Não é frequente, ou pelo menos não era, que os fighting games tivessem uma carga narrativa tão complexa. Desde os primeiros tempos em que me dediquei  aos jogos de luta que eles viviam de uma despretensiosa forma de existir: pouco era justificado, e muitas vezes uma ou duas linhas de texto chegavam para enquadrar aquilo que ali estávamos a fazer: um festival de pancadaria.

É claro que os videojogos evoluíram enquanto peça cultural, e salvo algumas excepções de jogos do género puramente de arcada, e agora parecemos ter caído no extremo oposto todo e qualquer jogo, independentemente do género ou da casualidade precisa de uma raison d’être. Até o mais pequeno e gratuito puzzle game para o Facebook que as nossas tias jogam necessitam ali de uma imitação de enredo para compaginar o próprio jogo.

Xblaze Code Embryo (2)

É claro que BlazBlue, do qual recentemente falámos está num espectro completamente oposto. É possível, e exequível para um jogador que deseja apenas usufruir da componente essencial, o jogo de luta, fazê-lo, mas a complexidade do enredo e do setting de BlazBlue é comparável ao de uma série de manga shonen, tornando-o num caso sui generis nos jogos de luta.

Ao contrário do que se pode esperar, XBLAZE Code: Embryo não é um jogo de luta mas sim a primeira prequela em visual novel da famosa série da Arksys. Apesar de ter saído em 2013 (no Japão) e em 2014 (no território norte-americano) é a vez de chegar agora ao Steam para todo o mundo. O grande problema desde XBLAZE é simples: como visual novel não está no mesmo patamar de qualidade e interesse que muitos outros congéneres que têm chegado ao mercado ocidental pelas mãos da NISA. E está muito abaixo da qualidade que BlazBlue nos habituou.

O posicionamento desta prequela que circunda em torno de Touya Kagari, um estudante de liceu tornado investigador por uma série de eventos que decorreram na sua região. Comparando com outras visual novels (em que obviamente Phoenix Wright é um excelente exemplo), Touya acaba por ser um protagonista desinteressante e bidimensional, vivendo excessivamente dos personagens à sua volta para “existir”. As personagens, para ser mais exacto, porque XBLAZE insere-se num espírito de harem anime (como a série da nossa adolescência Tenchi Muiyo) em que um jovem desajeitado vive com imensas personagens femininas que disputam a sua atenção.

Xblaze Code Embryo (1)

Code: Embryo dispõe de diversos finais diferentes e que dependem de algumas decisões que fazemos durante o jogo. Estas ramificações são aqui apresentadas pelo conhecimento que o protagonista tem, ou seja, que artigos (aqui denominados TOIs – Technologies of Interest)* leu e que mecanicamente servem como desbloqueadores de narrativa, e que o aproximam das personagens femininas que compõem o jogo.

XBLAZE Code: Embryo permite-nos uma difícil tarefa: conhecer melhor toda a longa história que acompanha os magistrais BlazBlue desde a sua criação. Não sendo sublime, é uma visual novel interessante obrigatória para todos os fãs da série de jogos de luta.

* perceberam agora o trocadilho do título?