Eu queria que a Caçada Semanal fosse realmente…semanal, mas não tem sido possível. Na maioria das vezes esta pequena montra de sugestões de quais os jogos indies que fizemos antevisão e que aconselhamos a serem jogados é usualmente preterido por artigos individuais para os muitos e muitos jogos independentes que chegam à equipa a cada semana. Esta semana trazemos três jogos bem distintos, um que remete para um ambiente medieval, outro para um futuro à-la Star Trek e outro para uma realidade alternativa steampunk.

Spacejacked – de metroidvania a tower defense

Se tenho um fraquinho histórico por metroidvanias, tenho também um imenso fraquinho por tower defenses. Apesar de ser “chão que deu uvas” e que muita gente o olha de soslaio, eu continuo a surpreender-me com algumas propostas criativas em torno de um género que aparentava não ter muito mais para oferecer.

Spacejacked

Spacejacked começou em 2013 como uma tentativa do estúdio Rotten Mage, de Singapura, de criar um metroidvania com mecânicas de alteração de gravidade. Ao longo do desenvolvimento houve uma noção de que a ambição poderia estar a escapar do controle das suas próprias capacidades e decidirem fazer um auto-tone down e aplicar estas mecânicas a um arcade tower defense.

Senti uma gigantesca curiosidade no facto de que para um jogo de tower defense, as componentes típicas do género estão tão bem dissimuladas em tudo o resto que acabam por ser apenas mais uma mecânica. Sem sombra-de-dúvida que o grande foco acaba por ser a componente arcada de shooter-platformer, em que controlamos o protagonista numa série de ecrãs a derrotar waves atrás de waves de alienígenas. Mas, com um grande twist: podemos inverter a nossa própria gravidade e oscilar entre andar no tecto e no chão apenas com um simples toque do D-Pad, fazendo da difícil missão de derrotar todos os inimigos um desafio ligeiramente complexo.

Spacejacked

Spacejacked tem um Story Mode que serve de espinha dorsal a todo o jogo, e no qual temos de saltar de ecrã em ecrã a defender a tripulação da nossa nave, assim como cada uma das salas que a constituem da destruição alienígena. E ao contrário de outros TDs em que temos de focar todos os nossos recursos na defesa de um espaço, o facto de termos de defender vários mapas em simultâneo dá-lhe um desafio e complexidades muito interessantes.

Spacejacked tornou-se facilmente uma das melhores propostas de Tower Defense que contactei nos últimos tempos.

 

Acaratus – mechas steampunk e coisas que tais

A Ana Malhoa tem o tropical urbano, mas Acaratus, ainda em Early Access, tem o Steampunk medieval. Acaratus é um jogo simples, pelo menos nesta fase alpha em que não possui modo de história ou modo single player, e apenas permite escaramuças (a palavra skirmish é tão mais forte). Espera, um jogo em Early Acess sem conteúdo single player. Onde é que eu já li isto?

Acaratus (1)

Há umas semanas o João falava do regresso de Robot Wars e eu instintivamente lembrei-me dele quando comecei a jogar este jogo do estúdio Nodbrim Interactive. Porém, aqui em Acaratus as coisas são bem diferentes do visual robot-feito-na-garagem-com-o-que-há-disponível e tem muito maior proximidade com Medabots, uma série que eu gosto mais do que algum dia iria esperar (tanto que rejoguei o primeiro jogo da série no ano passado).

Aqui temos de construir uma série de mechas steampunk parte-por-parte, definindo que armamento deverá ter, qual o seu tipo de locomoção, qual o tipo de defesas (se é que tem), tendo em conta os custos/benefícios, as mais-valias passivas que trazem e o peso combinado e as necessidades energéticas de todo o conjunto. Depois é só pegar nesses mechas que construímos e ir para skirmish por turnos, num tabuleiro quadriculado, com outros robots comandados pela IA.

Acaratus (2)

Acredito que as adições das cartas jogáveis (que servirão como poderes activos e passivos aos mechas) e os cenários “roguelike” tragam alguma densidade a um jogo que tem algum potencial, e que poderá ser uma boa aposta dos jogos de estratégia por turnos. Mas mesmo nesta fase admito que é bastante divertido construir o nosso batalhão por partes, e lutar 4×4 em pequenos mapas.

 

Fairytales: Three Heroes – o mistério russo

Procurar pela internet por este jogo é infrutífero: ninguém o analisou, ninguém falou dele, está a 4,99€ no GMG e a 9,99€ no Steam. Procurar pelo estúdio russo Cats Who Play dá melhores resultados, e sabemos que para além deste jogo (do qual já falamos) e que têm um jogo com óptimo aspecto em Greenlight, um tactical-game policial chamado HTPD: Force of Law.

Fairytales: Three Heroes foi um daqueles jogos que por acaso das probabilidades me foi sugerido pelo Steam. Um action RPG que mistura personagens russos com um ambiente medieval eno qual temos à nossa disposição três personagens distintos e podemos ir alternando o controlo de qualquer um deles durante a jogabilidade.

Fairytales Three Heroes (1)

Decidi contactar os developers para o experimentar, ainda que tenha saído em Setembro do ano passado e o mundo aparentar nem ter dado por isso. E pedi-o porque estava interessado na profundidade da narrativa destes três heróis, na forma como as suas vidas foram bravamente postas à prova por uma série de provações, e se isso os faria desenvolver-se como personagens ao longo de toda a história.

Estou a brincar, contactei-os porque a estética deste Fairytales: Three Heroes, com o seu visual colorido e muito cartoonizado pareceu-me muito acima da média, e, usando a expressão popular, “encheu-me os olhos”. Temia, porém, que todas as mecânicas associadas à parte de action-RPG falhassem e que toda a atenção tivesse sido dada ao visual. Felizmente que estava errado. Este é um exemplo de um jogo muito bem desenvolvido e com uma óptima apresentação, e que, possivelmente por incapacidades de marketing, não chegou à voz de ninguém dos media.

Fairytales Three Heroes (2)

E por falar em voz, há que admitir que o narrador com um sotaque inglês-russo transmite o tom perfeito a todo o ambiente do jogo.