Demorámos para digerir esta notícia. Acredito, aliás, que para muitos jogadores esta decisão anunciado há largos meses pela EA tenha surgido como um murro no estômago. Enquanto escrevo este artigo já a Maxis Emeryville fechou portas há muito, mas faltou-me fazer-lhe o devido luto. É sabido que o mercado dos videojogos é assim, e em extremo, é assim que o mundo económico funciona. As empresas nascem, vivem e morrem, e o seu legado, se existir, permanece e/ou é absorvido dentro da propriedade de outra empresa maior que a adquira.

Saber da notícia da extinção da Maxis é dura, pelo peso histórico que o estúdio (ex-editora) teve na história dos videojogos. Fundada em 1987 pelos dois históricos developers Will Wright e Jeff Braum, a Maxis serviu de rampa de lançamento (literal) para o SimCity original. Daí até à compra pela EA em 1997, a história da Maxis independente foi recheada de sucessos e insucessos, mas a grande aposta da fusão entre a editora e a gigante norte-americana acabou por ser The Sims.

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Para além de ser um dos jogos mais vendidos de sempre, The Sims conquistou novos jogadores para o mercado, tornando-se um óptimo gateway game para um público essencialmente feminino que descobria (ou redescobria) o PC gaming através do fortuito simulador de vida que conquistou milhões por todo o mundo.

Depois de Spore e das grandes apostas já nesta década em torno de mais um SimCity e mais um The Sims, que apesar de terem sido medianos sucessos comerciais, acabaram por fragilizar muito a confiança do público para com o estúdio.

Acredito que a expansão Get Together e o pack Romantic Garden Stuff tenham servido de quase canto de cisne para o estúdio da Maxis. Ainda que a EA garanta que os dois últimos produtos da Maxis (SimCity e The Sims 4) continuem a ter desenvolvimento posterior, há muito que se perde com esta extinção e reintegração dos funcionários do estúdio em tantos outros da Electronic Arts.

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Apesar de parecer um cliché, há algo de verdadeiramente intrínseco à visão romântica que tenho do mundo empresarial e que se ajusta na perfeição à consequência que esta extinção tem. Com quase trinta anos de idade, os muitos funcionários que ainda compõem hoje o estúdio possuem experiência acumulada e são parte da história dos videojogos. Foram o motor de marcos emblemáticos da área e que, ainda que com altos e baixos, constituem alguns dos grandes exemplos de jogos que marcaram a nossa memória colectiva.

As propriedades intelectuais da Maxis continuam legalmente acauteladas dentro do portefólio da EA, mas e as pessoas que fizeram dos jogos com o prefixo Sim um sucesso? Os developers que conhecemos na E3 e na Gamescom de 2014, ano do lançamento de The Sims 4, que com paixão falavam do jogo que criaram desde 2000 e que mantêm com todo o carinho até esta quarta iteração. Gente talentosa que com paixão dedicou parte da sua vida e carreira a séries e franquias que ajudaram a redefinir a nossa indústria. As Propriedades Intelectuais permanecem, os estúdios desaparecem, mas o valor criativo humano deveria ser mantido e se possível estimulado. The Sims I SimCity continuarão, e os seus criadores? E não falo apenas dos nomes emblemáticos, mas das muitas pessoas que ajudaram a fazer das franquias o que elas são, para o bem e para o mal. Perder-se-ão por entre fileiras de outros funcionários anónimos nos muitos projectos disparados pela gigante Electronic Arts?