Pokkén Tournament (2)

No campo das hipóteses há uma série de perguntas que nos surgem e que nos transportam para outras realidades, muitas delas alternativas à nossa. “É possível que a política seja feita de ideais e não de interesses pessoais?”. “E um mundo em que a televisão servisse como plataforma cultural e não como entorpecedor colectivo?”. “E um cruzamento entre Pokémon e Tekken?”. Três hipóteses e duas delas a soarem desconexas com a terceira, não só pelo tom mas também pela exequibilidade. As duas primeiras são altamente improváveis (com uma probabilidade a aproximá-las do impossível) e a terceira já aconteceu. É estranho, mas aconteceu mesmo.

Quando pensamos em fighting games relacionados com Pokémon é normal  que pensemos automaticamente nesse meio-caminho percorrido que foram Colosseum e Arena, que não são, como sabemos, próximos disso. Pokkén Tournament é fielmente um fighting game, ainda que muito mais simples na sua execução e aplicação do que Tekken.

Pokkén Tournament (4)

A primeira estranheza com Pokkén Tournament foi a sua mecânica bi-fase durante o combate. Como fighting game tridimensional da Bandai que é, a sua fase inicial (apelidada de Field Phase) decorre de forma aberta na arena, em que os ataques à distância provocam maior dano. Com a câmara mais ou menos sobre o ombro, podemos deslocar o nosso personagem pelo ringue em qualquer direcção, na tentativa de desgastar o adversário antes de provocarmos (ou ele provocar) a mudança de fase. Alguns ataques provocam mesmo esta mudança de Field Phase para Duel Phase, em que o próprio jogo nos impele a um combate corpo-a-corpo mais próximo. A câmara desloca-se da vista sobre-o-ombro para uma falsa bidimensionalidade e os ataques à distância perdem o seu impacto, dando lugar a um reforço dos ataques de proximidade. Depois de algum dano disferido ou de alguns ataques específicos, a fase retoma para Field Phase até que o ciclo seja novamente iniciado em loop até terminar o combate.

Como habitué de fighting games achei curiosa esta mecânica de alternância entre fases e a gestão que temos de fazer da barra de sincronismo entre o Pokémon e o treinador (do qual já falaremos) e das nossas barras de suporte. Mas, após jogar largas dezenas de combate acabei sempre por ficar com a sensação de que esta dualidade interna de fases e de abordagens dentro do próprio combate soavam mais a gimmick do que a uma novidade per se. Por tudo o resto que demonstra em todo o jogo, Pokkén Tournament não seria nem melhor nem pior sem esta característica. E disso tenho a certeza.

Pokkén Tournament (3)

À semelhança de Street Fighter V, também Pokkén Tournament dispõe apenas de 16 lutadores mais uns pares de Pokémon como suporte, cujas mecânicas funcionam tal-e-qual a fórmula da Capcom. Após a passagem de um cooldown é-nos possível invocar um Pokémon para efectuar -nos um buff ou um ataque ao adversário, como forma de colmatar algumas fraquezas do nosso personagem.

O sincronismo entre o treinador e o Pokémon materializam-se aqui também na forma de uma barra que quando activada passa o nosso personagem para um Burst Mode. Para além das estatísticas aumentadas, este modo permite-nos também disferir um ataque poderoso como finale deste boost. Estatísticas estas que podem ser aumentadas por nós sempre que o nosso lutador sobe de nível. Apesar de ser um fighting game a componente RPG não poderia ser descurada não é?…

Pokkén Tournament (5)

Dos 16 lutadores disponíveis acabei por escolher o mais óbvio para me acompanhar no modo de história. Apesar de altamente cliché, pareceu-me que optar pelo bípede Lucario como parceiro era o melhor compromisso que poderia ter entre um jogo de Pokémon e um fighting game. É que desengane-se quem achar que Pokkén Tournament é uma amável suavização pueril do género. Pokkén é um jogo de pancada, puro e duro, mais duro do que puro até, com combos simples, mas muito combate táctico a trazer o que de melhor o género viveu (e vive) nas arcadas. Não é por acaso que a primeira plataforma de lançamento de Pokkén foram mesmo as máquinas de arcadas.

Porém, parece-me que o nível de dificuldade que aqui o jogo apresenta é demasiado fácil para o que um jogador de fighting games está habituado. Tanto é que fiz muitos combates até ter um primeiro que me tivesse feito suar. E parece-me que esta excessiva facilidade é algo que os próprios donos de salões de jogos se queixam das versões de arcadas. É que lá se o jogo for demasiado fácil não há desafio, e também não há moedinhas a entrarem pela ranhura.

O melhor: óptima passagem de Pokémon para jogo de luta; mecânicas fluídas; visualmente soberbo

O pior: com 720 Pokémon disponíveis é normal que esperássemos um elenco mais alargado

Acima de tudo Pokkén Tournament conseguiu atingir um bom equilíbrio entre um jogo de e com Pokémon e o que se esperava da sua migração para um fighting game. Há sem sombra de dúvida jogos do género muito superiores no mercado actual, dos quais os jogos da Arc System Work são possivelmente os melhor-executados. Não sendo soberbo, este jogo da Nintendo/Bandai Namco é uma óptima tradução da famosa série da Game Freak em jogo de luta e apresenta-se como um bom passo para o que poderão fazer no futuro com a série. Porque todos sabemos que esta é apenas a primeira de muitas iterações que hão de vir.