Em que 2 frentes não é uma metáfora para a hiper-sexualização da série

Colocando em contexto: a série Neptunia tem sido um tremendo sucesso comercial no Japão e desde que a NISA e a Idea Factory trouxeram a série para o Ocidente (para consolas e PC respectivamente) há cada vez mais jogadores a dedicarem tempo a esta peculiar franquia.

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Há quase um ano que me debruçava sobre o primeiro jogo da série, onde achei curiosa a forma meio alegórica de representar a guerra das consolas através de um JRPG. Citando-me, para contextualizar: em Hyperdimension Neptunia conhecemos o mundo de Gamindustri, dividido em quatro regiões Planeptune (alusão clara à Sega Neptune), Lastation, Lowee e Leanbox (perfeitamente auto-explicativas) onde quatro deusas lutam entre si para obter market shares dos seus países, e em que cada uma delas representa respectivamente uma consola de cada uma das marcas metaforizadas. Neste misto de rivalidade/companheirismo tão típico das narrativas anime, com personagens a apelar ao fan service e ao exageros que fazem as delícias de todos os otaku, as quatro Deusas (CPUs, no original, que significa Console Patron Units) e as respectivas sidekicks lutam com inimigos comuns, em especial Arfoire (alusão aos flashcards de NDS que permitem jogar jogos piratas), cujo objectivo é derrotar as protagonistas e governar Gaminustri. Nada de novo a Oriente. Apenas a necessidade de ilibar qualquer uma das personagens e respectivas paródias às marcas reais, criando um opositor cujo objectivo é destruir o status instalado da benéfica (?) Guerra de Consolas. E esse inimigo comum é a pirataria.

Até aqui tudo ok, as metáforas não são propriamente complexas mas existe alguma piada na primeira vez que contactamos com este mundo. É sabido que existe uma hiper-sexualização típica, um fan service óbvio que ajudou a trazer a série para a primeira linha, mas para mim não é esse o problema actual da série. O problema centra-se no excesso de lançamentos que têm acontecido em torno da série, dos quais Fevereiro e Março deste ano foram os pontos altos.

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Dia 12 de Fevereiro chegou para PS4 Megadimension Neptunia VII, o quarto jogo da série principal e que divide a história em três partes distintas, que correspondem a dimensões paralelas da história. Cada uma destas três partes funciona quase individualmente como jogos separados. A história é sequencial e tem como capítulos Zero Dimension Neptunia Z: Twilight of the Desperate CPU, Hyper Dimension Neptunia G: The Golden Leaders, Reconstructors of Gamindustri e Heart Dimension Neptunia H: Into Legend.

Infelizmente a boa premissa da Guerra das Consolas e a forma como as diversas personagens acabam por ser desenvolvidos (ou não-desenvolvidas) determina o erro que o próprio jogo acaba por ter e que significa uma grande desilusão para o jogo. Ainda que o enredo subdivido represente uma boa estrutura que consegue dar algum interesse a este cruzamento entre visual novel e JRPG, Megadimension não consegue dar o passo em frente do excesso de fan service que aplica no seu desenvolvimento, e que acaba por ter a metáfora da situação da industria de videojogos deitada por terra.

Há apenas semana e meia foi lançado no Steam Hyperdimension Neptunia U: Action Unleashed, que tinha sido lançado em Maio passado na PS Vita e que corresponde um dos grandes saltos qualitativos da série, neste spinoff que de muitas formas se afasta da espinha dorsal de Hyperdimension.

A primeira diferença é que ao contrário de muitos dos jogos da série este não foi desenvolvido pela Compile Heart mas sim pela Tamsoft, responsável por esse caso de sucesso que é Senran Kagura. O que denota de imediato um balanceamento em direcção a um jogo de acção do que a um JRPG.

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Com esta quase saturação que a série começa a ter (e que eu acho que a Compile Heart deveria colocar uma pausa nos lançamentos para deixar a franquia respirar) esta mudança de tom acaba por funcionar em prol de Hyperdimension. Apesar da alegoria de que falei, é óbvio que o conceito (cuja alegoria continuo a defender como interessante) colide com o desenvolvimento do enredo (que cai excessivamente na sensualização pela sexualização). Despir o jogo de quase toda esta carga acaba por dar-lhe uma diversão mais pura, muito próxima da acção quase mindless que Senran Kagura corresponde. E é um dos factores mais evidentes da mão da Tamsoft.

Portanto para além de toda a paródia em torno da Guerras das Consolas o essencial que fica é mesmo as hordas incontáveis de inimigos que vamos matar em combos over-the-top, com animações exageradas que nos remetem para os jogos de arcada onde nos sentíamos uma espécie de super-humanos ao derrotar dezenas de inimigos de uma só vez. Quase como em Dynasty Warriors mas com menos um dígito de mortes.

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A Guerra de Consolas precisa de uma pausa, tanto no mundo real e mediático, como no enredo de Hyperdimension Neptunia. Penso que será mais simples encontrar novas abordagens como as de Action Unleashed se dermos algum distanciamento à série. E quem sabe se as potenciais notícias deste ano da NX e afins não serão um bom gancho para um jogo futuro? Mas que seja lançado apenas para o ano, porque para este já estamos servidos desta franquia que chegue.