Pre Scriptum: Pedimos desculpa pelo atraso deste Post Scriptum, mas o seu autor ficou preso na Dark Hour – a vigésima quinta hora do dia a que só alguns selectos têm oportunidade de experienciar e só conseguiu voltar um dia depois. Isso, ou comeu demasiado takoyaki a noite passada.
Há séries que marcam uma geração de consolas. Desde a primeira Playstation que a série Shin Megami Tensei (apelidada de MegaTen pelos fãs) estava presente numa consola da Sony, mas foi na Playstation 2 que ela teve a sua maior presença com uma lista numerosa de spin-offs, da qual a mais bem sucedida foi a série Persona. Shin Megami Tensei: Persona 3 foi um ponto de sucesso marcante para a série, que até então tinha desfrutado de um sucesso modesto na PS1, e que a colocou no alto patamar dos jogos “a não perder” da PS2.

A versão Europeia do jogo tem a melhor capa de todas as versões, ponto final. Porquê? É a única capa que tem a Mitsuru Kirijo presente. É tudo uma questão de bom gosto.
Até então (2008) a série Persona ainda não tinha sido lançada na Europa, tendo visto apenas o lançamento acontecer na América do Norte para a PS1 com Revelations: Persona – o primeiro jogo da série – e com Persona 2: Eternal Punishment – a segunda metade do segundo jogo da série (que sofreu um grande número de alterações devido à decisão da Atlus em não lançar Persona 2: Innocent Sin, a primeira metade do segundo jogo, no Ocidente devido à temática Nazi e inspiração no Chthulhu Mythos – * SPOILER ALERTEN * no fim de contas, a batalha final desse jogo coloca os nossos heróis numa luta contra Hitler e Nyarlathotep).

Eu disse * SPOILER ALERTEN * acima, não disse?
Para a maioria do público europeu, Persona 3 foi o primeiro título da série que conheceram e é, ainda hoje, aquele que apresentam a par da sua sequela, como o(s) jogo(s) de referência da série. Com a substituição de Kazuma Kaneko pelo seu discípulo Shigenori Soejima, a série assumiu uma orientação artística mais colorida e “anime-ish” que os jogos anteriores, que tinham personagens mais pálidas, mas mantendo um traço semelhante ao do seu mentor.
Neste jogo as personagens são estudantes de liceu (já diz a trope que 80% dos animes feitos passam-se em liceus ou têm personagens com idade para andar no liceu) e o nosso protagonista silencioso é um estudante recém-chegado que foi convocado para integrar o grupo SEES, “Specialized Extracurricular Execution Squad”, um conjunto de jovens capazes de invocar personas: deidades que representam manifestações físicas da sua alma e personalidade. O seu objectivo é investigar a Dark Hour, a 25ª hora do dia que quase todos os humanos não se apercebem que existe e durante a qual o mundo humano se funde com um mundo de sombras maléficas – humanos normais são invisíveis às sombras, mas aqueles que são capazes de invocar personas estão conscientes da existência dessa 25ª hora e são potenciais alvos das sombras. O que distingue o nosso protagonista dos membros restantes do SEES é o facto de conseguir invocar várias personas diferentes, de forma polivalente. Curiosamente ou não, a forma de invocar personas consiste em apontar uma espécie de pistola à cabeça e disparar, como se estivessem a cometer suicídio – para alguns isto pode parecer fixe ou engraçado, para outros (como eu) isto pode parecer emo/juvenil/parvo – mas este é apenas um pequeno detalhe que não tira de todo o mérito do jogo, história e personagens no seu todo.

Ya, meu. A vida não presta. Vou-te mostrar a minha persona. Chama-se a Raiz da Morte, da Tragédia e da Dor. Ela representa o grito silencioso de todas as plantas que são consumidas diariamente por vegans no mundo inteiro.
Persona 3 é interessante porque não só coloca o jogador no controlo do protagonista enquanto este tem de investigar a Dark Hour e Tartarus, uma torre enorme que surge durante essa hora no liceu (onde mais haveria de ser?) durante a noite, mas também obriga o jogador a tomar responsabilidade pela vida de estudante do protagonista durante o dia. De forma mais concisa, durante a noite combatem-se sombras, durante o dia desenvolvem-se Social Links – os elos sociais entre diferentes pessoas da escola e da cidade que vão ditar o tipo e nível de personas a que temos acesso ao longo da história. Para desenvolver Social Links é necessário termos bons relacionamentos, sermos bons estudantes, comprarmos presentes e termos bom timing e poder de decisão sobre que locais visitar e a que hora do dia. De certa forma, as tarefas diurnas quase se assemelham a uma visual novel ou a um dating sim, devido ao facto do que nós dizemos ou fazemos ser de grande influência para as pessoas que nos rodeiam e de podermos vir a namorar alguém ao longo do desenvolvimento do seu Social Link.

Emo YOLO is Emo.
Os labirintos gerados aleatoriamente e o sistema de combate também dão que falar. Os labirintos em cada andar de Tartarus são diferentes de cada vez que jogamos, tirando nos andares predefinidos onde há portais e bosses, e o sistema de combate é polido e fluido, onde é possível explorar as fraquezas dos inimigos e ganhar ataques extra com isso (isto é algo recorrente nos jogos MegaTen). Existem bosses secretos/opcionais, como Death, um monstro que aparece aleatoriamente ou quando já estamos há muito tempo no mesmo andar de Tartarus. Esse monstro persegue o grupo até o apanhar, e quando o apanha inicia um combate do qual é necessário fugir, pois ele provavelmente consegue matar o grupo com um só golpe e só é possível defrontá-lo em pé de igualdade perto do final de jogo, com um grupo bastante bem equipado e desenvolvido.

Ah, Mitsuru… Errr, onde é que eu ia?
Persona 3 foi um jogo marcante que praticamente criou um nicho específico na PS2, capaz de agradar a gregos e troianos, onde se encaixam jogadores que vão desde a velha guarda até a fãs de manga e anime. A sua reedição pouco tempo depois do lançamento do original, sob o nome Persona 3 FES que continha uma história alargada em várias horas e um epílogo, marcou o início de uma era rica em sequelas de sucesso, em que o nome Shin Megami Tensei passou para segundo plano e foi desaparecendo dos títulos dos seus jogos, e à sua frente passou a figurar apenas um nome: Persona.