Post-Scriptum #3

trapgunner

Mentiria se dissesse que este jogo tivesse marcado de alguma forma a minha experiência enquanto jogador. De tal forma que os detalhes da sua aquisição são muito pouco nítidos na minha memória. A teoria com que me irei conformar se me perguntarem por ela, é que terá sido uma prenda, de anos ou de natal, de um familiar comprometido a um orçamento apertado e que agarrou o primeiro jogo em desconto que lhe apareceu à frente na loja.

O motivo que me faz escolher este jogo, não sendo o da nostalgia, é a sua terrível falta de reconhecimento apesar da sua qualidade. O esquecimento no inconsciente coletivo é tal que durante muito tempo fiquei a pensar que este jogo tinha sido um produto da minha imaginação. Foi com a democratização da internet e antes do “Perdidos e Machados” que acabei por reencontrar-me com ele e confirmar a sua onerosa existência em versões US e JP no Ebay internacional.

Mudar o título e arranjar a capa mais feia possível para a versão PAL? Check!

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Trap Gunner é um bomberman que passou a puberdade. Procura trazer um certo requinte à gestão dos explosivos e um guião maduro, cheio de estilo e obviamente completamente incompreensível… (Nível BlazBlue/Guilty Gear). Faz isso tudo otimamente e só tenho a lamentar não ter tido a oportunidade de encarar a sua sofisticação num período onde 50% do meu cérebro não era alimentado a Nutella.

Abolo Relin - A única mulher com proporções realistas da história dos videojogos

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O jogo apresenta 6 personagens equitativas em géneros e muito variáveis em carisma, cada uma com as suas especificidades técnicas e armas de predileção. Quem ouvir o “dance-soul” orelhudo do menu de seleção de personagens e as suas vocalizações 90s poderia facilmente esquecer que quase todos os que nos são dados a escolher são perigosos psicopatas de um mundo pós-apocalíptico. Quem mo disse foi essa coisa obsoleta do manual em papel que vinha com os jogos.

Esse facto poderá ter transparecido aos que dominavam o inglês na altura e percorreram o story mode mas tal não foi o meu caso. Dediquei aliás pouquíssimo tempo a esse modo optando antes por jogatanas com os amigos no versus.

Searching for luuuuvvvvvvvv

Numa arena fechada e parcialmente visível -ao contrário de um bomberman de arena proporcional ao tamanho do ecrã- a nossa personagem pode atacar o adversário no confronto físico direto com pontapés e murros ou através de uma arma de fogo. Estas opções que serão obviamente as preferidas dos neófitas – aka o primo noob – são na verdade apenas recomendáveis para perturbar o adversário e manipulá-lo no sentido de o levar a cair nas armadilhas que vamos construindo pela arena. Bombas explosivas, bombas de fumo, bombas veneno, bombas de direção… Poupo-vos a laboriosa enumeração de todas as possibilidades: para isso é que temos o Youtube. As possibilidades de combo são infinitas e o prazer de ver o convidado do dia levar com elas é o tipo de orgasmos maquiavélicos que fazem dos videojogos um lazer pouco recomendável.

Só me resta por dever de consciência esclarecer que as bombas podem ser neutralizadas através de uma espécie de QTE e que diversos objetos podem ser recolhidos na arena de forma a recuperar vida, munições e um “Deus-ex machine gun” apelidado de Unit que dispara um míssil que persegue o adversário. É tudo o que conseguirão sacar de mim no registo review convencional.

https://www.youtube.com/watch?v=XjnDXNUruWE%20

“Ba-bomp” Dennis Hopper aka King Koopa

Tudo isto para dizer que este Trap Gunner é incrivelmente divertido. Se omitirmos a problemática do splitscreen e o pecado de espiar o vizinho, não existem motivos aparentes para este jogo não ter conhecido o sucesso de outros fenómenos do registo jovial. O jogo nasceu na altura errada, onde as expectativas passavam por privilegiar novos registos em vez de aperfeiçoar os antigos. A divulgação do mesmo poderá também ter deixado muito a desejar sendo que a Atlus nunca demonstrou grande paixão em dar amplitude aos jogos que envia para a Europa. Resta, não obstante, uma oportunidade desperdiçada que mereceria, fosse este um mundo mais justo, um remake capaz de utilizar as funcionalidades online e capitalizar na nova audiência do gaming competitivo.

Depois deste jogo a Racjin acabaria por ficar com o direito de desenvolver verdadeiros Bombermans e continua até hoje em dia a ter um contributo humilde mas digno no cenário japonês através de adaptações de anime para consolas da Nintendo. Podem aliás consultar a review displicente do Ricardo de um dos seus jogos mais recentes:  Final Fantasy Explorer.