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E pelos no peito. Nunca esquecer os pelos no peito. Especialmente eu que por alguma informação genética familiar tenho o corpo quase todo coberto por pêlos, como se eu precisasse de me proteger das agruras das intempéries ou dos mosquitos nas cavernas. Alguém devia ter dado informação ao meu código genético de que o Ser Humano já evoluiu para além disto.

Admito que o uso de The Hunger Games era uma forma mais directa de chamar à atenção para que jogo temos em mãos. Reconheço a cultura de quem nos segue, e portanto vou mergulhar na forma mais directa de enquadrar The Culling o jogo onde temos estado a derramar e a jorrar o nosso sangue. Este jogo dos mesmos developers de Lichdom: Battlemages é uma das melhores interpretações do genial Battle Royale, o filme baseado na obra homónima de Kōshun Takami.

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Mas talvez por sinal do mediatismo dos filmes adaptados dos livros de Suzanne Collins acabe por influenciar mais a linguagem deste The Culling. A arena, ainda que pareça aberta, existe dentro de uma redoma invisível. No céu, sempre a pairar presente está o scoreboard, que mostra quem morreu e pelas mãos de quem. Também os sinais sonoros em forma de petardo que anunciam quando é que chegam reabastecimentos em forma de caixotes, de onde podemos obter instrumentos que nos permitam sobreviverem o máximo de tempo possível.

Há cerca de três anos existiu um excesso de jogos ao estilo de DayZ e Rust, que apesar do perigo iminente dos zombies e outras criaturas, tinham nos jogadores humanos o maior perigo. The Culling é isso mesmo, mas depurado, em formato espectáculo televisivo. O nosso personagem, ou os itens que possui não vão além dos vinte minutos em que decorre cada ronda.

The Culling (2)

Curiosamente, esta falta de sobrevivência a longo prazo acaba por aumentar ainda mais a nossa necessidade de sobreviver (passando a redundância). Sabemos que estamos numa arena, a caçar e a ser caçados, e tudo temos de fazer para conseguir ser o único jogador vivo.

Na minha primeira ronda acabei por ficar nos últimos três jogadores sobreviventes. Ainda meio que tactear os comandos e o espírito do jogo, tive a sorte de ir em linha recta em direcção a um dos muitos edifícios abandonados que existem no mapa. Lá dentro, por sorte, encontrei uma soqueira dentro de um cacifo, apenas segundos antes de ser surpreendido por um jogador que tinha apenas os punhos para se defender. Iniciámos uma cena de pugilato mas a minha soqueira acabou por desferir mais dano do que os punhos nus dele, e acabei por matá-lo ali mesmo. Nessa mesma sala encontrei uma espingarda de alarme, e que apesar de não provocar dano aos inimigos acabou por salvar-me da morte certa. Ainda enfraquecido pelo combate decorrido há segundos, um novo jogador surpreendeu-me enquanto vasculhava os armários do edifício, e acabou por fugir a sete pés quando apontei a espingarda de alarme para ele. Nenhum de nós os 2 sabia que a arma não provocava dano. E ainda bem, enfraquecido como estava seria a minha morte certa.

The Culling (1)

A seguir decidi tomar uma postura mais defensiva e esperar que os restantes jogadores se matassem entre si. Comecei a vaguear silenciosamente pela vegetação, com as costas voltadas para a redoma invisível que limita a arena. Ia olhando para o céu, com frequência e via que o número de jogadores diminuía com frequência, entre mortes e suicídios. Sim, os suicídios involuntários são possíveis, por exemplos e activarmos um explosivo ou as cortinas de fumo tóxico e formos atingidos por eles.

Os últimos minutos de jogo contabilizavam-se e apenas três jogadores restavam, eu e mais três. Por sorte (depois percebi que por azar) um dos caixotes de abastecimentos caiu perto de mim e corri para investigá-lo. Nos poucos segundos em que tive o inventário aberto a verificar o loot da caixa um jogador apareceu por trás e esventrou-me com uma faca artesanal. O meu jogo terminou ali.

The Culling (3)

Ao contrário de outros jogos de sobrevivência, The Culling parece evidenciar-se por algumas decisões simples que transformam a sua experiência em algo mais “real” (ênfase exacerbada nas aspas). O facto de que temos um tempo e um espaço limítrofes em cada ronda declara um maior sentido de caçador-e-presa e coloca uma grande tónica na necessidade de zelarmos pela nossa (única) vida.

O outro pormenor reside nas ferramentas de crafting aqui existentes. Há algo de verdadeira sobrevivência selvagem em termos de manufacturar as nossas armas de forma rudimentar, quase pré-histórica, com pedras e paus. Construir facas com seixos, arcos e flechas com paus e pedras, e lanças da mesma forma, acabam por transmitir-nos uma sensação de sobreviver a todo o custo, com o que temos disponível. Existem armas de fogo e moto-serras e afins disponíveis como loot aleatório, mas o facto de conseguirmos atacar e defender com armas tão rudimentares dá a The Culling um sabor completamente diferente quando comparado com os seus concorrentes.

The Culling (2)

O combate é um pouco mais do que o mero ataque de botão-direito de todos os jogos do género. Aqui podemos desviar-nos e ripostar dos ataques dos adversários, empurrá-los ou desarmá-los, tornando as nossas possibilidades mais tácticas do que o mero button mashing do rato.

Ainda em Early Access, The Culling conseguirá manter os seus jogadores interessados se conseguir criar um número crescente de receitas para itens diferentes e que mantenham as possibilidades abertas de forma a não tornar o jogo repetitivo. Mas de uma forma mais contida e pela sua circunscrição, The Culling serve melhor o género do que os muitos survival games em mundo aberto.