Black Chicken

Cá estou eu novamente. Aqueles que me julgavam fora deste meio, desaparecido, enganem-se. Eu estou sempre presente e observador. Mas antes de desenvolver o assunto, quero aqui deixar bem claro que não sou apadrinhado, não sou doutor, não sou nem historiador, nem programador, não nasci num berço de ouro, não tenho cunhas nem um pai que foi importante, nem tão pouco contribuí para esta indústria tão brilhante e rica em “bons exemplos”.

Encarem isto como um bom aconselhamento ou como sugestões humildes.

É engraçado que como nasci e vivi numa cidade que sempre foi um ensaio sócio-económico com experiências de ideologia política, desenvolvi um espírito crítico que me dá uma certa fama de “destruidor de sonhadores”.

Portugal até tem bons exemplos, destacou-se durante décadas em diversos sectores, como o calçado, a indústria metalomecânica etc., mas também ainda temos na nossa veia aquela capacidade para nos aproveitarmos das modas. Gostamos de importar modas e ostentá-las. Temos um ego demasiado grande para o nosso tamanho.

Falando de videojogos (afinal de contas é para isso que cá estou) em Portugal esta indústria em algumas ocasiões piscou-nos o olho, mas pouco soubemos fazer. É justo dizer que a parte económica é muito importante e nesse processo salvo erro passamos por 3 crises económicas. Mas não é nisso que quero falar.

Existe malta muito espertalhona e que não perde uma oportunidade para tentar ganhar mais fazendo menos. Correção: fazendo nenhum. E isso é muito mau, na medida em que é um risco e porque corre praticamente sempre mal, além de não dar prestigio a ninguém.

Enumerem-se, então, os 4 pecados de que acho que a “indústria” portuguesa de videojogos padece:

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1) Na minha terra chama-se “garganeirice”; um combinado de se ser ganancioso com ter mais olhos que barriga. A visão de que se pode ter lucro fácil é sempre uma armadilha.

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2) Inventar números. Dado que em Matemática grande parte dos portugueses são um zero à esquerda, não seria grande novidade esta de se inventarem números. Uma das grandes ferramentas de divulgação de videojogos é a imprensa e, neste país à beira-mar plantado, a imprensa especializada mistura-se entre o amador, o profissional que pensa que é amador, o amador que pensa que é profissional, os que têm a mania que são doutores como estes gajos do Rubber e os azeiteiros que julgam que têm uma bola de cristal que dá números à sorte como na lotaria. E porque é que isso é mau? Porque dizer que as coisas estão de boa forma e saúde é ignorar o que realmente se passa, o que nos passa ao lado e o que realmente interessa. Não podemos tapar buracos sem saber quem os anda a abrir.

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3) Pedinchar. Quer seja pedinchar por likes no greenlight ou pedinchar reviews floreadas com o slogan “apoiar o que é Nacional”. Campanhas à Tino de Rans é algo que não me assiste, é necessário ter os pés bem assentes na terra. Mérito é uma qualidade muito menosprezada. Lá por algo ser vendido numa loja de renome francesa, com um lindo pacote, não quer dizer que o interior cheire bem.

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4) Esta é a última mas não a menos importante: é também já um vício a que eu chamo o “síndrome do patrão que tem uma quinta de burros todos eles a puxar uma nora a olhar para uma melancia”. Vou explicar para quem não percebeu: há quem goste de trabalhar de graça, nem que seja para receber um pastel de nata ou um bilhete para o Iberanime. É lá com eles, mas assim também não chegam a lado nenhum. Se gostam de ser explorados por um espertalhão que prefere gastar verba em putas e vinho verde ou iPhones revestidos de diamantes em vez de investir em alguém que trabalhe e saiba trabalhar, realmente não chegamos mesmo a lado nenhum.

Portugal tem que aprender com os bons exemplos de lá fora, não repetir os maus. Tem de sobretudo saber olhar para si e distinguir o que está ao nosso alcance. E, acima de tudo, tem de ser mais humilde.