Ratchet Clank 2016 (2)

Regra geral as palavras remaster e remake fazem-me algumas alergias, como se fizessem despontar pruridos cutâneos que me obrigam a coçar involuntariamente. E sinto isto porque sempre considerei que esta abordagem a uma obra pré-existente deveria ser utilizada de forma comedida, e apenas nos casos que verdadeiramente se justificassem. Infelizmente, a última década demonstrou que esta era uma solução simples para o mercado do cinema, literatura, televisão, e muito especialmente os videojogos, que facturaram milhões na passagem de gerações ao converter ou a republicar jogos em alta-definição. Este é um caminho que me parece inócuo, mercantilista até na sua maioria das vezes. Mas felizmente há excepções.

A PlayStation 2 foi palco para um dos melhores catálogos da história dos videojogos. Este é um ponto-assente, inquestionável, e que motivou inclusivamente aqui no Rubber à criação de uma rubrica dedicada ao seu catálogo (e ao da PS1). Para mim, enquanto fã dos jogos de plataformas, houve terreno fértil para progredir numa passagem inteligente do género para a tridimensionalidade, depois de algumas experiências na PlayStation 1 cuja qualidade se foi deteriorando com a passagem do tempo. Jax and Daxter, Sly e Ratchet and Clank foram as jóias da coroa desta melhorada visão sobre os jogos de plataformas. E entre os 3 era óbvio que o mundo futurista cartoonizado de Ratchet and Clank acabou por ser a minha preferência pessoal.

Ratchet Clank 2016 (1)

Depois de um tremendo sucesso comercial e crítico dos diversos jogos lançados nestes quase quinze anos de série, Ratchet and Clank vai ser rebooted para a nova geração, num período que coincidirá com a chegada de uma adaptação cinematográfica ao grande ecrã. E depois de ter jogado quase tudo o que existe com o o simpático Lombax de seu nome Ratchet e o pequeno infobot que o acompanha, o simpático Clank, receber o convite para jogar uma antevisão deste reboot criou-me um misto de desconfiança e curiosidade.

Quero reservar-me o direito de analisá-lo quando puder jogá-lo de fio a pavio, mas a sensação generalizada que tive ao jogar cerca de trinta minutos deste Ratchet and Clank é que quinze anos é realmente muito tempo quando olhamos para a evolução do mercado de videojogos. Tanto que ao chegar a casa fui automaticamente jogar o jogo original para comparar ao que tinha acabado de jogar e percebi que há tanto que aproxima ambas as versões como o que as afasta.

Ratchet Clank 2016 (3)

Este novo jogo da Inomniac Games segue uma tendência criativa crescente dos videojogos AAA dos últimos anos, que se centra na demarcação de um ritmo narrativo mais próximo do cinema do que o que estávamos habituados, por exemplo, aquando do lançamento do jogo original. O jogo demonstra hoje ter muito mais da máxima show don’t tell do que os seus primórdios, e convenhamos, este é um sinal positivo da maturação dos videojogos enquanto obra e do aumento dos meios de produção que o suportam. O tom e o ritmo são esses mesmos, a demarcação de uma linguagem visual, e de dinâmicas de cinema de animação que são a tónica para este Ratchet and Clank. O esplendor visual, a atenção aos pormenores que preenchem os diversos planos da imagem, fazem deste jogo a melhor abordagem de filme de animação num formato de videojogo que o mercado mainstream nos trouxe nos últimos tempos..

Digo isto, pelo menos nesses mesmos trinta minutos em que decidi eu mesmo parar de jogar. A imersão na história e a forma como os momentos jogáveis são intercalados deram-me vontade de jogar ininterruptamente. Estar a prolongar a antevisão seria estar a estragar a possibilidade de o jogar e de reconhecer o enredo quando a versão final for publicada. Por agora prefiro ficar com esta excelente primeira impressão do reboot de Ratchet and Clank. Fica apenas a dúvida se o filme conseguirá captar a essência do videojogo, da mesma forma como o videojogo conseguiu captar a ambiência do filme de animação.