A fórmula de Monster Hunter é daquelas em que eu várias vezes assumi uma grande dicotomia interna. Por um lado o meu reconhecimento da qualidade e do aprimoramento de todas as mecânicas de grind de componentes para fabricar armas e armaduras e o tempo que estas exigem, e por outro o meu desconforto e o desinteresse que progressivamente fui sentido em relação à série da Capcom, pela extrema dedicação a que obriga. Todas as minhas tentativas de mergulhar neste mundo e neste mindset foram infrutíferas. Saber que este Final Fantasy Explorers não é mais do que a aproximação das lógicas de MH aplicadas ao setting da série da Square Enix não serviu como grande ponto de entrada.
O primeiro impacto com este Final Fantasy Explorers demonstra a proximidade que existe com a estética do fabuloso Bravely Default. Figuras encurtadas, quase-chibi, numa tentativa da Square Enix de criar um fio-condutor visual para as suas criações para a portátil da Nintendo. Ainda assim, e talvez fruto deste jogo ter sido originalmente lançado no final de 2014 (e de só agora ter chegado ao Ocidente), toda a presentação gráfica parece-nos datadas. Até para mim que raramente questiono o grafismo como parte essencial da avaliação (leia-se grafismo, e não estética) sinto que há algo de perfeitamente extemporâneo neste FFE, que é ou culpa das limitações técnicas da 3DS ou decisão da própria Square Enix. Ou de ambos.
Mecanicamente, FFE não poderia ser mais Monster Hunter, tudo muito directo ao assunto e “meia-bola para a frente”. Temos uma aldeia, que funciona como hub central, e onde decorrer toda a acção (e parco enredo) entre missões. Refiro o parco enredo porque como é apanágio da fórmula Monster Hunter, a narrativa é um mero enchimento entre os momentos de acção, e não tem, de forma alguma, uma preponderância perante o ónus de todo o jogo.
Há muito do ambiente natural de Final Fantasy, desde as muitas criaturas que defrontamos até ao sistema de classes. São 21 as diversas “profissões” que podemos ter, e que remetem para o habitual de Final Fantasy, com White e Black Mage, e Thief a levarem-nos para o primeiro jogo da série. Esta diversidade de classes encaixa na grande necessidade de preparação pré-quests que aqui temos. Que é, obviamente, retirada de Monster Hunter.
Algumas horas de jogo decorridas e há algo que fica perfeitamente percepcionado: Final Fantasy Explorers é um Monster Hunter, mas é uma versão de 2ª categoria da série da Capcom. É repetitivo e grindy como MH, na necessidade que temos de conseguir os ingredientes para construir armas e armaduras avançadas. É focado na caça-recolecção, e na monotonia (para mim) que dá o tom à série. Mas aquilo que me faz achá-lo mais agradável que Monster Hunter é também aquilo que o torna mais insípido, e em muitos aspectos, mais casual. As missões são curtas (o que do ponto de vista de gestão de tempo é uma mais valia porque permite-nos fazer uma incursão de exploração em 5 minutos) é também aquilo que deixa FFE na superficialidade. Há menos investimento do nosso tempo, mas a repetitividade torna-se ainda mais evidente por terminarmos missões e lá regressarmos ad nauseam.
O combate é bem menos rígido do que o de Monster Hunter e foi esse o espírito que me trouxe alguma diversão nas primeiras horas. Com uma dinâmica táctica mas menos exigente que em MH, FFE consegue manter o combate fresco com a sua fluidez e a sua quase interminável lista de habilidades, quase todas incrementadas efeitos de Crystal Surge. À medida que vamos combatendo vamos enchendo um contador que nos dá acesso a buffs baseados nos poderes dos cristais. Não, não são aqueles da senhora da manhã da TVI, são os cristais próprios do setting de Final Fantasy Crystal Chronicles e afins.
Outra boa inspiração em Monster Hunter e que é tão atípico de Final Fantasy é a possibilidade/necessidade de jogarmos em modo cooperativo com outros jogadores online. À falta destes podemos preencher as restantes três slots da party com monstros que vamos capturando, fazendo-os desta forma evoluir em combate.
Final Fantasy Explorers tem uma série de linguagens muito suas aliadas à base perfeitamente identificável de Monster Hunter. Infelizmente, estas “inovações” não servem para eclipsar o brilho da série da Capcom, que ainda que não seja algo que eu deliberadamente dedique o meu tempo, mas que consigo reconhecer-lhe a qualidade que se tem traduzido num tremendo sucesso comercial e crítico. Parece-me que para este início deste ano o peso da responsabilidade de fazer o nome Final Fantasy brilhar cabe a algo que nem carrega essa nomenclatura. Falo de Bravely Second obviamente. Que é infinitamente mais Final Fantasy do que este Explorers alguma vez será. E que fica naquele limbo do não-é-carne-nem-peixe de não ter a qualidade de outros spinoffs de FF, nem sequer de chegar perto de MH.