Abordando já o elefante na sala, ou no caso de Way of the Samurai 3 esquartejando-o com um corte único de uma katana bem afiada, este jogo da Spike Chunsoft que chega alguns anos depois ao PC denota o desfasamento tecnológica da sua origem. Não que exista para mim qualquer problema no visual amplamente datado deste jogo, mas há uma série de desadequações e desactualizações técnicas amplamente notórias nesta que é a prequela de Way of the Samurai 4. Não fossem estes factores e certamente Way of the Samurai 3 seria um dos mais interessantes jogos em mundo-aberto não-lineares do mercado actual.
Admito alguma injustiça na minha pré-avaliação. A extrema ambição de não-linearidade prometida para este Way of the Samurai é fielmente aplicada e sentimos que as nossas acções têm implicações reais no decorrer do jogo. Sendo isto verdade e os mais de 20 finais distintos apregoados pelos seus developers são perfeitamente alcançáveis, fazendo de cada gameplay uma experiência diferente entre diversos jogadores e entre gameplays.
A definição do efeito borboleta, em que pequenas acções têm repercussões pelo restante enredo. Comparando (ainda que de forma lata) com GTA, que é em muitos aspectos o benchmark para os jogos de mundo aberto. Mas as consequências, como sabemos, não são permanentes. A polícia persegue-nos por dado crime, e só parará caso consigamos escapar ou se formos capturados. E aí a história do crime é apagada e passamos a ser mais um anónimo pela cidade. Em Way of the Samurai mesmo as pequenas decisões têm um tremendo efeito sobre os restantes personagens. Num período político conturbado (o Período Sengoku do Japão) a forma como reagimos perante os outros NPCs indicará como será a nossa vida no resto da história.
O simples desembainhar da espada perante um personagem que nos interpela pode definir logo uma série de alianças ou inimizades que definirão o nosso percurso pela região ficcional de Amana. O mundo e o enredo de WotS3 são tão abertos que podemos definir a forma como viveremos na região. Para além do nosso passado e as nossas alianças na guerra que antecede o jogo não estarem estabelecidas, é-nos possível escolher um caminho honrado de Samurai ou de pacifismo diplomático, ou ainda uma vida de crime e desonra como um criminoso. E tudo isto depende de como interagimos com os restantes personagens, nas opções de diálogos que escolhemos, e na forma como reagimos perante o resto da aldeia.
À semelhança do que fiz em muitos jogos de mundo-aberto com “alinhamentos” semelhantes, decidi começar a ser a fonte de violência e crime de Amano, o que me trouxe uma postura de quase-ataque à primeira vista pelos samurais dos senhores feudais da região. Até os aldeões têm uma postura diferente para connosco, e respondem-nos de forma cautelosa ou através da recusa em comunicar.
Way of the Samurai 3 é um excelente exemplo da aplicação da não-linearidade num videojogo. A complexidade do jogo torna-o dificílimo de mergulhar (por inércia da espécie de “tutorial” que apresenta), e este entrave foi algo que eu próprio senti por nunca ter jogado nada da série. Mas a partir do momento em que nos conseguimos orientar (mesmo com a ausência de mapa) WotS3 transforma-se numa excelente experiência altamente personalizável, facto que sentimos pelas armas que vamos construindo para se ajustarem ao nosso próprio gameplay. O combate – simples, mas altamente adaptável – é apenas um destes sinais.
Se o visual deixa muito a desejar, em especial os muitos cenários que parecem vazios, ao nível de composição musical e de voice acting o jogo consegue submergir-nos da melhor forma no ambiente do Japão feudal.
Com muitas missões e ainda mais side quests, muitas delas compostas por um ligeiro tom de humor que é mais um sorriso do que uma gargalhada, Way of the Samurai 3 é dos mais complexos exemplos de causa e efeito em não-linearidade num videojogo. Todas as nossas pequenas acções irão decerto alterar algo no resto da nossa jornada. E percebe-se que o mercado AAA tem muito a aprender com a forma como os developers da Acquire e da Spike Chunsoft desenvolveram Way of the Samurai 3.