Michael Scofield sabia que as possibilidades de encontrar Rick Grimes vivo na cama do hospital da prisão eram ínfimas. Desde que os pacientes zero da pandemia zombie começaram a manifestar-se na assim não tão recôndita prisão de Sona, que a Humanidade tem caído em direcção ao extermínio, uma pessoa de cada vez.

O plano estava todo delineado, mas agora a grande dificuldade era mesmo entrar no estabelecimento prisional. Estivéssemos a viver no período anterior ao apocalipse zombie e ser preso era algo relativamente simples. Mas agora, com a estrutura judicial inexistente com o total colapso da sociedade, entrar numa prisão de alta segurança é uma missão mais perigosa do que lá sair.

É claro que falar em perigo é um eufemismo. O perigo existe em todo o lado. Num momento em que o número de vivos é muito inferior ao de mortos-vivos, o simples facto de termos batimento cardíaco é um sinal de perigo per se.

Scofield preparou o plano de sobrevivência com a máxima de cautela. Pela sua carreira conhece o mapa da prisão-hospital de trás-para-a-frente, não obstante o facto de tê-lo tatuado pelo seu corpo inteiro, não fosse a adrenalina e o pânico de um ataque zombie toldar-lhe a memória.

Depois de encontrar Rick, e se ele estiver vivo e consciente Scofield e ele terão de organizar uma pequena resistência para manterem vivas uma chama de esperança quando a morte parece o caminho possível. E infelizmente, o mais provável.

O porquê da importância de Rick Grimes para esta missão é pouco importante. Diríamos até que no maior ponto de honestidade devemos indicar que é apenas um plot point para conseguir cruzar estas duas séries de sucesso.

The Escapists Walking Dead

Parece improvável a possibilidade de termos um crossover entre Prison Break (que voltará à TV em poucos meses) e a multimilionária série The Walking Dead, mas quem sabe se um dia será possível. O dinheiro fala mais alto, não nos esqueçamos. Este enredo é fictício, mas pode muito bem vir a ser uma realidade dentro em pouco.

Há largos meses atrás falámos de um jogo genial chamado The Escapists, que à falta de melhor comparação era um curioso jogo que representava o quotidiano do nosso personagem na vida prisional e a tentativa de nos evadirmos. Um Prison Break numa estética pixel retro, e muito menos aborrecida do que a famosa série com Wentworth Miller se tornou.

O jogo foi um tremendo sucesso crítico e comercial como todos devem ter percebido, e com todo o mérito. The Escapists é comprovadamente o fruto de um trabalho minucioso e apurado do estúdio Moldy Toof Studios. A decisão de incorporar todas as mecânicas de sobrevivência de The Escapists num ambiente circunscrito de uma prisão, e o quão bem essa vivência era “jogada” transitou muito mal para o reskining feito com The Escapists: The Walking Dead.

The Escapists Walking Dead (1)

Mais do que tudo é essa a terrível imagem que sentimos desde logo: a que este standalone não é mais do que um reskin do jogo original com a franquia de The Walking Dead, que é sabido puxar muita atenção mediática.

The Escapists funcionava com o mindset de termos um enredo não-linear, de nos deslocarmos ao sabor do vento e de termos de desenvolver algum engenho para conseguir encontrar uma forma de escapar da prisão. TE:TWD tentou adaptar todas essas mecânicas de forma errada a um jogo que tentasse acompanhar a vida de Rick Grimes por três níveis que representam mais-ou-menos os momentos emblemáticos da série.

Aqui todas as tarefas diárias que acontecem no dia-a-dia rotineiro da vida prisional é traduzido por uma necessidade de manter o grupo de sobreviventes, e o falhanço em algumas dessas tarefas significará que a percentagem de zombies aumentará e que na contagem de cabeças do final do dia teremos perdido alguns sobreviventes.

The Escapists Walking Dead (2)

Mas o grande problema com TE:TWD é o facto de que este é literalmente um puzzle game com as mecânicas de The Escapists. O que a priori parece exequível mas que na prática ficou aquém do que poderia ter sido. A excessiva proximidade com o jogo base acabou por criar algumas constrições a todo o jogo que o prejudicam.

Acima de tudo, e infelizmente para os fãs de The Escapists, este standalone acaba por mostrar-nos que um bom jogo pode não ser suficiente para funcionar de base para adaptação para qualquer franquia que lhe valha. A intenção foi boa, mas o jogo carecia de um maior afastamento do original para funcionar. Até porque as mecânicas do jogo original estavam centradas com um foco específico: a evasão. Este novo jogo tem exactamente o inverso: sobreviver entre-portas. Parece uma pequena diferença, mas não é. E é nesse intervalo que recai todo o erro do jogo.