Perdidos e Machados #8

Vá lá turma, sentem-se e façam menos barulho para começar a aula…

Portanto vamos lá falar de arqueologia, e não é da nasal, particularmente feita dentro do carro enquanto esperam que o sinal vermelho mude. Arqueologia a sério.

Arqueologia requer dedicação, pesquisa, muito trabalho de biblioteca e trabalho de campo. Mas se pensam que é aquilo que vêm nos filmes do Indiana Jones, ou nos jogos Tomb Raider estão muito enganados. Não seguimos mapas, não há tesouros escondidos, e “X” nunca marca o lugar.

X

O que é preciso acima de tudo é um tema. Não se pode procurar ar, algo etéreo, é preciso um assunto tangível, nem que seja um mito para descobrir o que está por trás dele. Vamos ler este pedido:

Professor,

Nos anos 90 eu jogava numa sala de jogos perto da minha casa um beat’em up medieval tipo Golden Axe II. Tinha 3 personagens masculinos, que com o avançar do jogo alteravam o aspecto. A armadura ficava maior. Sabe qual é o jogo?

N.M. da Amadora

Bom… N.M. obrigado pelo teu contacto de pedido, antes de mais. Eu podia estar aqui a dar uma pequena base histórica de Beat’em ups, referindo jogos como Golden Axe II ou Final Fight, e também podia gastar tempo dos alunos com jogos que podiam preencher o teu pedido como King of Dragons ou Dungeons and Dragons: Tower of Doom.  Mas quando sei exactamente que jogo estás a falar, não vale a pena.

O jogo que procuras é o Knights of the Round, produzido e lançado pela Capcom em 1991

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Este jogo é construído com base no modelo testado e bem sucedido da Capcom nesta altura. Jogos como Final Fight foram dos seus maiores sucessos de arcada, e os donos delas adoravam as moedas que lá metemos. Eu devo ter pago uma ou duas máquinas por inteiro com as que lá gastei ao longo dos anos. Doi um bocado pensar nisso assim, mas não doi assim tanto.

Como disseste no teu pedido e foram as pistas necessárias para me trazer aqui, Knights of the Round tem algumas particularidades interessantes. A primeira é ter 3 personagens medievais, neste caso Arthur, Lancelot e Perceval. Mas ao contrário de qualquer jogo de arcada que tenha conhecido (talvez exista, mas tenho que procurar mais) existia um componente de leveling up. Se a máquina permitisse podia ser jogado a 3, mas regra geral era a dois, como o seu port para SNES. Matar inimigos e apanhar loot era algo que fazia subir a barra de XP dos nossos personagens, e assim eles subiam de nível e aspecto. Era algo invulgar num jogo de arcada e para a altura num beat’em up também. Darem-se ao trabalho de alterar o personagem? E não era pouco, cada um tinha 9 imagens diferentes. Claro que um jogador sozinho tinha mais possibilidade de chegar a um nível máximo porque não partilhava os pontos, mas também gastava muito mais moedas.

KotR

E tinha uma história mais ou menos decente: Arthur tira a espada Excalibur da pedra, e vai lutar contra Garibaldi pelo trono de Inglaterra. Os cavaleiros lutam contra todos, ganham, apresentam-se a Merlyn e aparece o Santo Graal e cada um dos personagens tem uma diferença no final. Que é uma cena gira. Apesar da falta de consistência histórica e mitologica ser um pouco insultuosa.

Para quem estiver interessado ele foi portado quase ao exagero. Está disponível em SNES, em Capcom Classics Collection: Reloaded para a PSP e Capcom Classics Collection Vol.2 para a PS2 e Xbox.

Podem sair e até para a semana.

Para pedidos enviem um email para joao@rubberchickengames.com com o assunto “Perdidos e Machados” e o máximo de informação que consigam sobre o jogo em questão.

Nem todos os pedidos serão respondidos, mas o Perdidos e Machados tem intenção de ser um espaço aberto aos exploradores e conhecedores de videojogos, portanto os leitores podem acrescentar hipoteses nos comentários.