É um contra-senso regressar a um sítio onde nunca estivemos, mas acho que este estranho não-déja-vu é a sensação generalizada de todos os jogadores que jogaram o recém-lançado Return to PopoloCrois: A Story of Seasons Fairytale. Um pouquinho de pesquisa mostra-nos que PopoloCrois teve bastante sucesso no Japão desde o seu primeiro jogo, lançado para a PS1 em 1996, mas que apenas em 2005 teve um jogo a ser lançado no Ocidente, e que foi, ironicamente, o último a ser lançado até então.
E qual a melhor maneira de facilitar a entrada de uma série num novo mercado? Fazer um crossover com uma franquia bem-estabelecida e com uma demografia e público-alvos semelhantes. E é fácil apontar o dedo ao porquê desta improvável ligação, é que como iremos ver um pouco mais à frente, Harvest Moon surge aqui como um trampolim a PopoloCrois, e tem muito pouco destaque no coopto geral do jogo. O que não significa que este Return to PopoloCrois seja um mau jogo, que não é, de todo. É até uma das mais inocentes manifestações do género.
PopoloCrois é um JRPG terno cujo enredo gira em torno do Príncipe Pietro e da sua paixão pela bruxinha do reino. No seu 13º aniversário acaba por ter um pequeno incidente que o leva para muito longe do seu reino, e Return to PopoloCrois tornou-se a história da jornada de Pietro para lá regressar (portanto é o regresso dele a PopoloCrois, e não o nosso). É claro que isto poderia parecer simples, não fossem uma série de criaturas de trevas estarem a apoderar-se das terras férteis de PopoloCrois e dos reinos vizinhos e esterilizar os solos. Compete-nos a missão de ser um herói “das Fadas e da Natureza” e expulsar esta corrupção das terras aráveis. O que até é uma justificação curiosa para misturar um JRPG com um simulador agrícola.
Fica a ideia de prestar a devida homenagem ao Eng. Sousa Veloso e fazer um WRPG agrícola para lhe agradecer as companhias nas manhãs do Canal 1.
A componente JRPG é clássica, ainda que com um tom mais suavizado, mais cute e amigável. Muito mais até do que o jogo mais comparável com este cruzamento, o spinoff de Harvest Moon, Rune Factory. O problema desta comparação é que há um simplismo excessivo em toda a componente agrícola de Return to PopoloCrois. Não existe energia nem exaustão, nem a obrigação de decidir entre trabalho agrícola ou exploração, porque o tempo despendido a arar os solos e a plantá-los é muito reduzido e não conta para a gestão das horas do dia. E é notório que a componente de farming não é mais do que um fait-divers paralelo para cumprir side quests e conseguir recursos e dinheiro.
Lamento que haja alguma superficialidade na componente de farming simulator em oposição ao destaque dado ao excelente JRPG que Return to PopoloCrois: A Story of Seasons Fairytale é. Houvesse uma complexificação da área agrícola e este poderia ser uma reentrada ainda mais impactante no mercado europeu para PopoloCrois.