Como é que dois substantivos juntos podem evocar as melhores memórias das nossa adolescência? E não falo apenas de palavras como “Verdade” e “Consequência” ou “dançar” e “slows” (sim, ainda dancei lentamente e agarradinho no meu baile de finalistas ao som de Richardo Marx e Eric Clapton). As Aventuras Fantásticas são um marco introdutório aos RPGs, e muita gente contactou com combate com dados pela primeira vez graças a esta série de Ian Livingstone, cujo título original é Fighting Fantasy.

Mas o tema desta semana não são RPGs, e muito menos as adaptações a videojogo/livro interactivo que a série Aventuras Fantásticas tem tido. O tema desta semana são jogos de aventuras, três neste caso, e que demonstram três distintas abordagens ao género.

 

Ter medo em pixels

A Season 2 de The Last Door foi recentemente lançada e continua o extremo ponto de qualidade da primeira temporada, do qual falámos há algum tempo já (e o tempo miraculosamente voa sem que nos apercebamos disso). Se na Season 1 desta peculiar aventura-gráfica conhecemos a vida de Devitt, nesta sequela é o seu psiquiatra John Wakefield  que assume o manto do protagonista.

Last Door

Home foi o primeiro jogo do género que joguei, nesta nouvelle vague de aventuras point-click de terror que têm surpreendido pela capacidade de imersão. Possivelmente ninguém acreditaria há dez anos atrás que um jogo com um exímio tratamento em pixel art conseguiria representar na perfeição o ambiente de terror de Poe e Lovecraft, mas The Last Door poderá ser o epítome deste aperfeiçoamento retro-artístico do terror.

The Last Door – Season 2 continua a excelência da narrativa e da pixel art, a trazer-nos um ambiente lovecraftiano de melhor qualidade do que muitos jogos em alta definição tridimensional.

 

A vida paralela de Al Capone

O exercício de conceber História paralela é desafiante, excitante e tem sido um dos recursos frequentes da literatura Fantástica, que reinventa caminhos possíveis para a Humanidade. O caminho que o estúdio A Crowd of Monsters enveredou foi o de reimaginar a vida de dois personagens da História recente e desenhar um nuvo rumo para que as suas histórias se voltassem a cruzar.

Neste jogo vivemos a pele de Eliot Ness, o famoso detective pertencente ao grupo intitulado The Untouchables e que ficou na memória global como o responsável por conseguir colocar o célebre mafioso Al Capone na prisão. Mas em Blues and Bullets (o nome do jogo e o nome do bar propriedade de Ness), Capone volta a encontrar-se uns anos depois com o homem responsável pela sua captura não para se vingar, mas para lhe pedir ajuda para encontrar a sua filha Sofia que foi raptada.

Blues and Bullets

O primeiro episódio deste Blues and Bullets deixava antever algumas potencialidades narrativas no seu estilo aventura policial noir. Mas infelizmente, por inexperiência, falta de capital ou tempo, as falhas do primeiro episódio mancharam ligeiramente a aventura.

O salto qualitativo para este segundo episódio é gigantesco, e perfeitamente notório desde o primeiro segundo. O ambiente noir está ainda mais aprimorado, e o storytelling durante toda a aventura mostra um ritmo bastante interessante e que nos mantém em suspense sobre o paradeiro de Sofia.

Curiosamente, com um orçamento muiats vezes inferior ao de The Order 1886, Blues and Bullets consegue criar de melhor forma a transposição enredo/aventura do que o multimilionário jogo da Ready at Dawn. A comparação quase que é injusta para The Order

 

Indiana Jones realmente Ind(Y)ie

O mítico personagem de Spielberg/Lucas/Kaufman interpretado por Harrison Ford (e pelo malogrado River Phoenix) definiu um estereótipo de personagem, e o pináculo dos heróis da aventura para as nossas gerações (nota paralela: continuo sem ter visto o mais recente filme).

Lara Croft e Nathan Drake são os seus filhos ilegítimos mais óbvios, criados à imagem desse pai unânime que povoa o imaginário de milhões de pessoas pelo mundo fora. Mas não são os únicos. Entre outras tentativas mais e menos conhecidas, temos Adam’s Venture (cujo trocadilho não é assim tão subtil) e que já conta com cinco iterações no mundo dos videojogos.

Adam's Venture Origins

É claro que a comparação do mais recente Adam’s Venture Origins com os gigantes da Naught Dog ou o da Eidos não só é injusto como acaba por fazer-nos esquecer o esforço que deverá representar lançar este jogo com um orçamento muitíssimas vezes inferior.

Adam’s Venture Origins foi agora lançado para as consolas de nova geração e PC e demonstra o seu grande foco na exploração e na resolução de puzzles, ao bom estilo de um Indy Jones do mercado indie. Faz-nos lembrar dos tempos em que Tomb Raider dedicava mais tempo a resolver puzzles do que a matar lobos, morcegos e mercenários como um qualquer jogo de acção.