Quando falamos da tremenda quantidade de twinstick shooter roguelikes que chegam aos escaparates semanalmente, facilmente diríamos que pouco há para inovar. E é possível que esta nossa afirmação seja verdadeira, e que dentro de todos os jogos do género com um visual retro haja pouco para diferenciar. Mas há uma grande margem para fazê-lo muito bem. Enter the Gungeon é um desses exemplos.

Enter the Gungeon (1)

Em Enter the Gungeon podemos escolher entre um elenco de quatro personagens (os Gungeneers) que terão de desbravar a Gungeon e defrontar os Gundead para encontra a arma que pode matar o passado. Tudo isto vestidos de calças de Gunga, a controlar a sua Gunância enquanto sonham com a Gunadaria do Tio Guntónio. Isto é tudo verdade até à arma que mata o passado, o resto é parvoíce minha.

As animações e os concepts que compõem os personagens de Enter the Gungeon são de imediato um elemento diferenciador em relação a tantos outros roguelikes que usam assets comprados e que que toda a gente usa e que têm chegado ao Steam como cogumelos selvagens ou como sapatos de vela num congresso da JSD. Ao contrário dos habituais settings de dungeon crawlers que piscam um ou os dois olhos à fantasia medieval, EtG traz-nos  para um ambiente curioso onde quase todos os inimigos são elementos antropomórficos relacionados com balística, e ver balas com pernas e óculos escuros a disparar saraivadas de tiros contra nós não é algo incomum de ser.

Enter the Gungeon (3)

Enter the Gungeon é o sonho molhado de qualquer ‘muricano que imagina as possibilidades que uma bala com boca podem ter. Duas paixões em uma? Certamente!

Uma grande curiosidade deste curioso dungeon crawler twinstick shooter é ter enveredado por um caminho de bullet hell. E porque rotular coisas é uma diversão generalizada podemos afirmar que EtG é um retro dungeon crawler roguelike twinstick shooter bullet hell. Esta definição não só soa bem como é altamente especificadora do que por aqui acontece, e quase que sumariza a quantidade de vezes em que morremos. É que entre ter o ecrã repleto de balas onde queremos desesperadamente “passar pelos intervalos da chuva” com a nossa muito-oportuna cambalhota no chão que nos deixa invulneráveis por instantes ainda temos a mecânica de recarregar a arma que dificulta ainda mais um jogo que só por si não é pêra doce nem do Oeste. Mas é uma pêra dura de roer, mas sumarenta, e ainda que um pouco ácida lá consegue demonstrar a sua doçura por entre mordidelas. Relembro que ainda estamos a falar de fruta.

Por entre mais de 200 itens e armas disponíveis para encontrarmos pelos seus níveis processualmente gerados, e uma série de boss fights interessantes que têm personagens tão curiosos como uma águia hiper-musculada com uma gattling gun ou um casal de balas (quem disse que as balas não amam?) há uma série de pequenos pormenores que demonstram a qualidade e a atenção ao detalhe que compõe Enter the Gungeon.

Enter the Gungeon (2)

Um dos roguelikes mais interessantes e desafiantes a chegar aos PC e à PS4, e que traz o selo constante de qualidade da Devolver Digital, e mais um jogo que vai definindo a estética e o tom dominante do estúdio norte-americano, para além do humor gritante e inteligente que compõe tantos pequenos pormenores que poderiam facilmente passar despercebidos.