O decrescente número de jogos a terem campanhas de sucesso de Kickstarter é um indicador de várias mudanças de paradigma no passado recente do crowdfunding. Com tantos casos famosos de má-utilização dos fundos captados, a multiplicação exponencial de projectos, é normal que o dinheiro que temos disponível não chegue para financiar todas as campanhas que achamos interessantes. E quando alguns jogos mediáticos entram na discussão encavalitados na conferência da Sony, é mais do que compreensível que os indies que necessitam exclusivamente deste modelo de financiamento para executar os seus jogos acabem por ficar relegados para segundo plano.
A campanha de Blood Alloy do estúdio Suppressive Fire Games foi um desses casos de insucesso, em que o Kickstarter terminou sem conseguirem alcançar o objectivo de terminar aquilo que idealizaram inicialmente como um metroidvania. Mas ao contrário de muitos outros bons projectos que ficam pelo caminho, decidiram ressuscitar Blood Alloy, agora subintitulado Reborn, despido das pretensões originais. E o metroidvania deu lugar a um desafiante jogo de arena fechada, na expectativa de este ser apenas um primeiro passo “experimental” para a conclusão da sua ideia original.
Os primeiros segundos de Bllod Alloy: Reborn demonstram-nos de imediato algumas das mais óbvias inspirações: Strider e Mega Man Zero. O ambiente inicial de futuro-distópico, aliadas a muitas mecânicas que são rapidamente identificativas desses dois jogos (entre muitas outras influências semelhantes) e que demonstram o potencial que este jogo não chega a cumprir na totalidade. A possibilidade de escalar paredes e percorrer tectos a alta velocidade como se nos deslocássemos em carris de Maglev são uma boa adição para a grande liberdade de movimentos que possuímos, ainda que permaneçamos em ambiente fechado.
E nestes primeiros minutos percebemos também o erro fatal de Bloody Alloy: Reborn: a sua tentativa de implementação de uma lógica arcade falha pela falta de afinamento dos seus controlos. A nossa protagonista, a ciborgue Nia Rhys possui duas formas de atacar os muitos adversários que aparecem em jogo: ou através da sua espada ou com tiros do seu blaster. O problema é que dependendo da forma como estamos a jogar (com comando ou com teclado e rato) influenciará o nosso estilo de jogo. A personagem demonstrou-se muito mais fácil de controlar (à velocidade a que o jogo decorre) com o comando, e os ataques de espada e dashes funcionam na perfeição, como qualquer jogo arcade deveria. O problema é que o controlo do disparo fica excessivamente complicado, o que me forçou a usar exclusivamente a espada em detrimento dos tiros.
A banda-sonora, frenética, representa na perfeição a loucura esfuziante de todo o jogo. E qual a minha surpresa ao perceber que o português conhecido como Shiryu é parte integrante da BSO, à venda em separado no Steam? Do qual este “500 Klicks to Algarve” representa toda o electro-synth dançável que compassa o ritmo de cada salto, cada tiro e cada espadeirada de Nia Rhys.
Blood Alloy: Reborn precisa urgentemente de ter os seus comandos refinados, sob pena de fadar ao insucesso um jogo cujas mecânicas e o dinamismo antevêem o que poderá ser um excelente metroidvania um dia.