O problema de se ter crescido nos anos ontem com uma tia adolescente em casa é que paras além do Mel Brooks, das comédias nonsense, dos buddy cop movies e afins que abrilhantaram os anos 1980, também os emblemáticos chick flicks foram algo que me foi impresso na mente como se eu fizesse parte do A Clockwork Orange. Mas de todos esses filmes, e muito graças à paixão adolescente da minha tia pelo Tom Cruise, o Cocktail foi aquele que eu mais vi. Tudo isto fez-me chegar a duas conclusões:

1 – Prefiro rever o Cocktail mais uma vez, e perceber que deve existir algo de sobrenatural pelo facto de que o Tom Cruise não envelheceu desde então, e que até eu, que há exactamente 1 semana fiz 31 anos já pareço mais velho do que ele.

Project x zone 2 (4)

2 – Preferia rever o Cocktail do que jogar Project X Zone 2, e que o filme do Roger Donaldson tem mais conteúdo e mais sentido que o crossover recém-lançado para a 3DS, e que os personagens de Cruise, Elizabeth Shue e afins são mais coerentes do que o que aqui encontramos.

Eu gosto de crossovers, bastante até. Do cinema à banda-desenhada há uma série de experiência que resultaram bem, e diria que o cruzamento entre Phoenix Wright e o Professor Layton foi dos melhores resultados que tivemos. Os fighting games sempre foram terreno fértil para crossovers, mas aí existia uma mais valia que tornava a aceitação destes jogos algo fácil: a suspensão da descrença. É-nos facilmente aceitável que dois universos distintos se cruzem num jogo de luta porque, regra-geral, os seus autores não querem nem têm de justificar este cruzamento. O caso muda de figura, obviamente, num RPG, em que a tónica de todo o jogo é o seu enredo, e aí ou a história é soberbamente estabelecida para manter a suspensão da descrença ou acontecem casos como este Project X Zone 2.

Project x zone 2 (3)

Project X Zone 2 é o equivalente dos videojogos a não termos muita roupa lavada disponível e termos de usar o que existe: as calças e a camisola não condizem mas também não podemos ir despidos para a rua e misturamos o que temos sem nos preocuparmos como. E já que falamos em roupa o enredo é tão denso como aquelas calças da Feira do Relógio que se rasgam nos primeiros dias de uso.

Tudo em Project X Zone 2 é pouco mais do que uma desculpa juntar dezenas de personagens proprietários da Sega, Capcom e Bandai Namco, o que resulta num dos RPGs mais genéricos que existem. Mais genérico ainda só se o seu título fosse literalmente “Tactical RPG with a shitload of characters”, como o paracetamol da 3DS. A história é martelada e pouco ou nada coesa, e o ritmo é tão terrível que percebemos que passamos mais tempo a assistir a diálogos entre os muitos (ênfase em muitos) personagens do que a jogar. E em que nem alguns diálogos interessantes e inesperados conseguem salvar o convento.

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As duas consolas portáteis principais têm recebido excelentes Tactical e JRPGs e este Project X Zone 2 não é um deles. Quem diria que o meu fanboyismo pelo Phoenix Wright e pelo Megaman não seriam suficientes para ficar agradado com isto? O que na realidade é uma tremenda falha para todo este jogo, que não passa de um tremendo fan service e um apelo ao fanboyismo de múltiplas séries. Porque qualidade, que é aquilo que se espera, tem muito pouca.