sempre algum erro. Portanto, vamos meter as celulazinhas cinzentas a funcionar, sentar todos os factores numa sala e perceber porque Agatha Christie – The ABC Murders é culpado do mais horrendo dos crimes, o de o jogo com potencial desperdiçado!

Foste tu… Visual cel-shaded limpo e de cores vivas, com cenários bem construídos que me iludiram. Mas não és o culpado. Graficamente não tenho nada a apontar contra The ABC Murders, apesar de não serem ultra-realistas ou de uma beleza ao nível de outros títulos, estão muito bons para este tipo de jogo. Contudo, tu… voice acting, também tens a tua culpa!

Mas pela positiva, porque estás fantástico. Ok, estás bom. Não és um Peter Sellers ou um David Suchet, mas tens um certo savoir faire, que está no ponto. Já agora, alguém sabe como se diz savoir faire em francês? Cenários em duas partes… foste tu! Que conseguiste criar um ambiente envolvente e ao mesmo tempo expansivo no qual nos sentimos confortáveis o suficiente para investigar os crimes à vontade.

Mas… foste tu que estragaste tudo, sistema de investigação básico e simplista! Isto é um jogo de mistério, de investigação, mesmo sabendo quem é o criminoso à partida por já ter lido o livro, visto o filme ou ouvido falar dele, o que importa aqui é o caminho. The ABC Murders leva-nos pela mão do início ao fim, dá-nos poucas hipóteses para errar e mesmo nessas dá todas as indicações possíveis para não falhar. Algo que me agrada num jogo destes, particularmente quando estou a tentar resolver um enigma, é aquela ideia constante de “o que me está a falhar?”. Aqui isso não acontece. Assim que entramos numa área de investigação ou observação é-nos apresentado um contador de pistas. Sabemos imediatamente que temos que encontrar 2,3 ou 5 coisas naquela imagem. Não há hipótese de errar. Obviamente que não tenho saudades dos velhos point and click que tínhamos que encontrar um pixel aleatório e sem sentido para resolver o enigma, mas para ser mais fácil, só mesmo se tivesse uma seta a piscar e a dizer “pista”! E isso é uma ofensa à Agatha Christie.

Infelizmente, The ABC Murders podia ser um óptimo jogo de investigação para quem sente falta destes, mas no fundo é apenas um bom jogo de iniciação aos mesmos pela facilidade, é só e simplesmente… elementar meus caros jogadores.

Facto curioso acerca do título do artigo: ao contrário do que toda a gente pensa, em nenhum dos 56 contos ou 4 romances de Sherlock Holmes, está escrito “Elementary, my dear Watson”.